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Análise

Eleição de bispo no Rio marca ascensão de pastores evangélicos na política

Ricardo Borges/Folhapress
Marcelo Crivella comemora vitoria na eleição da Prefeitura do Rio de Janeiro
Marcelo Crivella comemora vitoria na eleição da Prefeitura do Rio de Janeiro

A eleição de Marcelo Crivella é um marco na ascensão dos pastores evangélicos na política brasileira.

Bispo da Igreja Universal, fundada pelo seu tio Edir Macedo, o senador comandará a Prefeitura do Rio, segunda maior cidade do país.

Sua vitória deve abrir uma nova trincheira para a atuação das igrejas neopentecostais, que concentram esforços na eleição de parlamentares desde a década de 1990.

Embora Crivella afirme não misturar política com religião, sua gestão será vista como laboratório de um plano maior. Há cinco anos, ele afirmou a uma plateia de pastores que só virou candidato por ordem da Universal.

"Os evangélicos ainda vão eleger um presidente da República, que vai trabalhar por nós e nossas igrejas", disse, na ocasião. O orçamento da prefeitura, que o bispo assumirá em janeiro, gira em torno de R$ 30 bilhões anuais.

Mapa da apuração no Rio de Janeiro

Crivella é filiado ao PRB, partido controlado pela Universal e ligado à TV Record. Ele é tão pragmático quanto sua igreja. Disputou várias eleições em aliança com o PT, foi ministro da Pesca no governo Dilma Rousseff e votou a favor da abertura do processo de impeachment.

Hoje, seu partido integra a base do governo Michel Temer. O ministro do Desenvolvimento, Marcos Pereira, também é bispo da Universal.

Crivella chegou ao Congresso graças à fama como cantor gospel. Na primeira corrida ao Senado, em 2002, era praticamente desconhecido fora do meio evangélico. Mesmo assim, venceu políticos experientes como Leonel Brizola e Artur da Távola.

Depois disso, disputou em quase todas as eleições majoritárias no Rio. Perdeu duas vezes para governador e duas para prefeito antes de superar Marcelo Freixo (PSOL) neste domingo (30).

Responsável pela expansão da Universal na África, Crivella levou a oratória do púlpito ao palanque. Seus pronunciamentos são pontuados por metáforas bíblicas e costumam afirmar valores conservadores, como a defesa da família tradicional e a proibição do aborto.

No entanto, o senador chegou mais longe que outros pastores ao se apresentar como moderado e contrário à intolerância. O discurso será posto à prova nos próximos quatro anos. Na campanha, ele prometeu não cortar o apoio oficial à Parada Gay e ao Carnaval, principal atração turística da cidade.

Autora do livro "Política e Religião - A Participação dos Evangélicos nas Eleições" (editora FGV), a socióloga Maria das Dores Campos Machado diz que a origem de classe média ajudou o senador a vencer resistências e se aproximar do empresariado.

"Crivella é branco, tem nível superior e se articula melhor que a média dos pastores. Ao mesmo tempo, investiu muito na imagem de conciliador, o que o ajudou a atrair eleitores católicos", avalia a professora da UFRJ.

Ela ressalta, no entanto, que a religião não foi o único motor da vitória. O bispo aproveitou a guinada à direita que marcou as eleições municipais para ampliar a vantagem sobre o rival do PSOL no segundo turno.

"Crivella surfou a onda conservadora que cresce em todo o país", resume a socióloga.

Numa cidade que acaba de passar por grandes transformações para sediar a Olimpíada, o novo prefeito chega ao poder com um discurso tipicamente populista. "Chega de obras, chegou a hora de cuidar das pessoas", diz seu slogan de campanha.

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