Ministro da Saúde pede a empresários que repensem publicidade na imprensa 'que não contribui com o Brasil'

Queiroga reclama de ter sido fotografado sem máscara na chegada de doses da Covax; ele diz que arrumava a proteção

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Brasília e São Paulo

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse em evento nesta segunda-feira (3) que parte da imprensa "não contribui com o Brasil" em meio à pandemia e sugeriu a empresários que repensem a publicidade nesses veículos. Ele não citou nomes.

A crítica foi feita quando o ministro comentava ter sido fotografado sem máscara ao acompanhar a chegada de doses da Covax Facility neste domingo (2). Ele diz que a imagem foi publicada fora de contexto e que tirou a proteção apenas por um momento para ajustá-la.

"Tenho pregado o uso de máscaras, e a sociedade é testemunha. Ontem [domingo] tirei a máscara para dar esse nó [mostrando a máscara e o nó feito no elástico para ajustar]. Aí um jornalista de um veículo de comunicação fotografou e disse lá: 'Ministro da Saúde chega sem máscara'. Vai chegar o momento em que vamos desmascarar essas pessoas que não contribuem com o Brasil, até parte da imprensa", afirmou Queiroga.

"Não sei com que motivação querem fazer isso para motivar a discórdia. Seria bom que vocês da iniciativa privada e que fazem publicidade nesse tipo de comunicação repensassem essas estratégias", completou.

A declaração ocorreu em evento na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) com empresários da área da saúde.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chega sem máscara ao Aeroporto de Guarulhos (SP) para receber carregamento de vacinas, neste domingo (2)
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chega sem máscara ao Aeroporto de Guarulhos (SP) para receber carregamento de vacinas, neste domingo (2) - Bruno Santos/Folhapress

No encontro, o ministro também reclamou ter sofrido críticas nas redes sociais ao citar, em declarações anteriores, frases de autoria do médico e ex-ministro Adib Jatene, informação que teria sido contestada. Neste caso, ele não especificou a que frases se referia.

Alguns especialistas, no entanto, já apontaram que o ministro tem atribuído a Jatene a frase "Curar quando possível; aliviar quando necessário; consolar sempre", a qual é tida como de Hipócrates, o pai da medicina.

"Parem com essas coisas, e vamos ajudar o Brasil", afirmou Queiroga, dizendo ter levado a foto de Jatene ao seu gabinete, a quem considera exemplo na saúde e na medicina.

Ao tomar a fala durante o debate, um dos empresários disse que a publicação sobre a máscara poderia ter ocorrido devido a casos recentes de ex-ministros. Recentemente, o ex-ministro Eduardo Pazuello foi fotografado em um shopping de Manaus sem a proteção.

"Vamos convencer o jornalista de que isso não é moda de ex-ministro", afirmou a Queiroga, antes de perguntar sobre planos do governo para o incentivo a indústrias.

Sobre a fala de Queiroga, a presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Maria José Braga, disse que é "estratégia deste governo descredibilizar a imprensa".

"Infelizmente, o ministro da Saúde não destoa do governo que ele atende. Mais uma vez, um integrante deste governo faz uma fala restritiva à imprensa. O governo busca atingir a imprensa através da questão econômica, como já fez com a MP que muda a publicação de balanços em jornais. É estratégia deste governo descredibilizar a imprensa."

"É lamentável que em pleno Dia Mundial da Liberdade de Imprensa um ministro incentive a retaliação econômica contra veículos por discordar da cobertura jornalística da pandemia", afirmou o presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Marcelo Träsel.

"A imprensa cumpre seu papel de informar à sociedade sobre as ações dos gestores públicos e, se há poucas notícias positivas, a responsabilidade é inteiramente do governo que o ministro representa e sobretudo da sua própria pasta", acrescentou.

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) informou que não vai se manifestar sobre o caso.

Ao pedir isso a empresários, Queiroga repete estratégia do presidente Jair Bolsonaro.

Logo em seu primeiro ano de governo, em tom de ameaça à Folha, por exemplo, o presidente disse que os anunciantes do jornal "devem prestar atenção". "Não vamos mais gastar dinheiro com esse tipo de jornal. E quem anuncia na Folha de S.Paulo presta atenção, está certo?", disse.

Em outra ocasião, o presidente ampliou as ameaças à Folha e disse que boicota produtos de anunciantes do jornal. Ele ainda recomendou à população não comprá-lo.

"Eu não quero ler a Folha mais. E ponto final. E nenhum ministro meu. Recomendo a todo Brasil aqui que não compre o jornal Folha de S.Paulo. Até eles aprenderem que tem uma passagem bíblica, a João 8:32. A imprensa tem a obrigação de publicar a verdade. Só isso. E os anunciantes que anunciam na Folha também."

"Qualquer anúncio que faz na Folha de S.Paulo eu não compro aquele produto e ponto final. Eu quero imprensa livre, independente, mas, acima de tudo, que fale a verdade. Estou pedindo muito?", disse, em entrevista na porta do Palácio do Alvorada, diante de um grupo de apoiadores.

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