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Relação institucional com Temer prevalecerá, diz Jandira Feghali

Divulgação
A Candidata a Prefeita do Rio Jandira Feghali faz panfletagem na Praça das Nacoes em Bonsucesso ao lado de Edson Santos Vice e a Ex-Governadora do Estado do Rio de Janeiro Benedita da Silva. Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
A candidata a prefeita do Rio Jandira Feghali durante panfletagem

A deputada federal Jandira Feghali (PC do B), 59, afirmou que conseguirá manter "relações institucionais" com o presidente Michel Temer (PMDB) ainda que considere o impeachment que o levou ao poder um golpe.

"Quem vai sair da urna sou eu. Quem me deve respeito é o Temer, um governo que não foi eleito. A relação institucional vai prevalecer", afirmou ela nesta segunda-feira (26) em entrevista à Folha.

Apesar disso, ela diz ter dúvidas até da conclusão do mandato do presidente.

"O nível de contradição que ele enfrenta, e a inexistente sustentação na sociedade podem levar a um golpe dentro da própria estrutura dele para fazer uma eleição indireta pela Câmara."

Ex-secretária de Cultura na gestão Eduardo Paes (PMDB), a candidata afirma que o prefeito mudou seu estilo no segundo mandato. "Passou a tomar muitas decisões elitistas, conservadoras. Interrompeu o diálogo."

*

Folha - Lula ainda é um bom cabo eleitoral Feghali nessa conjuntura?
Jandira Feghali - É a maior liderança popular desse país. Não há quem eu conheça que não veja o que está acontecendo como uma perseguição política errada. Principalmente depois daquele espetáculo desmoralizador daquele procurador. Aquilo desmoralizou a ação e demonstrou claramente a tentativa de cerco e aniquilamento político ao Lula. Está claro para a sociedade.

A denúncia do MPF tem alguns pontos objetivos. Fala da reforma do triplex supostamente do Lula e a guarda de seus bens pessoais bancadas pela OAS. A sra. está satisfeita com as explicações dadas pelo ex-presidente sobre esses fatos?
Ele já apresentou todas as explicações. Quem tem que provar é quem acusa. Neste caso está absolutamente comprovado que a casa não é dele, o sítio não é dele.

E a guarda dos bens?
Não tenho detalhe disso. Até o onde eu sei, ele guardou no tal do sítio.

Não, ele guardou num depósito pelo o qual a OAS pagou R$ 1,3 milhão para manter.
Não sei se é verdadeiro. Nunca ouvi o Lula falar disso.

Com vai funcionar sua relação com a gestão Michel Temer se o considera um golpista?
Quem vai sair da urna sou eu. Quem me deve respeito é o Temer, um governo que não foi eleito. Na soberania do voto popular, se ela for respeitada no Brasil, a relação institucional vai prevalecer. Eu vou fazer o que Flávio Dino [governador do Maranhão] fez. Ele foi o governador que mais se expôs contra o golpe e vai com o governo federal assim como qualquer outro governador vai. Espero sinceramente que qualquer governo de qualquer nível for tenha o comportamento que Lula e Dilma tiveram com todos os prefeitos. Não deixaram de enviar recursos independente da legenda partidária.

As transferências voluntárias muitas vezes dependem de uma relação política.
O que é um erro. Lula e Dilma mandaram dinheiro para todos os prefeitos e governadores independente do partido.

A aliança política com o PMDB do Rio foi um dos motivos da cidade ter recebido tantos recursos nos últimos dez anos.
Um fator foi esse, a governabilidade. Diferente do [ex-governador Anthony] Garotinho, que só batia, a aliança possibilitou a construção de projetos comuns. Mas ela não mandou só porque tinha uma relação política. [Foi] Com projetos na mesa. Confio muito na minha capacidade de articulação política, inclusive nacional. Quem tem que ser respeitada sou eu que fui eleita. E vou exigir respeito. Garotinho batia e não tinha projeto para apresentar. O [ex-prefeito] César Maia não ia receber o presidente quando ele vinha aqui.

