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Crivella disse que entrada na política foi missão imposta pela Universal

O senador Marcelo Crivella (PRB), candidato à Prefeitura do Rio, declarou em discurso em 2011 que sua entrada na política foi uma missão imposta pelas lideranças da Igreja Universal que cumpriu inicialmente a contragosto.

Na fala, gravada em vídeo disponível na internet, ele afirma também que os evangélicos devem usar a política para "levar o Evangelho a todas as nações da Terra". O vídeo do senador contradiz seu discurso segundo o qual nunca misturou política com religião.

Crivella narra como o ex-presidente Lula o ajudou nesta tarefa e como tentou auxílio de um embaixador do Brasil na Índia com o mesmo propósito.

"Eu achava que política era ajudar pobres. Mas depois eu fui vendo que nós evangélicos temos uma outra missão na política", afirma Crivella, no início do trecho em que começa a descrever o papel do evangélico na política.

O discurso foi proferido em 29 de abril de 2011 no Congresso Internacional para Pastores e Esposas de Pastores, na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte. No encontro, ele diz que o Brasil tem um papel importante na disseminação dos valores do Evangelho no mundo, semelhante ao que tiveram, segundo ele, a Inglaterra e os Estados Unidos no passado.

"Não sei se será na nossa geração, quando será, mas os evangélicos ainda vão eleger um presidente da República, que vai trabalhar por nós e por nossas igrejas e nós vamos cumprir a missão que há 2.000 anos é o maior desafio da igreja, que é levar o Evangelho a todas as nações da Terra", afirma o senador.

O candidato do PRB, no começo do discurso, narra sua entrada na política. Ele afirma que sua primeira candidatura, em 2002, foi uma missão dada pela cúpula da Igreja Universal. Crivella demonstra ter cumprido, inicialmente, a contragosto.

"Voltei [da África] para o Brasil com missão de criar uma fazenda modelo na Bahia que servisse de modelo para a reforma agrária. A repercussão foi grande. E o presbitério da minha igreja, a Igreja Universal do Reino de Deus, disse: 'Achamos que você tem que ir para a política'. Confesso a vocês, meus irmãos, que me entibiei [não se entusiasmou]. Não posso falar outra coisa. Mas, na Igreja Universal a gente... Então, tem que ir. E eu fui. Mas eu me lembro que quando voltava para casa naquele dia, fiz uma oração. 'Ai meu Deus, eu não faria isso com um filho meu. Tirar do altar e botar na política... Não faria isso'", disse o senador, bispo licenciado da Universal.

Na sequência, ele afirma que começou "a ver na política os planos de Deus". Ele descreve como cartas assinadas a seu pedido por Lula ajudaram a Universal a permanecer e crescer em países da África.

"Eu vi que com uma carta do presidente da República, as portas se abriam. Pastores que estavam sendo expulsos... Na Zâmbia fomos expulsos. Não havia como. Contratamos advogados, fomos à Suprema Corte, e não tinha jeito. Com a carta do Lula, o presidente Rupiah Banda não só permitiu que os pastores voltassem, como nos deu uma rádio e uma televisão", diz Crivella.

O senador relata não ter tido a mesma sorte na Índia, quando pediu a intervenção de um embaixador para permitir que pastores atraíssem fiéis para suas igrejas.

"Há 15 dias insisti com o embaixador. Quando os brasileiros vão poder abrir igreja na Índia? Vejo nas ruas aqui muito guru, vendendo incenso, coisas de vocês. Ele disse: 'Senador, nós não temos o menor interesse'. Eu disse: 'O sr. sabe que há pastores na Índia'. Ele respondeu: 'Mas é uma ofensa ao país'. 'O sr. chama de ofensa. Nós chamamos de amor às almas'", relatou o senador.

Ele descreveu a nação asiática como "um país de uma ignorância" por sua crença na reencarnação de almas em animais como ratos e baratas.

"Os templos dos ratos. As mulheres pobres passam lá para dar arroz todos os dias de manhã. É uma coisa indigna", afirmou ele.

HOMOSSEXUAIS

Outro vídeo, divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", contradiz seu discurso de que abandonou a intolerância religiosa ao entrar na política.

Ele relaciona a homossexualidade de uma pessoa com o desejo de sua mãe em fazer um aborto durante sua gestação. A pregação, num templo da Universal, foi feita em 2012 –dez anos após vencer sua primeira eleição.

"Vocês já repararam como os homossexuais são devotados as suas mães? Já repararam como os homens que se relacionam com outros homens têm verdadeira idolatria pela imagem da sua mãezinha querida? 'Mamãe, mamãe, mamãe, minha mãezinha, minha mãezinha'. Você vê como uma criança pode sofrer no útero da mãe", diz ele.

"De tal maneira é a vida, que muitas vezes a gente acusa pessoas, às vezes acusam e tratam tão mal um homossexual sem saber os dramas que ele vive, as angústias que ele sofre, os seus problemas. Às vezes se diz: 'fulano é um pau que nasce torto, e não tem jeito'. Às vezes, a mãe tentou um aborto", afirma.

Ele também relaciona a intenção de fazer um aborto com o envolvimento de jovens no tráfico.

"Imagina você estar no útero da sua mãe e a sua mãe, por uma série de problemas, tentar te matar, não conseguir. Como depois você vai encarar o mundo? É difícil", diz ele.

Em nota, o candidato do PRB afirma que a frase sobre homossexuais é destacada num "momento eleitoral" com o objetivo de "carimbar no candidato uma visão de intolerância que não corresponde à sua vida pública".

A nota diz que "o sentido da longa explanação de onde as palavras foram retiradas" é de "fraternidade, compreensão e tolerância".

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