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Russomanno diz que maioria dos sem-teto com transtorno mental é violenta; especialista discorda

Zanone Fraissat - 18.ago.2016/Folhapress
SAO PAULO/SP BRASIL. 18/08/2016 -O candidato a prefeitura de SP, Celso Russomanno visita feira livre no Bairro do Limao.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, PODER)***EXCLUSIVO***
O candidato à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, visita feira livre no Bairro do Limão

O candidato à Prefeitura de São Paulo Celso Russomanno (PRB) afirmou na última quinta-feira (1) que "na maioria das vezes", moradores de rua que têm "problema de deficiência mental são violentos dentro de casa". A declaração contrasta com a opinião de especialistas e com estudos disponíveis sobre o assunto.

"Esses moradores de rua que têm problema de deficiência mental, eles são, na maioria das vezes, violentos dentro de casa. Você precisa criar políticas públicas para essas pessoas, mostrando às famílias como tratá-las, que remédio que eles precisam", disse o deputado em entrevista à rádio CBN.

"O doente mental é uma pessoa violenta em determinados momentos. Ele agride e quebra as coisas dentro de casa, e as famílias, por não terem políticas públicas para tratamento dessas pessoas, acabam expurgando elas do seu lar", explicou.

Para Dartiu Xavier da Silveira, professor de psiquiatria na Unifesp, a declaração não encontra comprovação na literatura científica sobre o assunto.

"Nunca vi um estudo com esse recorte. Parece uma declaração sem comprovação", afirma. "Existe um mito de que quem sofre de transtorno mental é violento, mas isso é uma minoria que não passa de 5% dos casos", diz.

Silveira admite que comportamentos violentos podem levar pessoas com transtornos mentais à situação de rua, mas que não é possível afirmar que esse seja o caso da maioria dos sem-teto portadores de algum distúrbio psiquiátrico.

Uma tese de doutorado da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz) publicada em 2000, também contradiz o deputado.

A pesquisa realizada com moradores de albergues no Rio de Janeiro, apontou que, dentre os entrevistados com distúrbios mentais, apenas 12,5% tinham "hostilidade" como uma de suas características, enquanto 4,2% apresentavam "comportamento destrutivo". Em outras palavras, longe de ser maioria.

Na mesma pesquisa, as taxas para moradores de rua sem distúrbios mentais era de 10,1% e 1,6%, respectivamente.

OUTRO LADO

À Folha, Russomanno afirmou os dados citados são de uma comissão especial no Congresso que analisou a situação de moradores de rua em São Paulo. A reportagem pediu que a assessoria do deputado fornecesse os dados do estudo, mas não foi atendida.

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