A sra. vai receber o presidente Michel Temer quando ele vier à cidade?
Não tem como não fazer. A minha relação institucional será de uma prefeita eleita. Agora, a sociedade pode se manifestar. Hoje ele só tem 1% [de apoio] no Rio. A minha dúvida é se ele se mantém até janeiro.

Por quê?
O nível de contradição que ele está enfrentando, e o nível inexistente de sustentação na sociedade pode levar a um terceiro golpe dentro da própria estrutura dele para fazer uma eleição indireta pela Câmara. Seria uma terceira fase do golpe.

A sra. vê uma articulação do tipo?
Para mim isso está programado há muito tempo. Se eles tiverem a chance de tirar um cidadão que não pode nem andar na rua, não bota faixa presidencial, anda de carro fechado, não chega a lugar nenhum que é vaiado... É um governo ilegítimo e insustentável. Estou alertando para essa possibilidade.

Como a sra. vê a proposta de teto de aumento de gastos?
O impacto será enorme. Não cabe mais a política de valorização do salário mínimo, não cabe novos aposentados, o que induz a reforma da Previdência, não cabe estatal e desconstitucionaliza o gasto na saúde e educação. Costumo dizer que é o governo sem voto com orçamento sem povo.

O governo Dilma também reduziu gastos sociais no início do mandato.
Há uma diferença abissal. A Dilma mandou para o Congresso um orçamento com déficit de R$ 30 bilhões sem redução de políticas públicas. O que Ricardo Barros, hoje ministro da Saúde, fez? Ele colocou um superávit de R$ 39 bilhões. Ou seja, tinha que reduzir em R$ 69 bilhões o orçamento.

A sra. apoiou Eduardo Paes desde 2008 até o ano passado. Por quê?
Em 2008 perdi a eleição no primeiro turno e estabeleceu-se dois campos. Um de apoio ao nosso governo nacional e outro de oposição, que era César Maia e [Fernando] Gabeira. Optei para que o Rio e o Brasil pudesse ser vanguarda no que foi: o maior projeto de inclusão social do mundo, que tirou o Brasil do mapa da fome. A aliança pela eleição e governabilidade foi feita em cima desse projeto.

A sra. já chamou isso de pedágio.
Não é o melhor nome, mas foi o preço que a gente pagou para que o Rio tivesse os benefícios e garantir que o projeto nacional pudesse continuar. O que eu fiz na Secretaria de Cultura fez muito bem à cidade.

Olhando o resultado desse governo de coalizão, foi a melhor forma de governar?
O isolamento político não é a melhor receita para ninguém. Ainda mais para dar governabilidade num país complexo como o nosso. A gente evolui com o que vai acontecendo. Nunca deixamos de criticar medidas que achamos incorretas no governo municipal. Hoje tenho muito mais clareza no que se transformou no segundo mandato de Eduardo Paes e a concepção de cidade dele.

Mas o que mudou do primeiro para o segundo mandato?
No início abriu para opiniões, para a esquerda governar de forma mais democrática. Iniciou um projeto de ampliação da atenção básica. O início de discussão do Plano Diretor. Tudo ali era o início de um projeto que apontava não para um governo de esquerda, mas de centro que tivesse um pouco mais de diálogo e democracia, com projetos que apontassem para a área popular do Rio.

No segundo mandato, isso acabou não acontecendo. Os projetos centrais foram para a área de expansão onde a especulação [imobiliária] quis. O confronto com as empresas de ônibus não se deu como se prometia naquele momento.

Paes passou a tomar muitas decisões elitistas, conservadoras. Interrompeu o diálogo com a cidade. Abandonou as favelas completamente. Nesse processo, nossa crítica se aprofundou. Tanto que a nossa candidatura não tem nada a ver com o impeachment. Ela foi dada em outubro de 2015. Muito anterior ao voto do PMDB do Rio para o impeachment.

