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E o panda com isso?
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BARBARA GANCIA
Colunista da sãopaulo
Quem me vê no Twitter com minha boca de marinheiro emitindo cobras, lagartos e o vírus do ebola pelo orifício mais barulhento da cabeça pode até reconhecer ali uma mulher sólida, senhora de si e de suas escolhas que navega pelas águas turvas da controvérsia sem nunca ser demovida de seu curso.
Pois saiba você, amigo leitor, que sou um poço de insegurança, um bambu fragilizado por um inverno de incertezas que está prestes a ser devorado por um panda gigante surgido no alvorecer da primavera depois de meses hibernando. Ultimamente, ando acordando no meio da noite de sobressalto. Vejo as olheiras do panda diante de mim e logo me transformo no seu lanche, com direito a um Toddy e uma fatia de bolo, por conta de um malparado móvel de cozinha (ainda a minha interminável reforma).
Maria vai com as outras que sou (pois é, gramínea bambusácea em um parágrafo, florzinha noutro e assim vamos carpindo), aderi à cor que o homem me sugeriu e só depois de ver o móvel instalado na minha frente -todos os dez metros inteiros de extensão dele- é que fui me dar conta de que se tratava da tal cor da moda que a gente agora vê em toda parte. E ela me persegue pelas ruas.
Olho pela varanda e tome o verde Tiffany na lixeira da calçada de lá. Se você não sabe do que estou falando, pense verde água, dá na mesma. Como é de conhecimento mundial, santo Expedito está sentado à direita de Deus (não?). E são Longuinho está à sua esquerda. Pois é, foi promovido de tanto achar óculos e controles remotos. Agora então que os chineses também estão consumindo, ele dobrou o expediente, aumentou o bônus e deu um salto meteórico na carreira. Acabou lá, sentado à mesa do Senhor. Uma honraria e tanto, quase como jantar na mesa do capitão do navio.
Pois esbarrando ombros com são Longuinho, tilintando talheres com o antigo legionário romano que se notabilizou por encontrar objetos perdidos e ganhar três pulinhos de desmemoriados, está o famosíssimo santo das Cores. Não conhece, minha senhora? Pois é aquele santo muito do talentoso que dá nomes intricados para cores saídas de uma lata.
Pensa que foi sua manicure que mudou o nome do esmalte "vermelho paixão" para "rosso Ferrari"? Foi não. Foi o santo que dá nome às cores. Crê que foi são Pedro quem inventou o "cinza Ubatuba"? Nananina, Pedroca limitou-se a fazer chover no litoral de sexta a domingo, o espírito de porco. O nome da cor, que, de "pewter" passou para "titânio", foi o santo das Cores quem outorgou.
Você não o conhece porque o santo das Cores é "low profile". Eu fico verde-exorcista de raiva com gente que não gosta de se exibir, mas o que se há de fazer? Algum mister inventou de chamar o verde água de "verde Tiffany", colocou-a em tudo que é lugar, em banco de espera de ponto de ônibus, em barraco na Rocinha, até em caracteres na TV e mais sabe lá quantas quinquilharias que estão aportando agora mesmo em Santos e eu resolvi ceder ao apelo e fazer minha cozinha inteira dessa cor.
Vai ver, nasci para bonequinha de luxo e também quero minha caixinha da loja de joias mais simpática do mundo. Se bem que, no momento, eu troco qualquer joia pelos óculos e o controle remoto perdidos nas caixas da minha mudança.
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