'Lollapalooza não cumpre papel como festival', diz produtor da SIM, evento que chega a SP

"No Brasil, festivais e empresas querem se associar a artistas consagrados. Já aqui [na Europa], inteligente é investir em gente promissora", diz com sotaque metade francês, metade lusitano o produtor Fernando Ladeiro-Marques, 55.

Diretor do MaMa-Paris, uma das maiores convenções do mundo sobre o mercado da música, o português ataca a curadoria de festivais como Lollapalooza e Rock'n Rio e lamenta que nova cena musical brasileira seja "desconhecida" lá fora. Após produzir shows na Espanha, República Tcheca, França, China e Irlanda, ele estreia esta semana em São Paulo à frente da SIM (Semana Internacional da Música).

A primeira edição do evento repete a fórmula de convenções estrangeiras como "South By Southwest" (Estados Unidos) e "The Great Escape" (Inglaterra). Mescla de congresso especializado e festival popular, o encontro pretende "fazer com que profissionais se conheçam e fechem negócios" enquanto o "público leigo experimenta novos sons".

Para afinar estes dois perfis, a programação inclui shows com artistas em ascensão (como o rapper Sombra e a Orquestra Brasileira de Música Jamaicana), filmes e debates –como o "dinheiro digital" e a "exportação da música brasileira". Desta última mesa participa o colunista da sãopaulo André Barcinski.

AMADURECIMENTO

"O mercado brasileiro tem que amadurecer e se conectar ao que acontece no resto do mundo", diz Ladeiro.

Na opinião do produtor, falta organização entre artistas, produtores e investidores para trazer dinheiro e apoio político para a música nacional –um dos debates discutirá os impactos no mercado musical do Vale Cultura, projeto do governo federal que dará R$ 50 para consumo de bens culturais a quem recebe até cinco salários mínimos.

"Aqui na Europa, faz mais de 20 anos que os políticos perceberam que música não é só passatempo, mas um movimento econômico, politico e social. Com políticas públicas e bons investidores, novas bandas, festivais e casas de shows se multiplicam", afirma.

E o descompasso brasileiro não seria apenas político. Para Ladeiro, a aposta dos festivais nacionais em figurinhas fáceis como Guns'n Roses, Metallica e Iron Maiden também é dissonante.

A. Detienne/Divulgação
Montagem com imagens de Fernando Ladeiro-Marques, produtor musical português
Montagem com imagens de Fernando Ladeiro-Marques, produtor musical português

"Festival tem que ser descoberta. Essa gente tem 15, 20 anos de carreira. Não precisam de festival, podem lotar 'shows solo' durante o ano inteiro."

Na contramão, a profusão de pequenas casas de espetáculos como as paulistanas Serralheria, Mundo Pensante, Casa do Mancha e Centro Cultural Rio Verde indicaria o "futuro da música".

"Esse é um circuito que se alimenta", justifica. "Quando vamos a um espetáculo, procuramos emoção. Isso depende de proximidade e não acontece num estádio para 15 mil pessoas. Casas pequenas são diferentes, lotam e inspiram outros shows lotados."

O SIM acontece entre 4 e 8 de dezembro em lugares como Praça das Artes e Galeria Olido, na República (centro), e Red Bull Station –casarão dos anos 20 recém-inaugurado na praça da Bandeira (centro).

Músicos mais famosos como Céu, Bonde do Rolê e Curumin também estão na programação.

Aliás, segundo Ladeiro, "famosos" só aqui no Brasil.

"Como profissional, digo que a musica brasileira na Europa ainda é o samba e cantores como Caetano Veloso, o que não é novidade no seu país. Logicamente há bons artistas na nova geração, mas eles são desconhecidos."

O especialista em transformar música em dinheiro clama: "É preciso que seus músicos cheguem até nós."

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