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Sérgio Dávila: Dilma pode; o que fará?
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SÉRGIO DÁVILA
EDITOR-EXECUTIVO DA FOLHA DE S. PAULO
Os norte-americanos vão hoje às urnas renovar parte de seu Congresso. Se as pesquisas estiverem corretas, a oposição republicana deverá conquistar a maioria na Câmara dos Representantes (deputados federais), atualmente nas mãos da situação democrata, e chegar perigosamente perto do equilíbrio no Senado.
Sem a "supermaioria" -60 dos 100 assentos do Senado, maioria simples na Câmara- com que contou em parte dos dois primeiros anos de mandato, o democrata Barack Obama deve ver sua agenda reformista empacar. Historicamente, nos EUA, presidentes estreantes perdem cadeiras nas primeiras eleições legislativas que enfrentam.
Obama prometia ser diferente também nisso. Só que não previu a persistência da crise econômica que herdou de seu antecessor, o republicano George W. Bush, crise que teima em manter o desemprego na casa dos 10%. Hoje, 1 em 5 norte-americanos em condições de trabalhar está parado em casa.
Parte dessa multidão ociosa vira alvo fácil de discursos mais radicais como o do Tea Party, que tem sua estrela na ex-governadora do Alasca Sarah Palin. Esse movimento de direita tenta grudar em Obama a responsabilidade por tudo de ruim que acontece no país. Deve ajudar a virar três cadeiras democratas no Senado para os republicanos.
Mas só a economia e as patacoadas de Palin não explicam tudo. Barack Obama presidente é vítima de Barack Obama candidato. "As expectativas [criadas pela campanha] eram impossivelmente altas", disse ontem um graduado assessor obamista ao jornal britânico "Guardian".
É o oposto do que aconteceu com Dilma Rousseff, eleita no domingo por 55,8 milhões de brasileiros. Seu desempenho na campanha foi tão mediano, as propostas tão ausentes, as promessas tão vagas, que só se pode esperar que ela seja melhor presidente do que foi candidata.
Assim como Obama, Dilma governará um país em que, até outro dia, pessoas iguais a ela sofriam forte discriminação.
Também como Obama, Dilma terá a caneta e o Congresso nas mãos -mas terá mais poder. Nos EUA, funciona o sistema de freios e contrapesos criado para inibir a gula do Executivo. No Brasil, a Presidência da República é o maior partido político de fato, e os outros Poderes tendem a gravitar em direção a ela.
Em seu discurso de agradecimento, anteontem à noite, Dilma exortou os pais a dizer às filhas "Sim, a mulher pode!", adaptando o mote da campanha obamista "Yes, we can!" ("Sim, nós podemos!", em inglês).
De fato, Dilma poderá. Resta saber o que "a mulher de Lula" fará com esse poder.
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