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Centros educacionais da periferia têm disputa de paternidade e são replicados em cidades vizinhas

Moacyr Lopes Junior - 28.set.2016/Folhapress
GUARULHOS, SP, BRASIL. 28.09.2016. A piscina (tem duas e estao fechadas ate o verao) do CEU Sao Miguel, em Guarulhos; o modelo dos CEUs, originalmente criados em SP sao adotados por outras cidades. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress, COTIDIANO). ***EXCLUSIVO***
Fachada do CEU São Miguel, em Guarulhos

Os CEUs (Centro Educacional Unificado) hoje são uma espécie de unanimidade em São Paulo: ninguém fala mal, candidatos prometem fazer mais e até brigam para apontar sua paternidade.

Para postulantes à prefeitura, as unidades também viraram uma "árvore de Natal", cada vez mais cheia de penduricalhos. Há promessas de aulas de dança, moda e beleza, ensino superior, cursos profissionalizantes e até de educação financeira.

O CEU surgiu na gestão petista de Marta Suplicy, hoje candidata à prefeitura pelo PMDB. As atuais 46 unidades têm creche, escolas, universidade, teatro, cinema, piscina, quadras, salas de ginástica. Por vezes, são os únicos equipamentos de lazer e cultura em áreas pobres.

A marca fez com que cidades da Grande São Paulo, como São Bernardo, copiassem a capital e erguessem equipamentos similares.

Segundo maior município do Estado, Guarulhos já tem dez unidades nos mesmos moldes dos de São Paulo e outras dez em construção.

Eles surgiram em 2009, na gestão de Sebastião Almeida (PT). "É um projeto que deu certo. O CEU aproxima a comunidade da escola. Muita gente de regiões periféricas tem contato pela primeira vez com o teatro lá", explica Sandra Soria, diretora pedagógica da secretaria municipal da Educação de Guarulhos.

Em São Bernardo, também sob comando do PT, há cinco unidades. Em Osasco, duas. Sob gestão do PSDB, Cotia também construiu uma.

EM CONSENSO

Para Jairo Pimentel, cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, os CEUs são um exemplo de projeto que deixou de ser bandeira de um partido e passou a ser consenso entre os candidatos por ser bem visto pela população.

"Ninguém vai fazer propostas contra algo que as pessoas querem. É como o Bolsa Família, que chegou a ser chamado de 'bolsa-esmola' pelo PSDB no início, mas depois foi defendido por candidatos tucanos", diz.

De fato, quando o primeiro CEU foi inaugurado, em 2003, a oposição à gestão Marta fez críticas ao alto preço –R$ 13 milhões, na época. Gilberto Kassab (PSD), prefeito entre 2006 e 2012, foi um dos críticos. Dizia que, com o dinheiro do CEU, era possível construir dezenas de escolas. Porém, suas duas gestões continuaram apostando no projeto e entregaram 24 unidades.

Uma das principais críticas a Fernando Haddad (PT), atual prefeito de São Paulo que busca agora a reeleição, está ligada aos CEUs: o petista prometeu construir 20, mas entregou apenas um. Outros oito estão em obras e serão entregues após o término do mandato.

Haddad argumenta que cortes em verbas do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e dificuldades para obter terrenos atrasaram as obras.

Por outro lado, o petista implantou uma rede de cinemas nos CEUs e uma universidade com aulas à distância e semipresenciais.

Seus rivais também querem usar os CEUs para novas atividades (veja ao lado).

ARTES

Em 2012, o Ministério da Cultura lançou o projeto CEU das Artes, que cria espaços com atrações culturais e esportivas em cidades menores e em bairros da periferia das metrópoles. O programa entregou 124 unidades e tem outras 214 em obras.

Estruturas desse tipo foram inauguradas recentemente em cidades como Jundiaí, Osasco e Sorocaba.

"O custo de construção de um CEU da educação é muito alto. Optamos por usar o dinheiro para fazer mais creches", diz Jorge Lapas (PDT), prefeito de Osasco.

Lapas, que deixou o PT no meio do mandato, disputa a reeleição e promete fazer mais dois CEUs das Artes. "É um equipamento que todo mundo pode usar: idosos, jovens, adultos e crianças, e não só os estudantes".

"A população é muito mais grata quando fazemos um espaço de cultura e lazer do que quando canalizamos um córrego. Elas querem mais cultura e lazer", diz.

IDEALIZADOR

A proposta de reunir escola, esporte, cultura, lazer e centro de convivência em bairros da periferia vem da década de 1940, diz Alexandre Delijaicov, apontado por Fernando Haddad (PT) como o idealizador dos CEUs no debate realizado por Folha, UOL e SBT, no dia 23.

"Quem apresentou o idealizador do CEUs fui eu", disse Haddad, que participou da gestão Marta (2001-2004). "Você apenas trouxe uma pessoa com uma maquete", retrucou ela.

Delijaicov, professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) e arquiteto do Edif (Departamento de Edificações da prefeitura) há duas décadas, confirma que Haddad levou o projeto a Marta, mas nega ser seu criador. "É um trabalho coletivo. Somos 120 pessoas no departamento. Eu só fui aquele que assinou o projeto".

"O projeto de escola-parque foi criado nos anos 1940 por Anísio Teixeira e por nosso departamento, que funciona em 1949, mas não foram construídos em São Paulo", conta ele. "O dinheiro para isso acabou sendo usado para fazer o parque Ibirapuera."

"Nos anos 1980, foram erguidos conjuntos habitacionais em áreas distantes, sem espaços de cultura e lazer. Na década seguinte, começamos a pensar sobre isso, até chegar no projeto de praças de equipamentos urbanos ou centros estruturadores unificados, que deram origem aos CEUs", prossegue ele.

Além de oferecer aulas e lazer, a proposta desses espaços é ajudar a criar locais de convivência, onde as pessoas podem se encontrar, se divertir e participar da política. "O teatro do CEU também é um espaço para fazer audiências públicas", aponta Delijaicov.

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