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PT chega às urnas com discurso à esquerda e 50% menos candidatos

Reprodução/Facebook/Neusa Cadore
Comício do PT na Praça da Liberdade, em Pintadas (BA)
Comício do PT na Praça da Liberdade, em Pintadas (BA)

Na primeira eleição fora do governo federal desde 2003, o PT retomou discurso à esquerda e deve enfrentar neste domingo (2) o pleito mais difícil de sua história.

O número de candidatos a prefeito despencou quase 50% em comparação a quatro anos atrás, caindo de 1.901 para 971.

O cenário é resultado da crise do partido, que tem seus principais líderes investigados na operação Lava Jato e viu a ex-presidente Dilma Rousseff ser apeada da Presidência pelo impeachment.

A maior parte da debandada aconteceu entre "cristãos-novos": militantes recentes que surfaram na onda petista, mas deixaram o partido em seu período de baixa.

"São pessoas que não tinham identidade com o partido", afirma Florisvaldo Souza, secretário nacional de organização do PT.

A Bahia, governada pelo PT desde 2007, é um exemplo claro deste movimento. O PT baiano tinha 21 prefeituras em 2004, cresceu para 67 em 2008 e para 92 em 2012 —um avanço de 340% em oito anos.

Dos 92 prefeitos eleitos em 2012, 55 haviam se filiado ao partido após a eleição de Jaques Wagner (PT) para o governo em 2007. Destes, 32 formam para o partido apenas um ano antes da última eleição municipal.

Este ano, no entanto, o PT lançou apenas 112 candidatos a prefeito na Bahia e estima eleger cerca de 60 —o que seria uma queda de 35% em relação a 2012.

"Botamos o pé no freio e apostamos num processo de depuração", afirma o presidente estadual do PT, Everaldo Anunciação.

Em algumas situações, a saída do PT foi feita de comum acordo, dentro da base aliada. Foi caso do prefeito de Xique-xique (585 km de Salvador), Uilson Monteiro, que trocou o PT pelo PSD, mas manteve o apoio dos petistas.

Na maioria dos casos, contudo, a debandada foi unilateral. Em Itapetinga, sudoeste baiano, o prefeito José Carlos Moura recusou-se a apoiar um sucessor petista e rompeu com o partido para apoiar um sucessor no PDT.

Historicamente ligado ao senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), Moura filiou-se ao PT em 2007, após a vitória de Jaques Wagner.

Sem rumo, os petistas da cidade que restaram, históricos, não apoiaram nenhum candidato nas eleições deste ano.

Além da Bahia, o PT também perdeu representatividade em Estados que já governou. É o caso de Mato Grosso do Sul, onde os petistas terão candidatos a prefeito em apenas oito cidades este ano contra 25 há quatro anos.

HISTÓRICOS

Para o secretário nacional de organização do PT, Florisvaldo Souza, a campanha de 2016 será marcada pela resistência do partido ao "golpe" e aos ataques que vem sofrendo.

"Conseguimos abrir um diálogo com a população e isso nos trará resultados que vão muito além do resultado nas urnas", afirma.

Militantes históricos reassumiram o protagonismo em muitas cidades e o partido adotou um discurso mais à esquerda, buscando resgatar antigas bandeiras.

Em João Pessoa (PB), onde o prefeito Luciano Cartaxo saiu do PT e vai para as urnas pelo PSD, com apoio de PMDB e PSDB, os petistas lançaram a modesta candidatura do Professor Charliton —militante histórico filiado em 1987.

Em Vitória (ES), o candidato é o decano Perly Cipriano, 73, fundador do partido no Espírito Santo. Em Porto Alegre (RS), resgataram o ex-prefeito Raul Pont, 72.

Na Bahia, o partido apostou em antigos quadros do partido, incluindo ex-prefeitos de cidades médias como Lauro de Freitas, Senhor do Bonfim e Cruz das Almas.

Também ganharam espaço sindicalistas e membros de entidades de agricultura familiar, caso da deputada estadual Neusa Cadore (PT).

Ela voltou a disputar a prefeitura de Pintadas, cidade de 10 mil habitantes no sertão baiano, duas décadas depois de ser eleita prefeita pela primeira vez.

A cidade é reduto petista desde 1996 e foi "laboratório" de várias iniciativas que se tornaram marca do partido, como o orçamento participativo e economia solidária.

Foi a primeira cidade do Nordeste a ter cisternas em 100% das casas da zona rural e foi beneficiada por programas federais na construção de 460 casas e na implantação de um polo universitário.

"Voltar foi uma decisão acertada porque era preciso fazer uma autocrítica dos nossos erros e defender nosso legado", afirma Cadore.

Segundo ela, a participação dos jovens na sua campanha aponta um caminho para o futuro: "Mesmo que não vença as eleições, não me arrependo".

Pintadas é município a mais tempo governado pelo PT em todo o país —posto que divide com outra cidade baiana: Vitória da Conquista.

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