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Contra marasmo, catedral da Sé arma chá da tarde e tenta atrair noivos
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CHICO FELITTI
DE SÃO PAULO
De volta ao marco zero da fé paulistana. A catedral da Sé, que pontua o centro geográfico da cidade, quer voltar a ser um dos templos mais visitados de São Paulo. Com esse intuito, contratou uma empresa para atrair casamentos à sua nave, planeja um chá semanal nos moldes do "brunch" do mosteiro de São Bento e corre atrás de reformas que reabrirão ao público seus chamarizes, como o órgão.
"O plano é trazer mais visitantes para que a catedral seja cada vez mais conhecida e apreciada pelo público", diz o cônego Walter Caldeira, 62, há três anos à frente da catedral Metropolitana de São Paulo (seu nome oficial), que começou a ser erguida há cem anos, mas só foi aberta em 1954.
Hoje, 2.000 pessoas vão à Sé diariamente, segundo estimativa do pároco. Se fossem reunidas de uma só vez, caberiam todas em pé dentro desta que é uma das maiores igrejas do mundo, com 5.700 m² de área total.
Para alavancar as visitas, há um ano Caldeira firmou parceria com a empresa que bolou o "brunch" quinzenal do mosteiro de São Bento, com ingresso a R$ 140 e espera de um mês.
"Agora, o plano é fazer um chá da tarde, talvez um chá das cinco, atrás do altar", diz Vinicius Favale, diretor da agência Múltipla, contratada para realizar eventos no local. O chá, diz ele, deve estrear ainda neste semestre.
Enquanto o encontro vespertino é um plano, faz um ano que a mesma empresa trabalha reforçando a possibilidade de a Sé abrigar casamentos. Um dos atrativos é o preço do aluguel. A maior nave de São Paulo (são 23 metros) abriga 800 pessoas e sai por R$ 3.000, com equipe de segurança e a possibilidade de carros irem até a porta do templo. O mosteiro de São Bento, por exemplo, cobra o dobro.
Danilo Bitencourt Mariano e Priscila Cristina Pinto Bitencourt Mariano gastaram R$ 10 mil extras para se casar na Sé em janeiro. Capricharam na decoração e reforçaram a segurança.
"Eles foram contratados apenas para preservar os convidados e a noiva do incômodo que os moradores de rua poderiam causar. Mas não houve problema", conta Danilo.
Outros noivos que cogitaram a igreja, mas desistiram, citam a segurança como empecilho. "É um lugar lindo, dos sonhos, mas minha mãe não ficaria tranquila andando aqui à noite", diz Marília Umutz, 28, que decidiu se casar numa chácara em 2014.
A opinião de Marília parece prevalecer. A sãopaulo apurou que a Sé tinha, até março, apenas mais dois casamentos agendados para o ano.
A igreja tenta arrecadar de outras formas. Há dois anos cobra R$ 5 para turistas verem a reprodução do Santo Sudário, tecido em que o corpo de Jesus foi envolvido, trazida da Itália e disposta na cripta. A taxa também permite vislumbrar o túmulo do Regente Feijó, ex-governante do Brasil.
Mas o aumento da arrecadação encontrou gastos imprevistos. No começo do ano, um homem danificou a imagem de Jesus Morto, do lado esquerdo do altar. Após o incidente, que custou R$ 3.000 em restauração, a catedral pôs no seguro outras imagens sagradas, dizem funcionários.
A Sé não comenta seu orçamento, mas diz no site oficial que "toda receita está no que ela arrecada a cada dia, nos cofres ou na secretaria, por isso há muito o que fazer nesse templo grandioso e não há verba para manutenção".
É por falta de conservação que o maior órgão de tubos do Brasil, com 10 mil canos metálicos, está mudo. Ele foi restaurado em 1997, com patrocínio de um banco, mas deixou de funcionar anos depois. "Nunca mais houve serviços mínimos de manutenção", diz o organeiro Ricardo Clerice.
Clerice conta que, após a reforma, o órgão ficou embaixo de vitrais quebrados e era vítima da chuva. O novo restauro foi orçado em € 3,5 milhões (R$ 7,7 milhões) pela igreja, em processo apresentado ao Condephaat (órgão estadual de defesa do patrimônio). Caso seja aprovado, a catedral ainda terá de captar dinheiro privado para que seu som volte a ser ouvido.
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