Maluf conta por que desistiu da eleição para a Prefeitura de SP
"Se você me perguntar: 'O senhor gostaria de novo de ser prefeito?' Vou dizer: 'Sim'. Foram os melhores momentos da minha vida. Mas reconheço que cheguei aos 80 anos. Na política, precisa haver uma renovação."
Paulo Salim Maluf está fora da disputa para a prefeitura paulistana. Será a terceira vez, após a redemocratização do país, que ele não concorre ao cargo -participou de cinco das sete eleições desde 1985.
A saúde está boa, diz ele, atualmente no terceiro mandato como deputado federal. "A gente tem de saber que a idade chegou. Se alguém quiser sugestão, acho que seria um bom conselheiro. Agora, ser executivo, fazer carreata, disputar eleição... Daria, mas não devo", diz, descartando influência da família na decisão. Engenheiro civil formado pela USP, é casado desde 1955 com Sylvia, com quem tem quatro filhos, Flávio, Octávio, Lina e Lygia.
Pouco antes de confirmar sua saída de cena à sãopaulo, ele apontou -do 11º andar da sede da Eucatex, sua empresa, na zona sul- para a marginal Pinheiros. "Construí aquela avenida." Virou-se depois para o parque do Povo, perto dali. "Fiz um acordo com a Caixa, dona do terreno, e ela cedeu parte dele para a cidade."
Lista obras, uma a uma, mais de uma vez, como se estivesse em campanha. Nega se sentir injustiçado por ter saído derrotado das três últimas eleições municipais (2000, 2004 e 2008).
"Essa é a democracia. Não tem choro nem vela", afirma o político, que em 2005 ficou 40 dias detido na sede da Polícia Federal na Lapa, zona oeste. Teve a prisão preventiva decretada, ao lado do filho Flávio, sob acusação de lavagem de dinheiro. Maluf nunca foi condenado definitivamente.
Desde 2010, figura na lista de procurados pela Interpol por roubo, fraude e lavagem de dinheiro -assim, não pode viajar ao exterior para não ser preso. Sobre as acusações, já disse que sua ficha é "a mais limpa do Brasil, de 43 anos sem nenhuma condenação".
Maluf trabalhava na empresa da família, a Eucatex, quando se tornou prefeito pela Arena, nomeado pelo marechal Costa e Silva, em 1969, na ditadura militar. Ficou até 1971 e voltou em 1993, eleito pelo voto direto.
Três anos depois, quando a lei ainda não permitia a reeleição, apoiou seu então secretário Celso Pitta e pediu voto: "Se ele não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim".
Pitta terminou o mandato em meio a suspeitas de corrupção. O padrinho, coincidentemente, perdeu todas as eleições para prefeito dali em diante. Nem por isso atribui hoje as derrotas ao afilhado, morto em 2009. "Ele não me traiu. Traiu a população."
Isadora Brant/Folhapress | ||
Fora da disputa: Paulo Salim Maluf no Clube Atlético Monte Líbano, no Ibirapuera, zona sul da cidade |
O melhor prefeito
Maluf filosofa sobre as derrotas. "Toda eleição tem seu encanto e sua lição." Ao ser questionado sobre quem considera ter sido o melhor prefeito, dispara: "Acho que a humildade me impede de contestar o Datafolha", diz, aos risos, referindo-se à pesquisa de dezembro de 2011 na qual recebeu o maior índice (47%) de ótimo/bom entre os últimos prefeitos.
Maluf também recorre ao levantamento ao ser indagado sobre a gestão Gilberto Kassab (PSD). "É difícil saber o que está acontecendo em toda a cidade. Então, me baseio nas pesquisas. O Datafolha não lhe dá uma posição muito favorável." Kassab aparece em quinto lugar (20%), à frente de Jânio Quadros e Pitta.
Neste ano, Maluf e o PP, cujo diretório estadual ele preside, decidiram apoiar o candidato do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que vê José Serra como a melhor opção. "Estamos aguardando a definição deles [tucanos]. Agora, nunca fiquei em cima do muro. Ficar em cima do muro não honra político." A previsão é que ocorram no dia 25/3 as prévias do PSDB, da qual Serra decidiu participar na última semana. Do encontro sairá o candidato tucano à prefeitura.
Independentemente do escolhido, Maluf sugere ao correligionário muito trabalho. "Porque, quem for eleito, terá um trampolim importante para a história. Vai ser nome de avenida."