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Ação da PRF infla xenofobia contra Nordeste em grupos pró-Bolsonaro

No Telegram, eleitores repetem onda de ataques vista na apuração do primeiro turno

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São Paulo

As operações nas estradas feitas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), que podem ter causado atraso na votação deste domingo (30), foram exaltadas em grupos bolsonaristas de Telegram. A defesa da polícia, entretanto, também descambou em ataques xenófobos contra eleitores do Nordeste, de onde saiu parte dos relatos negativos sobre as blitze policiais.

No Telegram, o assunto gerou frases como "por mim, pega fogo naquela região inteira, nordestino povo podre", "estão fazendo operação no Nordeste em diversas rodovias com barricadas, segurando diversos ônibus de pessoas isoladas kkkkkkk elas que se lasquem" e "nordestino é bravo, se não recebe, vota no outro de raiva".

"A galera aqui do Nordeste que vota no Nine [Lula] agora está nas redes sociais alegando que a PF e a PRF não estão deixando eles votarem. Reduto de petralhas idiotizados", "ainda bem que a PRF está proibindo os nordestinos de votar, estão salvando nosso país" e "nordestino vota com estômago" são outros exemplos. Um dos bolsonaristas afirmou que eleitores do Nordeste votam no PT por inveja dos parentes que saíram de lá "e proliferaram no Sudeste".

 Operação na BR-324 na cidade baiana de Jacobina; a Polícia Rodoviária Federal descumpriu ordem do TSE e realizou ao menos 560 operações de fiscalização contra veículos que transportavam eleitores
Operação na BR-324 na cidade baiana de Jacobina; a Polícia Rodoviária Federal descumpriu ordem do TSE e realizou ao menos 560 operações de fiscalização contra veículos que transportavam eleitores - Augusto/Rede Bahia

Após vários relatos de eleitores e 70% mais abordagens do que no primeiro turno até o início da tarde, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, afirmou que nenhum eleitor foi impedido de votar por causa de operações, que serão investigadas.

A polícia descumpriu o veto dado na noite anterior às ações envolvendo o transporte público de eleitores.

No Nordeste, prefeitos criticaram operações em estradas federais nas proximidades de cidades do interior. Na Bahia, a coligação liderada pelo candidato a governador Jerônimo Rodrigues (PT) também ingressou com uma ação na Justiça Eleitoral denunciando a realização de blitze em rodovias federais em ao menos três cidades e pedindo a prisão do Superintendente da Policia Rodoviária Federal no estado.

Eleitores bolsonaristas, incluindo vários influenciadores de redes sociais, relacionaram diretamente as ações da polícia a uma eventual compra de votos do PT, em especial no Nordeste.

"Milhões já foram apreendidos nos últimos dias pela PRF, que seriam usados em compra de votos. Esquerda quer estender horário de votação no Nordeste para dar vantagem a Lula. Não podemos aceitar!", escreveu Leandro Ruschel, em mensagem que foi muito circulada no Telegram.

A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) também afirmou que havia denúncias de que eleitores da região estariam recebendo dinheiro e lanche para ir votar.

"Em todas as eleições, o PT sempre comprou votos, sobretudo no Nordeste. Neste ano, a PF resolveu atuar com excelência", disse um eleitor. "A PRF sinceramente ganhou um lugar muito especial no meu coração", afirmou outra. "Vamos ganhar, amigos. Alexandre de Moraes acabou de falar que vai deixar a PRF continuar a fiscalização."

Durante a apuração dos votos no primeiro turno, bolsonaristas iniciaram uma onda de xenofobia contra nordestinos nas redes sociais. Um estudo do InternetLab mostrou que, de uma amostra de 1.060 tuítes que mencionava palavras ligadas à região e seus eleitores, 13,4% afirmavam que o resultado do pleito no Nordeste foi fraudado. Cerca de 160 publicações eram xenófobas.

A pesquisa identificou narrativas comumente usadas para atacar o voto dos nordestinos, como alegações de que eleitores da região não sabem votar ou de que são manipulados pela esquerda e pelo PT.

Segundo o estudo, que analisou apenas o Twitter no dia seguinte ao primeiro turno, cerca de 20% das publicações que mencionavam os termos "nordestina/o", "Nordeste" e outros léxicos representaram ataques contra eleitores da região.

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