Qual sua avaliação sobre o legado da Olimpíada?
Não teria feito o projeto desse jeito. Teria adensado o centro com habitação popular, teria feito sobre trilhos e não sobre rodas as vias do BRT. Teria trabalhado para que o Estado fizesse o metrô de superfície até Santa Cruz e não priorizado a linha 4 do metrô. Teria expandido os equipamentos esportivos mais para a área central e zona norte do Rio.

Todas essas mudanças não eram possíveis após o Rio ter conquistado os Jogos.
Podiam ter sido alterados no meio. Era um processo que não estava impedido. Fazer a Ilha Pura, um condomínio de elite [usada como Vila Olímpica], não estava na matriz de responsabilidade. Podia fazer habitação popular. Teria feito um outro projeto.

A sra. pretende transformar os corredores de ônibus em VLT?
Podemos fazer VLTs em outros pontos da cidade. Podemos fazer um [ligando] Madureira, Cascadura, Quintino e Rocha Miranda. Isso não só integra os bairros como gera centros comerciais e chega ao metrô. Pode fazer um VLT ligando todos os bairros da Ilha [do Governador]. Um custaria R$ 1,2 bilhão e o outro R$ 900 milhões.

Essas obras não estão em seu plano de governo. O Rio já passou a fase de canteiro de obras?
As grandes obras talvez nesse momento não possam ser feitas. Mas obras de transporte, habitação, infraestrutura urbana e saneamento são fundamentais que sejam feitas. Precisamos criar uma estrutura ligada à prefeita que faça a integração das secretarias para atuarem nas favelas.

No seu plano há previsão de um passe livre social, ao custo de R$ 970 milhões. Pressupõe um subsídio público? Há um tabu sobre isso no Rio.
Não pode ser. É tabu porque só se dá lucro para o empresário. O povo fica de lado. Houve um aumento de tarifa que deu aos empresários de ônibus do bolso do trabalhador R$ 1,56 bilhão de lucro acima do previsto. O povo trabalhador entrou com o dinheiro sem a reciprocidade. Não cumpriu [a meta d]o ar-condicionado, acessibilidade e definiu itinerários. É necessário recuperar o comando público sobre esse serviço.

Nesse processo, um dos fatores do novo modelo de transporte é ampliar a gratuidade para segmentos sociais. Quem fala em liberar regiões, está mentindo. Na região norte e oeste, [essa proposta] custa R$ 4 bilhões por ano. Não tem porque favorecer algumas linhas e não outras. Fica um negócio estranho. Parece favorecimento articulado com empresas. Temos que fazer para segmentos sociais que têm dificuldade de pagar: os três níveis de escola pública, [beneficiários do] Fies, ProUni e cotistas do ensino privado, desempregados, trabalhadores informais e cadastrados do Bolsa Família. Dinheiro público é para garantir política pública. E transporte é política pública.

Há um debate sobre a divisão da esquerda. É um problema no Rio?
É um problema no Brasil inteiro. Em São Paulo, a [Luiza] Erundina [PSOL] lançou candidatura contra o [Fernando] Haddad [PT], que é o melhor gestor que o país tem. Ali não teve essa discussão. Esse discurso da unidade parece que só existe em alguns lugares. O PC do B sempre apoiou outros partidos no país todo. Mas há momentos em que a nossa candidatura tem que ser colocada. Nós nos colocamos entorno de um projeto que só nós defendemos. PSOL sempre foi oposição de Lula e Dilma. A esquerda que construiu, elaborou e executou precisava ter referência concreta. E com capacidade para fazer com que esse projeto generoso seja feito para a cidade também.

As duas candidaturas não podem morrer abraçadas?
O eleitor da esquerda vai unir. O eleitor não quer Pedro Paulo e [Marcelo] Crivella [PRB] no segundo turno. O eleitor que mudança e para o avanço, e não para o atraso. O Rio não quer a Igreja Universal comandando a cidade. Mesmo que as duas candidatura existam, o eleitor vai unir no final.

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