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18/04/2011 - 03h00

Em Cingapura, professor recebe salário enquanto estuda

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JULIANA DORETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Leia a seguir a íntegra da entrevista com o professor Lee Sing Kong, diretor do NIE (Instituto Nacional de Educação, em inglês), única instituição que forma docentes em Cingapura. Ele veio ao país para participar do segundo Seminário Internacional de Práticas Inovadoras para a Educação, promovido na semana passada, em São Paulo.

O instituto foi importante para a última reforma educacional do país, desenvolvida na década de 90, a "Thinking Schools Learning Nation" [Pensando escolas, nação aprendendo, em tradução livre]?

O NIE desempenha um papel fundamental em todas as iniciativas de reforma na área, já que os professores devem entender o que elas [as reformas] significam e saber que são instrumentos para que tenham impacto. Com o lançamento da "Thinking", em 1997, o papel dos professores mudou: de apenas transmitir conteúdo para contribuir para o desenvolvimento integral de todos os alunos, ajudando-os a descobrir seus talentos. Tomemos a ciência como exemplo. Se os professores fazem perguntas para criar uma curiosidade entre os estudantes, os alunos podem ser encorajados a pensar e a descobrir. Com a mudança do papel dos professores, a nossa forma de treinar também deve evoluir.

Como o instituto cuida da formação de professores em Cingapura?

O recrutamento de candidatos para o ensino público é realizado pelo Ministério da Educação (MOE), com ajuda do NIE. Logo, todos os estudantes-professores são na verdade funcionários do MOE. O ministério paga os custos da formação, e os professores alunos também recebem um salário enquanto estudam. Nosso trabalho principal é treinar professores iniciantes, mas também oferecemos pós-graduação para professores já em serviço. Em média, o NIE forma cerca de 2.000 professores iniciantes anualmente e aproximadamente 700 mestres.

Como os professores podem progredir na carreira?

Os professores em Cingapura são avaliados anualmente. Os critérios estão claramente expostos no "Enhanced Performance Management System" [Sistema de Gestão de Desempenho Aprimorado]. Diretores, vice-diretores e chefes de departamentos usam esses critérios para avaliar os professores, face a face. O processo de avaliação também ajuda os professores a orientar seus caminhos de desenvolvimento profissional. Professores com um bom desempenho são promovidos.

O NIE também desenvolve novas práticas de ensino que são adotadas nas escolas. Como isso funciona?

O NIE, sendo o instituto nacional de formação de professores, realiza extensa pesquisa com o objetivo de adotar os resultados nas práticas de sala de aula. Trabalhamos em estreita colaboração com os professores no processo de condução dessas pesquisas e, se forem implementadas, oferecemos treinamento profissional sobre como adotar tais práticas. A capacidade dos professores precisa ser construída antes que qualquer mudança nas práticas de sala de aula possa ser introduzida.
Um exemplo simples é o uso de dispositivos móveis para a aprendizagem contínua. Palmtops ou celulares têm sido adotados como ferramentas que permitem aos alunos aprender dentro e fora da sala. Os professores são preparados para facilitar essa aprendizagem. Então, isso é adotado em algumas escolas e depois ampliado para outras.

As escolas de Cingapura têm autonomia e têm de definir algumas metas de trabalho, cenário que lembra o mundo dos negócios. Isso funciona em um sistema educacional?

O Ministério da Educação tem uma estrutura chamada de "Modelo de Escola de Excelência", que orienta as escolas sobre como planejar suas metas e estratégias de desenvolvimento. Cada escola é diferente da outra e cada escola pode definir seus próprios objetivos e estratégias. Isso oferece a autonomia de traçar seu ritmo de desenvolvimento. Esse modelo também orienta as escolas em como avaliar seu progresso e suas realizações. A cada cinco anos aproximadamente, um grupo de avaliação externa vai visitar a escola.

O senhor acredita que a experiência de Cingapura possa ser usada aqui?

Uma diferença fundamental é que o sistema de ensino no Brasil é muito maior que o de Cingapura. Um país não pode transportar totalmente o sistema de outro país, já que o contexto, a cultura e o "ethos" nacional podem ser diferentes. Mas podemos sempre aprender uns com os outros. O sistema de Cingapura tem evoluído assim.

Editoria de Arte / Folhapress
 

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