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Crônica da campanha: Fugindo do fantasma de 2012, Russomanno evita igreja e temas nacionais

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 28-09-2016: ***Especial Eleicoes.EXCLUSIVO FOLHA DOMINGO*** Retrato do candidato a prefeitura de Sao Paulo, Celso Russomanno (PRB),em escada da praca Esther Mesquita (final da av Higienopolis) no bairro Pacaembu (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Celso Russomanno (PRB) na praça Esther Mesquita, no Pacaembu

O fantasma da eleição passada rondou Celso Russomanno (PRB) no período de campanha que antecedeu o primeiro turno das eleições para prefeito da cidade de São Paulo.

Há quatro anos, o candidato ficou fora do segundo turno após propor que o Bilhete Único tivesse cobrança pela distância percorrida. Em 2016, ele também começou na liderança das pesquisas e foi caindo conforme se aproximava da reta final.

Dessa vez, Russomanno fez o que pôde para evitar o "efeito 2012". Em seu plano de governo, dispensou propostas ousadas e recauchutou marcas já testadas do prefeito Fernando Haddad (PT).

Na última semana, admitiu o desgaste após mais de um mês no papel de saco de pancadas. Para ele, porém, os adversários não conseguiram desconstruí-lo desta vez.

Para minimizar os ataques, Russomanno adota tática ilusionista, ao esconder seus principais apoiadores. Na campanha, não há menções à Igreja Universal, que controla o PRB e a TV Record, onde o candidato trabalha.

Em uma revista colorida distribuída pela campanha, que lembra as de celebridades vendidas nas gôndolas de supermercados, há duas fotos com o padre Marcelo Rossi, além de imagens com celebridades da TV Record como Sabrina Sato e Rodrigo Faro. Nenhuma foto com pastores da igreja.

No dia a dia da campanha, entre feiras livres e carreatas, Russomanno se cala sobre a Universal. Chegou a minimizar o papel na religião no PRB.

"O partido não é de uma igreja evangélica, 80% do partido é de várias outras religiões", disse ele.

Ele também desconversa sobre fazer parte, na Câmara, da base de sustentação do governo Michel Temer (PMDB), que dá munição a adversários para atacá-lo.

Questionado por empresários em um evento sobre o limite de 12 horas trabalhadas aventada pelo governo federal, cometeu "sincericídio" : "Não vou responder sua pergunta agora porque sou candidato a prefeito de São Paulo. Eu ia gerar uma polêmica tão grande que a minha candidatura ia naufragar".

A frase foi explorada por Marta Suplicy (PMDB). Também apoiadora de Temer, ela se disse contra a reforma e acusou Russomanno de ficar em cima do muro.

BRIGA DE BAR

Russomanno iniciou a campanha em alta, liderando as pesquisas após ser absolvido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) da acusação de desvio de dinheiro público ao usar dinheiro da Câmara para remunerar a ex-gerente de sua produtora de vídeo.

O assunto foi enterrado, mas adversários passaram a buscar munição em episódios da vida de Russomanno como empresário e apresentador de TV.

O parlamentar apanhou calado na maior parte do tempo. Quando confrontado com os ataques de adversários, sorria, rebatia falando baixo e pausadamente.

O jeito calmo até demais levou a ser questionado se havia feito uso de calmantes durante um debate. Respondeu com uma gargalhada, dizendo que estava com frio.

Só as menções ao Bar do Alemão –estabelecimento em Brasília (DF) que o deputado fechou com uma dívida milionária– o tiraram do sério. Ele bateu boca ao vivo com um jornalista da rádio Bandeirantes que citou o caso durante uma entrevista.

Marta usou depoimentos de ex-garçons do estabelecimento que processam o candidato por questões trabalhistas. Russomanno sentiu o baque e reagiu acusando a rival de "cooptar" os ex-funcionários.

"Enquanto a Marta poderia ter usado 400 comerciais de 30 segundos cada um para mostrar projetos de saúde, segurança, educação, ela está usando para me atacar, atacar uma empresa que eu fechei por conta da crise [causada] pelo partido do qual ela era [PT]", disse. "Temos que focar a campanha nas propostas."

O programa de governo, porém, foge de grandes obras e possíveis marcas. Sobram planos vagos e promessas de continuar vitrines da gestão Haddad, como as faixas de ônibus e unidades da Rede Hora Certa.

O candidato diz que seu foco é a saúde. Na área, a grande bandeira é um cartão com prontuário eletrônico dos pacientes –o cartão é novo, mas os dados dos pacientes hoje já se encontram em um sistema.

"Sempre que existe algum problema, erro médico, imperícia, negligência, você tem dificuldade para chegar ao seu prontuário, seu prontuário é mudado", justificou a ideia.

QUANTO VALE O SHOW

O candidato também foi atacado por imagens de um programa de TV gravado em 2005, ressuscitadas nas redes sociais. No vídeo, ele adota um tom duro com uma caixa de supermercado que havia se recusado a vender produtos em unidades.

Russomanno nega ter humilhado a mulher. A caixa, no entanto, veio a público dizer que se sentiu ofendida e chegou a ser punida no trabalho após o episódio.

Há cerca de 30 anos na TV, o candidato faz campanha como se estivesse em seu programa "Patrulha do Consumidor". Anda cercado de câmeras, luzes e um estafe feminino, que nos bastidores foi apelidado "as russominas".

Muitos dos potenciais eleitores abordam o candidato para perguntar sobre pendências com empresas após compras. Alguns se surpreendem ao perceber que falam com o candidato, não com o apresentador. A equipe dele anota o nome de cada um, com a promessa de retornar após as eleições.

Ciente de que em um eventual segundo turno terá de ganhar o voto de eleitores mais à esquerda ou que não estão acostumados a vê-lo na TV, ele adapta seu bordão "estando bom para ambas as partes" para a política: "Eu sou uma pessoa de centro. Ser de centro é o melhor porque você tem ouvido para os dois lados".

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