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Russomanno usa dados descontextualizados de mortes no trânsito para atacar Haddad

Carlos Pupo/Folhapress
O candidato pelo PRB a Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Celso Russomanno, faz campanha nas ruas do bairro de Santa Cecilia na região central da capital paulista, nesta quinta-feira (1º).
O deputado federal Celso Russomanno, faz campanha em Santa Cecilia, no centro

O candidato a prefeito Celso Russomanno (PRB) usa dados descontextualizados de mortes no trânsito para atacar a gestão Fernando Haddad (PT).

"Os números da Secretaria [de Estado] da Segurança mostram que não houve diminuição nas mortes por acidentes", disse, durante agenda de campanha em Santo Amaro (zona sul de SP). Ele diz que pretende aumentar novamente os limites nas marginais Tietê e Pinheiros, além de investir mais em educação de trânsito.

Ele acusou a gestão Haddad de falsificar os dados. "Os números do secretário [municipal] de Transportes [Jilmar Tatto, do PT] são números dele, não dos engenheiros técnicos da CET [Companhia de Engenharia de Tráfego], não são reais. Ele rasgou os relatórios e colocou números que ele queria colocar", afirmou.

Russomanno se baseia em dados do Infosiga, um sistema do governo estadual que contabiliza as mortes no trânsito com base em boletins de ocorrência. A CET também utiliza os boletins, mas cruza com dados do IML (Instituto Médico Legal), excluindo, por exemplo, casos de pessoas que se acidentaram em outras cidades, mas morreram em hospitais em São Paulo.

O candidato apresenta dados de 2015 para provar a tese de que as mortes não caíram após a redução de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, que começou a vigorar em julho daquele ano.

Ele compara os meses do mesmo ano, antes e depois da diminuição da velocidade. Por exemplo, a variação de julho para agosto daquele ano foi de 86 para 90 mortes, segundo os dados estaduais usados por Russomanno.

Especialistas orientam que mortes sejam sempre comparadas com o mesmo período de anos anteriores, devido à questão da sazonalidade –a quantidade de carros na rua em cada mês é influenciada por diversos fatores, como as férias escolares em julho, quando diminui o tráfego.

Comparando o mesmo período do ano, a base de dados estadual usada por Russomanno também mostra queda de mortes antes e depois da redução da velocidade nas marginais.

De janeiro a julho de 2015, antes da redução do limite nas marginais, foram 685 mortes. No mesmo período de 2016, foram 542 casos. A redução é de 21%.

A CET só dispõe de dados até abril de 2016. Comparando de janeiro a abril de 2015 e 2016, a queda foi de 29%.

O diretor da CET, Tadeu Leite, afirma que o critério usado pela companhia é mais refinado que a contabilização apenas dos boletins de ocorrência. "É o mesmo método utilizado há 40 anos pela companhia", afirma ele, que trabalha no órgão desde 1977.

Várias entidades da sociedade civil, como o Movimento Não Foi Acidente, pedem que Russomanno, Marta Suplicy (PMDB) e João Doria (PSDB) desistam de aumentar o limite de velocidade se forem eleitos. Eles afirmam que a eficácia na questão da velocidade é "inquestionável".

Entre os principais candidatos, apenas Haddad e Luiza Erundina (PSOL) pretendem manter os limites de velocidade nos patamares atuais.

OUTRO LADO

Questionado posteriormente sobre os dados, Russomanno afirmou que "usou como exemplo um ano só". "No segundo semestre, quando houve diminuição da velocidade, não diminuíram as mortes", afirmou o candidato. "Eu estou dizendo que seis meses com a velocidade menor não diminuíram as mortes", disse.

Mesmo por esse recorte proposto deputado, que não é considerado ideal pelos especialistas, houve menos mortes no segundo semestre de 2015 do que no primeiro. Foram 599 mortes de janeiro a junho, contra 520 de julho a dezembro –média de casos mensais caiu de 99,8 para 86,6.

Sobre a diminuição das mortes no primeiro semestre de 2016, o candidato afirmou que deve ser levada em conta a crise, que ajudou a tirar carros da rua. "A quantidade de carros caiu sensivelmente, quantos carros a menos foram vendidos? Qual é a situação da frota que está na cidade de São Paulo em relação ao período anterior?"

A respeito dos questionamentos sobre a metodologia, ele afirmou que cada um faz a comparação da forma que julgar mais adequada.

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