Garçom mais pop da Vila Madalena se despede da capital paulista
A saudade já está apertando os boêmios da Vila Madalena. É que todos foram pegos de surpresa com a antecipação da saída do garçom Ailton Manoel da Silva, 44, do bar Genial, no dia 24 de julho.
Ailton já havia avisado sobre a despedida, mas seria só em outubro. Foi um desentendimento com o filho de um dos donos do bar que abreviou seu aviso prévio. "Não foi nada demais, já nos desculpamos. Tenho o maior respeito por todos, mas confesso que fiquei constrangido em voltar ao trabalho depois disso e tirei umas férias", explicou.
Justo ele, que tem o dom da paciência, "mas não sangue de barata, não é? E vamos falar de coisas boas?", pediu, encerrando essa parte do papo.
Pernambucano, de Panelas, ele chegou em São Paulo em 1987. Começou no restaurante Gigetto, passou pelo Piolin, pela Trattoria do Sargento e por outros endereços até ser convidado em 2000 para trabalhar no Filial (dos mesmos donos do Genial), emprego no qual fez fama e pelo qual quer ser lembrado.
"Fiz minha história aqui. Muita gente vinha ao bar por minha causa", conta, orgulhoso.
A gente sabe, Ailton, você não é um simples garçom, é um garçom-psicólogo-motorista-relações públicas-ombro amigo e cozinheiro nas horas do aperto.
Se o cliente fica bêbado, lá vai o Ailton levá-lo embora. Se chega com fome depois que o bar já fechou, ele abre a porta e ainda prepara um filé aperitivo. E, até se o cidadão chega com aquela dor de cotovelo, lá está o Ailton para oferecer conselhos.
O escritor e colunista da Folha Xico Sá escreveu uma vez que o Ailton é daqueles que "devolvem uma certa paz ao universo".
Pois é, no domingo que vem, dia 25, ele começa no novo emprego, em Ilhabela, no litoral paulista. Curiosamente, num bar chamado São Paulo. "Quero qualidade de vida, ir para
o trabalho de bicicleta, criar meus dois filhos numa cidade mais tranquila", explica ele, que mora em Cotia.
Mas, Ailton: antes de ir nos conte o seu segredo para o sucesso.
"Entro no esquema, sei o que faço, faço com seriedade e sempre, sempre falo verdade. Ah, e eu adoro gente, principalmente à noite, no fim de festa, quando estamos todos mais 'reais'", diz o filósofo, que estudou até o fim do ensino médio, quando sonhava em ser caminhoneiro, e se formou na noite, onde descobriu que nasceu para garçom.