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Cineasta revela nuances da música brega em documentário
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ANA ELISA FARIA
DE SÃO PAULO
O encanto da cineasta carioca Ana Rieper, 37, pela música brega começou há quase 14 anos, quando morou em Aracaju, entre 1998 e 2002.
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Também geógrafa, ela passou boa parte do tempo em que viveu por lá viajando a trabalho pelo interior de Sergipe, conhecendo pessoas e ouvindo canções de figuras como Reginaldo Rossi, Amado Batista, Lindomar Castilho e Odair José.
Divulgação |
Diretora carioca Ana Rieper (foto), de "Vou Rifar Meu Coração", documentário na programação do In-Edit |
De letras novas para seus ouvidos, Ana foi, ao longo dos anos, se apaixonando por elas. "Me interessei pelo gênero e percebi que a música brega não tem metáforas. Ela é descritiva. É uma crônica dos costumes e da vida amorosa popular", diz a diretora em entrevista à sãopaulo.
Em 2011, depois de muitas pesquisas pelo Nordeste e letras cantadas, saiu o documentário "Vou Rifar Meu Coração", que revela nuances do imaginário afetivo, erótico e romântico do brasileiro a partir da análise da dita música brega e de entrevistas com intérpretes e autores dessas obras.
O longa, que já passou por festivais em Guadalajara, Tiradentes e Goiânia, integra a mostra competitiva do In-Edit, que acontece em São Paulo até o dia 10.
Abaixo, Ana Rieper fala sobre seu trabalho.
*
sãopaulo - De onde surgiu seu interesse pela dita música brega?
Ana Rieper - Comecei a me aproximar desse universo e a elaborar a ideia do filme quando vivi em Aracaju, entre 1998 e 2002. No tempo em que morei lá, passei a ouvir, a conhecer, a entender e a gostar de uma música que, para mim, era nova, mas estava arraigada à cultura daquele lugar. Eram canções populares, fortes, muito presentes e concretas. Me interessei pelo gênero e percebi que a música brega não tem metáforas. Ela é muito descritiva. É uma crônica dos costumes e da vida amorosa popular. Então, refleti a respeito, juntei uma coisa com a outra e resolvi fazer um filme a respeito do imaginário romântico e erótico popular a partir da música brega.
Como você encontrou os personagens do filme?
Tive duas frentes de inspiração para essa pesquisa de personagens. A primeira foi minha experiência nesses lugares no tempo em que morei lá, as pessoas que conheci e as situações que me chamaram atenção para eu ter a ideia de fazer o filme. E a segunda frente, que foi muito importante e decisiva nos caminhos que "Vou Rifar" tomou, foi uma análise do conjunto de músicas desse universo. A partir de uma leitura atenta das letras de um número muito grande de músicas, eu identifiquei personagens e históras recorrentes. Ou histórias relevantes de alguma música que tivesse sido muito importante, como, por exemplo, "Vou Tirar Você Desse Lugar", do Odair José. A partir disso, a gente foi a campo atrás dessas histórias na vida real.
E as pessoas toparam falar facilmente?
A grande maioria, sim, e de uma maneira muito aberta e corajosa. Muitas pessoas falaram sobre tabus e temas íntimos de uma forma tranquila. Outras pessoas, não. Tivemos várias baixas ao longo do caminho justamente por se tratar de um filme que expõe as feridas sentimentais das pessoas e experiências de vida que, nem sempre, são socialmente aceitas. Então, alguns personagens foram pulando fora durante o processo. Mas a maior parte ficou e eu sou muito grata a elas. Procurei fazer com que o documentário fosse uma homenagem a essa coragem das pessoas que se abriram para as câmeras.
Você enxerga algum paralelo entre seu filme e "As Canções", do Eduardo Coutinho?
Acho que o paralelo existe apenas na temática. Considero meu filme um trabalho etnográfico porque ele tem uma ligação muito forte com uma base cultural, com os visuais dos lugares em que essas pessoas vivem. Isso no meu filme vem junto com as histórias das pessoas e das músicas. E não é o caso do filme do Coutinho, absolutamente. Não quero fazer uma crítica, de maneira nenhuma, mas o documentário dele é mais formalista, tem uma preocupação mais formal.
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