Ex-detento do Carandiru, rapper Dexter grava DVD com Seu Jorge e Mano Brown
Por longos anos, Dexter foi "aquele cara que cumpre pena no Carandiru e faz rap". Em liberdade há dois anos, o músico paulistano segue construindo novos e mais justos epítetos.
O rapper, que começou a carreira no grupo 509-E, em 1999, gravou seu terceiro DVD, "A Liberdade Não Tem Preço".
O show neste domingo (21), no Carioca Club (zona oeste de São Paulo), teve um diferencial: referência do hip-hop, Dexter contou com a participação de nomes fortes do samba e da MPB, como Péricles, Guilherme Arantes, Paula Lima e Katinguelê.
"O rap é uma extensão de estilos que compõem a música negra. Em 1990 já construíamos rimas usando samples de Jorge Ben, Bebeto, Cassiano, Marvin Gaye. A mistura só enriquece a nossa música", diz.
Para ele, o crescente reconhecimento do hip-hop é bem-vindo também porque "dá o privilégio de dividir o palco com esses grandes artistas" de outros espectros.
No palco com ele os parceiros contumazes do gênero versado, como Mano Brown, Kl Jay, Edi Rock, DJ Hum, Thaíde e Max B.O., que apresenta o programa "Manos e Minas", da TV Cultura, e será o mestre de cerimônias do evento.
"Hoje, outros estilos [além do rap] também estão presentes na periferia. Por outro lado, o rap está mais presente em outras camadas sociais. Vejo isso como uma interessante inversão de valores", aponta o músico.
ABAIXO, CONFIRA A ENTREVISTA COM DEXTER:
sãopaulo - Como você vê a cena do rap hoje em SP? É um grande momento?
Dexter - O rap sempre muda positivamente a vida de alguém. A cultura hip-hop, que inclui o rap, é algo que salva vidas. De vários anos para cá, é a única música que reúne milhares de pessoas para falar de consciência política, social, racial e de outros temas que não são abordados por outros estilos. Por esse motivo, para mim o rap sempre estará em um grande momento.
Por outro lado, acredito que perdemos espaço em casas de show. A cena já não é como nos anos 90, quando o rap era o carro-chefe em toda a periferia de São Paulo, nos automóveis, nos bares, nas residências e nas festas. Hoje, outros estilos também estão presentes. Mas o rap está em outras camadas sociais. Vejo isso como uma inversão de valores.
Sempre foi uma característica do rap buscar a miscigenação com outros gêneros, como samba e soul, ou se trata de um processo recente?
O rap é uma extensão desses estilos, que também fazem parte da música negra. Eles sempre se misturaram. Em 1990, já construíamos rimas usando samples de Jorge Ben, Bebeto, Cassiano, Marvin Gaye, James Brown e tantos outros. Essa mistura só enriquece a nossa música. Acredito que, ao contrário da indústria padronizada, o rap valoriza ícones da nossa música que muitas vezes estão esquecidos. Com o crescente reconhecimento do rap, hoje, temos o privilégio de dividir o palco com alguns desses artistas.
Quais suas melhores memórias dos "bailes de antigamente" que inspiraram esse espetáculo?
O romantismo. Antigamente, dançávamos músicas lentas, samba-rock, floreado, e o próprio baile era feito de outra forma. As pessoas saíam para curtir. O DJ sentia prazer em colocar as pessoas para dançar, interagia com o público. Hoje, são bem poucos os que estão preocupados com a qualidade das festas e das músicas, tanto em relação ao público como em relação aos "profissionais" que realizam os bailes.
Como costuma ser seu processo de composição? Você começa sempre pelas palavras ou por alguma melodia?
É relativo. Nem sempre uma coisa depende da outra. No meu caso, consigo escrever sem a batida, como também escrevo quando ouço uma batida que me inspira. Não existe uma regra. O rap é a música da liberdade.
Você fica nervoso por pensar que vai gravar a apresentação ao vivo ou a pressão já não bate?
Não diria nervoso. Fico ansioso, sou detalhista. Gosto quando as coisas saem da maneira que planejei. Embora eu não seja uma pessoa perfeita, gosto de buscar a perfeição em tudo o que faço, principalmente na música.