Surpresa em São Luís, candidato renega caciques e tenta superar prefeito

Com um discurso de "candidato independente" e sem o apoio dos principais caciques da política maranhense, Eduardo Braide (PMN) despontou como uma das maiores surpresas na eleição para prefeito nas capitais.

Com dez segundos de tempo no horário eleitoral durante a campanha, Braide teve 22,3% dos votos válidos no último domingo (2) e vai disputar o segundo turno em São Luís contra o prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT).

Para chegar ao segundo turno, Braide cresceu rapidamente na reta final. Pesquisa Ibope feita cinco dias antes da eleição o mostrava com 5% das intenções de voto, atrás de Edivaldo Holanda com 38%, Wellington do Curso (PP) com 28% e Eliziane Gama (PPS) com 8%.

"Se eu te dissesse que imaginava que conseguiria crescer tão rápido e chegar ao segundo turno, estaria mentindo", afirmou Braide à Folha.

Sua ascensão, apontam políticos do Maranhão, aconteceu após os dois debates na televisão realizados no fim da campanha na TV Guará, afiliada da Record, e na TV Mirante, retransmissora da Rede Globo.

No primeiro debate, o candidato polarizou com Wellington do Curso –então segundo colocado nas pesquisas– e adotou a estratégia de comparar o mandato de ambos na Assembleia Legislativa.

Mostrou emendas suas destinadas a hospitais e projetos aprovados na área da educação.

No debate da TV Mirante, para o qual foi chamado de última hora após alcançar 5% das intenções de voto, Braide teve seus principais embates com o prefeito. E não por sua escolha.

Liderando as pesquisas e com possibilidade de ganhar no primeiro turno, o pedetista evitou embates com Wellington e Eliziane e centrou as suas perguntas em Braide.

Encontrou um adversário afiado, com críticas à sua gestão. O desempenho de Braide logo reverberou nas redes sociais: o número de "curtidas" em seu Facebook cresceu 40% entre o debate e a eleição.

Nas urnas, ficou em segundo em seis das nove zonas eleitorais da capital maranhense, tendo seu melhor desempenho em bairros de classe média.

Para Gleidson Brito, professor de história da Universidade Estadual do Maranhão, Braide conseguiu capitalizar os votos dos insatisfeitos com a gestão do atual prefeito.

"Ele aproveitou melhor os debates e partiu para o confronto com o prefeito. Como não era considerado uma ameaça, não foi vidraça. Ninguém o confrontou ou fez uma avaliação da sua vida pública", afirma.

'OUTSIDER'

Advogado e deputado estadual em segundo mandato, Braide, 40, entrou na eleição em São Luís como um "outsider". Filho do ex-deputado estadual Carlos Braide, fez uma campanha com estrutura, mas sem tempo de TV.

Não teve o apoio do grupo do governador Flávio Dino (PC do B), de quem foi líder do governo na Assembleia, nem do grupo ligado ao ex-presidente José Sarney (PMDB).

Braide chega ao segundo turno se dissociando dos principais caciques e tentando firmar a imagem de um candidato independente.

Afirma que não buscará o apoio dos outros candidatos para o segundo turno: "Não farei acordos com ninguém", diz.

A estratégia, contudo, fez refluir o apoio público dos candidatos derrotados que fazem oposição ao prefeito. A Folha apurou que estes sentiram-se desprestigiados e vão evitar um engajamento na campanha de Braide.

Dos sete candidatos derrotados no primeiro turno, apenas uma –Rose Sales (PMB)– anunciou apoio a sua candidatura. Ela teve 1,96% dos votos.

O candidato do PMN afirma que, se eleito, vai buscar a governabilidade com base no diálogo e diz que a sua experiência como deputado ajudará na relação com o Legislativo.

Para isso, terá que superar nas urnas Edivaldo Holanda Júnior, que teve 45,66% dos votos no primeiro turno. E mostrar que tem substância e que ainda pode surpreender até o dia 30 de outubro.