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Crônica da campanha: Erundina atrai simpatia nas ruas, mas deve terminar eleição com poucos votos

Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 30-09-2016, 14h20: Retrato da candidata Luiza Erundina (Psol), na porta do Theatro Municipal, para especial da Folha. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO***
A candidata Luiza Erundina (PSOL), na porta do Theatro Municipal

"Vou votar nela, tadinha. Tão simplezinha. Ela melhorou alguma coisa em São Paulo. Oitenta e tantos anos", comenta com a reportagem um trabalhador uniformizado ao ver a ex-prefeita pelo PT e candidata pelo PSOL Luiza Erundina, 81, em campanha.

De cabeça branca, Erundina atrai uma legião de idosas nordestinas como ela, que vêm agradecer por uma casa conquistada ou uma rua asfaltada durante sua gestão, de 1989 a 1992. "Você está bonita, está bem. Que bom te ver de novo", elogiam.

Acompanhada por outra cabeça branca, a do vice Ivan Valente (PSOL), 70, Erundina caminhou por São Mateus, Paraisópolis, Jardim Ângela, avenida Paulista, Grajaú, Vila Mariana e outros.

"Ela enrosca igual galho na beira do rio", desabafa o deputado sobre as constantes paradas para selfies e beijinhos no rosto de apoiadores. "Ela é conhecida, só a juventude que precisa chacoalhar."

Foi para chacoalhá-la que a campanha contratou um publicitário jovem, Pedro Ekman –e para tornar Erundina meme na TV, no intuito de conquistar aqueles que não viveram seu governo. A preocupação acompanhou a campanha desde o início, embora a ligação com o PSOL, que agrega votos universitários e ideológicos, conseguisse aplacar a desvantagem de Erundina no segmento.

Outra questão que dominou quase todos os discursos foi a reforma eleitoral que barrou dos debates candidatos de partidos com menos de dez deputados e lhe deu dez segundos no horário eleitoral.

Com seis deputados, o PSOL conseguiu que o Supremo Tribunal Federal decidisse a favor de sua presença nos debates, mas não houve jeito na TV, e Erundina viu suas intenções de voto irem de 10% a 5%.

O tom da campanha mudou para estancar a perda para o voto útil em Marta Suplicy (PMDB) ou Fernando Haddad (PT). "Faça valer a pena", dizia a propaganda na TV. "Se são dois turnos, é para dar a liberdade para o eleitor escolher aquele que ele entende que seja o melhor. E o segundo turno para escolher aquele menos pior", diz ela.

Na reta final Erundina buscou adaptar sua campanha para se livrar da acusação de que sua candidatura serviu para separar a esquerda. Passou a dizer que serve a um objetivo mais nobre, montar front de resistência contra o que considera retrocesso: o governo Michel Temer.

Erundina foi oposição ao governo Dilma na Câmara, mas não viu nas pedaladas motivo para tirá-la do poder.

A candidata engrossou o coro contra o então presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Interrompeu a campanha para estar presente na votação que o cassou.

Ficou difícil para os adversários apontarem máculas na carreira da assistente social que deixou a Paraíba em 1971, fugindo da perseguição da ditadura aos que defendiam as lutas camponesas.

Coube a crítica pelas mudanças partidárias: do PT ao PSB, depois ao PSOL e futuramente ao Raiz. Foi crítica ao PSB quando Marina Silva apoiou Aécio Neves (PSDB) em 2014, e, antes, ao PT pela falta de apoio a sua gestão.

Com minoria na Câmara, não conseguiu aprovar propostas como IPTU progressivo e tarifa zero no transporte, medidas que reciclou em 2016.

Disse que não faria nada diferente. Continua contra a formação de alianças –a ideologia vale mais que a governabilidade. A força para administrar viria do povo, diz.

O povo, de quem recebeu na rua palavras de carinho e admiração, mas que não lhe confiou o voto em 2016.

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