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Crônica da campanha: Mudança de sigla deu munição aos adversários de Marta

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 26-09-2016: ***Especial Domingo FOLHA Eleicoes*** Candidatos a Prefeitura de Sao Paulo. Senadora Marta Suplicy (PMDB) posa para foto (em lugar a sua escolha) na esquina das avenidas Sao Joao com Ipiranga no centro de Sao Paulo (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Marta Suplicy (PMDB) na esquina da av. Ipiranga com a av. São João

Veterana em eleições, mas estreante no PMDB, a candidata à Prefeitura de São Paulo Marta Suplicy enfrentou contradições na campanha por causa da mudança de legenda. Senadora licenciada, Marta saiu do PT, onde militou por 33 anos, e mudou para o PMDB no ano passado.

Na campanha, Marta oscilou entre querer mostrar ou esconder seus aliados. Disse que o eleitor já não a identifica com o PT, mas buscou votos em áreas tradicionalmente "vermelhas". Declarou que a troca de sigla lhe abriu as portas da classe média, mas despencou nessa fatia do eleitorado nas últimas pesquisas.

A convenção do PMDB que a oficializou candidata, em julho, foi numa escola de samba na zona norte, com distribuição de pipoca e chuva de papel picado, um aceno às classes mais populares. Ao som da bateria da Rosas de Ouro, Marta subiu no palanque sambando –como faria depois nas visitas aos bairros.

Escolheu um lugar simbólico para a primeira agenda oficial de campanha: um CEU (Centro Educacional Unificado) em Guaianases (zona leste), o primeiro que entregou quando prefeita (2001-2004).

Considerados um de seus principais legados, os CEUs fizeram da educação sua marca, na avaliação de Marta, e são um dos motivos de ela ser lembrada na periferia. Entre os candidatos, Marta é vista como a mais realizadora –por 27% dos eleitores, segundo Datafolha de 8 de setembro.

A propaganda de Marta teve três fases bem definidas: ela pediu desculpas por "erros" do passado; apresentou propostas e elencou seus feitos; e atacou Celso Russomanno (PRB), ao mesmo tempo em que tentou se descolar das reformas ensaiadas por seu principal aliado, o presidente Michel Temer (PMDB).

"Eu errei ao criar uma nova taxa quando eu era prefeita. Eu errei ao falar o que não devia quando era ministra", disse a candidata na TV, repetidamente. Marta teve o terceiro maior tempo de exposição, atrás apenas de João Doria (PSDB) e do prefeito Fernando Haddad (PT).

Pedir desculpas já na largada funcionou como vacina. Ao afirmar que errou, amadureceu e aprendeu com o erro, Marta desarmou os rivais, que, como se previa, iriam relembrar as taxas que ela criou –como a do lixo e a da iluminação–, o apelido de "Martaxa" e o famoso "relaxa e goza", de quando foi ministra.

Não teve a mesma facilidade, contudo, para se livrar da associação feita entre ela e propostas polêmicas da gestão Temer, como a imposição de um teto de gastos para o governo federal –que pode minar investimentos futuros– e a reforma trabalhista.

NACIONALIZADO

Se em agosto a equipe de Haddad considerava "difícil" ele vencer num cenário de debate nacionalizado, dado o desgaste do PT e de seus principais líderes, um mês depois foi o próprio Haddad que insistiu na nacionalização da disputa para atacar Marta.

Primeiro, associou-a a Temer. Depois, ao ex-prefeito e atual ministro Gilberto Kassab (PSD), que indicou Andrea Matarazzo, de seu partido, para vice de Marta.

A peemedebista, inicialmente, esperava contar com Temer em seu palanque ao menos no segundo turno. Depois, optou por marcar posição "do lado dos que mais precisam" e distanciou-se do governo aliado, como fez ao falar da reforma trabalhista.

"O ministro do Trabalho, que pertence ao PTB, quer que o Congresso Nacional aprove a jornada de trabalho de 12 horas diárias para os trabalhadores brasileiros. Eu sou totalmente contra", afirmou Marta na TV, gerando desgaste com seu novo partido.

O fato de sua campanha ser coordenada por um amigo de Temer, o advogado José Yunes, não foi o suficiente para poupá-la de críticas de outros assessores do presidente.

"A candidata Marta falta com a verdade em seu programa eleitoral. O governo federal não vai mexer nos direitos do trabalhador", escreveu no Twitter Arlon Viana, chefe de gabinete de Temer e dirigente do PMDB de São Paulo.

Na pesquisa Datafolha de sábado (1º), Marta oscilou de 15% para 12%. Desde a verificação de sua tendência de queda, nas últimas semanas, a equipe da peemedebista tem culpado a "agenda maldita" de Temer pelo desempenho ruim.

Nem a revelação, em agosto, de que a campanha de Marta ao Senado recebeu R$ 500 mil de caixa dois em 2010, segundo depoimentos de executivos da Odebrecht à Lava Jato, foi tão explorada pelos adversários como sua ligação com Temer e Kassab.

Em meados de setembro, quando o crescimento de Doria nas pesquisas se consolidou e Russomanno continuou a ser uma ameaça a sua chegada ao segundo turno, Marta partiu para o ataque.

Disse repetidas vezes que é a candidata mais experiente e que neófitos que se apresentam como bons gestores são "aventuras". Citou o ex-prefeito Celso Pitta (1997-2000), a ex-presidente Dilma Rousseff e o prefeito Haddad.

Na TV, Marta usou boa parte de seu tempo para centrar fogo em Russomanno. Explorou o fracasso do Bar do Alemão, do qual ele era sócio em Brasília, e ações trabalhistas movidas após o fechamento do negócio para colar nele a pecha de mau gestor.

A candidata ainda enfrentou gritos de "golpista", geralmente isolados, ao pedir votos nos bairros –Marta votou a favor do impeachment de Dilma no Senado. Em todas as ocasiões, demonstrou não ter ouvido os gritos.

Em visita à zona norte no início de setembro, a candidata vaticinou: "Se você perguntar a qualquer pessoa aqui de qual partido eu sou, elas talvez nem saibam".

O Datafolha mostrou, na reta final, que o número de Marta nas urnas é o menos conhecido entre os eleitores –10% o desconheciam, o pior índice entre os candidatos. "É muito perigoso isso", comentou Marta sobre a pesquisa.

Na zona leste, uma mulher a abraçou para uma foto. Sorridente, fez sinal para assessores da peemedebista e declarou apoio: "É Marta, é 13". No ritmo de "é pique, é pique", cabos eleitorais têm passado nas ruas cantando: "É 15, é 15, é 15 é 15 é 15".

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