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Marina muda tom e agora flerta com a base de Lula
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BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
A chegada de um operário ao poder tirou 25 milhões de pessoas da pobreza e mostrou que é possível crescer com distribuição de renda.
O presidente Lula não precisa de um opositor, mas de um sucessor que saiba reconhecer suas conquistas e fazer o país avançar mais.
O povo brasileiro perdeu o medo de ver um Silva no Palácio do Planalto.
As ideias acima podiam estar numa cartilha petista, mas foram apresentadas nas últimas duas semanas pela candidata do PV à Presidência, Marina Silva.
Depois de iniciar a campanha com críticas duras ao governo, ela mudou o tom e adotou um discurso mais ameno, valorizando as semelhanças com o ex-chefe.
A guinada foi discutida na cúpula verde, após pesquisas mostrarem que a senadora começava a ser vista como uma figura de oposição ao líder mais popular da história recente do país.
OUTRA SILVA
Desde o dia 10, quando elogiou o presidente pela redução da pobreza na convenção do PV, Marina investe para aproximar sua imagem à de Lula --cujo governo tem aprovação recorde de 76%, segundo o Datafolha.
Aliada do petista em suas cinco campanhas presidenciais, ela tem ressaltado pontos em comum de suas trajetórias. Os dois têm origem pobre, driblaram a fome e entraram na política ao lado dos movimentos sociais.
O flerte com o eleitorado lulista ganhou um esboço de slogan no dia 16, quando a senadora disse, na sabatina da Folha, que "as pessoas que votaram no Lula vão continuar votando num Silva, só que na Marina Silva".
Na quinta-feira, ela brincou com neologismos eleitorais da política mineira para sugerir que espera o voto de quem aprova o presidente.
"O pessoal está fazendo junções e criando nomes exóticos, como Pimentécio e Dilmasia. Eu nem preciso disso, porque já sou naturalmente Silva", afirmou.
A senadora disse à reportagem que "o povo aprendeu a não ter medo dos Silvas". "Passaram anos assombrando que o Silva não dava certo, mas agora o pessoal perdeu o medo."
O aliado Airton Soares defende a guinada no discurso: "Marina sabe o potencial eleitoral da marca Lula. Por isso tem procurado mostrar sua proximidade com ele".
Para o ex-deputado, ela deve aproveitar a popularidade presidencial por ter integrado o governo até 2008. "Marina seria uma sucessora mais natural de Lula do que a Dilma", provoca ele.
Questionada, a candidata disse não ter mudado sua avaliação do governo com fins eleitorais. "Não tenho elogiado mais. Nunca fiz diferente do que estou fazendo. Mas, à medida que tenho mais espaço, isso vai aparecer mais", justificou.
A convenção do PV marcou a entrada de outro elemento novo no repertório de Marina, que pediu orações para que o "Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre", no Planalto.
Em setembro de 2009, ela afirmou à revista "Veja" que seria "oportunismo" explorar na campanha o fato de ser "mulher, negra e de origem humilde". Anteontem, disse não ver contradição entre as duas declarações.
"Obama não negava que era negro, não teve que fazer um curso de Michael Jackson para ser presidente. Não posso negar minhas raízes e minha trajetória humilde. Mas não vou usar isso para polarizar a disputa", prometeu.
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