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Greca elogia Temer e diz não ter vergonha da sua história

Giuliano Gomes/Folhapress
O candidado à Prefeitura de Curitiba Rafael Greca (PMN) votou por volta das 11h15 deste domingo (2) no Colégio Júlia Wanderley - Foto: Giuliano Gomes *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Rafael Greca, do PMN, após votar no primeiro turno

Em entrevista à Folha na reta final da campanha, o ex-prefeito de Curitiba Rafael Greca (PMN), que concorre ao cargo novamente, elogiou o presidente Michel Temer (PMDB), que qualificou como "muito culto e cuidadoso", e disse não ter vergonha da sua trajetória política.

Ao som de música clássica, Greca, 60, voltou à carga contra seu adversário, o deputado Ney Leprevost (PSD), e criticou sua "falta de experiência" e sua formação (ele é graduado em um curso a distância no Tocantins).

Dizendo-se cansado, demonstrou irritação em alguns momentos da entrevista. Em cima da mesa, um jardim japonês o distraía. "É bom contornar as pedras do caminho", afirmou, enquanto deslizava uma pazinha na areia.

Antigo aliado do ex-prefeito Jaime Lerner, do atual senador Roberto Requião (PMDB) e, hoje, do grupo político do governador Beto Richa (PSDB), citou a frase do filósofo espanhol José Ortega y Gasset ("O homem é o homem e a sua circunstância"). Afirmou ser contra as ocupações de escolas no Paraná e disse que seu diferencial será "a alegria de servir".

*

Folha - A sua propaganda eleitoral começou a criticar incisivamente seu adversário. Por que essa guinada ofensiva?
Rafael Greca - Porque o que é, é. O que não é, não pode ser. A gente tem que mostrar para a cidade como é o nosso adversário. Ele não é um bom moço. Ele não tem experiência, nem educação.

Foi uma estratégia calculada?
Foi muito pesquisado. A minha recomendação foi que a verdade fosse o método. Eu não tenho interesse em falsidade de versões. Ao contrário dele, que pinta na sua propaganda eleitoral um Rafael que eu não sou. Por exemplo, quando põe um retrato meu com o ex-governador Requião e o ex-presidente Lula.

Mas o retrato é verdadeiro, não?
É Ortega y Gasset: a política é o homem e suas circunstâncias. Eu não tenho vergonha da foto. Estar ao lado do Presidente da República e do governador do Estado no momento de assinatura de um convênio que rendeu casas populares e um canal de água limpa é uma coisa boa para Curitiba. A gente não tem que ter vergonha desse momento. Aliás, da minha história inteira, não tenho vergonha de nada.

O sr. faz uma associação de Leprevost com o PCdoB; sua propaganda o pinta como comunista.
Não é uma associação, é uma verdade. Eu não faço nada disso. Eu só digo que o partido dele está na aliança. Não está? Ele não está usando o horário do PCdoB? Então não diga que sou eu, é ele.

Ele o acusa de desespero, porque o sr. tinha a possibilidade de ganhar no primeiro turno.
Veja, eu ganhei no primeiro turno. Ou não? A eleição vai até domingo. Toda pesquisa de opinião é treino; o jogo é domingo.

O sr. acredita que cometeu um erro no primeiro turno?
Não. Eu sou um engenheiro, eu estudei estatística. Eu sei que um número não é bem um número, que há uma margem de erro. Pelos nossos trackings, que eu não posso divulgar, eu estou na frente. E vou ganhar a eleição.

O sr. já disse que a atual gestão está paralisada. Como o sr. pretende governar, mesmo em tempos de crise?
Eu não disse que está paralisada; a cidade sabe que está paralisada. Nem os sistemas semafóricos da cidade estão conversando entre si. Atravessar alguns cruzamentos de Curitiba hoje é similar a atravessar uma rua de Bangladesh, ou de Calcutá. No dia 3, eu entrarei no Ippuc [Instituto de Planejamento de Curitiba] e organizarei a transição. Espero da atual administração a ética de me permitirem deixar desmanchar todas as possíveis bombas-relógio que possam explodir no começo da gestão. Não ter recursos para limpar a cidade, não ter possibilidade de informação, não ter equipes de conservação... Vou começar a trabalhar já.

O sr. é de um partido pequeno, o PMN. Com quem vai governar, caso seja eleito?
Vou governar com os funcionários da prefeitura, os meus colegas da Urbs, do Ippuc, da secretaria das Finanças, do Trabalho. Essa visão antiga de política não vai existir comigo. Eu fui para Brasília, fui ministro, vi e não gostei. Fui deputado federal e não gostei também. Havia pouca efetividade, e o meu espírito é de realizar.

O que está achando do governo de Michel Temer (PMDB)?
Eu não estou acompanhando muito porque estou na campanha. Mas vejo a vontade de acertar. O Henrique Meirelles [ministro da Fazenda] é uma pessoa que merece consideração. Eu gosto dele, sabe? Porque, quando ele ainda era do BankBoston, ele me chamou para falar sobre a preservação do patrimônio cultural. Ele queria fazer isso em São Paulo. E eu vi que há luz ali naquele coração. Não é um coração de banqueiro; é um coração sensível. O presidente Temer é um estimado amigo meu; nós dividíamos o avião quando eu era ministro e ele era presidente da Câmara. É uma pessoa muito informada, culta, cuidadosa. O presidente é muito cuidadoso no que faz.

Ele tem sido criticado por constantes recuos em medidas de governo.
Faz parte da democracia. Eu, como futuro prefeito, não vou falar mal do Presidente da República, porque estou louco que ele me ajude.

Qual sua opinião sobre a Operação Lava Jato? Acha que há excessos?
Eu acho formidável que aconteça. É uma pena que tenhamos que tê-la tido. Seria muito mais bonito para a história do Brasil se os personagens da Operação Lava Jato tivessem sido próceres da República e feito o Brasil avançar. Mas agora tem que ir até o fim e merece todo o apoio da sociedade. [Os supostos excessos] são uma questão de foro jurídico. Eu não sou informado o suficiente para saber se procede ou não.

O sr. recentemente pediu à Justiça uma perícia na sua chácara, onde há a suspeita de que existam objetos furtados de um museu municipal. Por que não fez isso antes?
É uma coisa que vai me confortar porque eu fui muito atingido, e naquilo que fiz de maior amor. Eu dediquei a minha vida ao resgate da história de Curitiba. Eu e minha mulher fomos atingidos com vilania naquilo que é o mais forte na nossa alma curitibana, que é o amor pela cidade. Foi uma coisa sórdida, imperdoável. E foi reconhecida como perseguição política pelo Tribunal de Justiça, que suspendeu a sindicância [da prefeitura]. Porque é muito difícil explicar, no chão de fábrica, na favela ou no bairro popular, que coisas do mesmo estilo podem ser iguais. Ou que móveis art nouveau e peças de ferro do século 19 eram reproduzidas em série. Eles me obrigaram a ter que dar uma aula de estética do século 19. Por isso que eu não abri no momento. Mas agora eu vou abrir. Era um desrespeito, uma violência.

Qual sua opinião sobre as ocupações de escolas no Paraná?
É muito triste. Hoje [dia 25] nós amanhecemos com um menino morto, de 16 anos, esfaqueado. O uso da escola pública pela ideologia política, qualquer que seja ela, é uma tragédia. Eu sou contrário ao uso da escola para interesses alheios à causa da educação. Aqui no Paraná, a secretaria da Educação manifestou que não vai extinguir os cursos de Educação Física e Artes. De maneira que, aqui no Paraná, a ocupação é, no mínimo, descabida. Poderia haver uma manifestação contrária às restrições das verbas da educação pelo governo federal. Eu não sou contrário a isso. Mas sou contrário ao uso da escola para interesses soturnos.

Que interesses são esses?
Não sei. O que leva uma pessoa a ser esfaqueada numa escola ocupada? A senhora que é repórter, eu não sou. São interesses políticos.

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