'Pegaram uma pessoa tentando alegrar um lugar', diz grafiteiro que foi preso

"Tinha pessoas fumando crack, traficando e crianças pedindo comida próximo de onde eu estava pintando e eles pegaram uma pessoa tentando alegrar aquele lugar", diz Marcus Vinícius Teixeira Ramos da Silva, 27.

Na madrugada do dia 2 de janeiro ele foi preso após ser flagrado por uma câmera de segurança pintando a parede de uma lanchonete na avenida São João, na região central da cidade.

Três horas depois, foi liberado. No fim do dia, soube que as imagens foram transmitidas em uma reportagem de TV que chamava o artista de pichador. O assunto gerou uma grande discussão na internet sobre arte urbana.

"Em todos os comentários, as pessoas me apoiavam", diz ele, que também é educador e galerista. "O que mais me deixou triste foi ser retratado como um criminoso."

sãopaulo - Como você começou a pintar na rua?
Enivo -Foi em 1998, eu tinha 12 anos. Teve um encontro de grafite no meu bairro, no Grajaú. Eu vi aquilo e fiquei louco. Peguei um dinheirinho que tinha guardado e comprei umas latinhas de spray. Foi uma paixão.

Quando foi o seu primeira abordagem pela polícia?
Sempre tive problema com a polícia, fazendo grafite autorizado ou não. Mas de uns cinco anos para cá a coisa veio melhorando. O grafite começou a aparecer mais na televisão e melhorou a percepção das pessoas sobre isso. Mas ainda tem gente que entende como uma coisa errada.

Por que você opta por deixar seu trabalho no espaço público?
Porque eu gosto de conversar com as pessoas. Gosto de pensar que muda o dia delas ver uma pintura minha, se elas estiverem em um dia triste, cinza. Em cada lugar que eu passo, deixo minha alma ali, a minha história e uma mensagem.

Como deveria ser a política para o grafite na cidade?
Acho que o bom senso deve reinar. Tanto da parte das autoridades quanto do executor, do artista. É o olhar e saber o porquê e aonde ele vai pintar. Tem muitos lugares que se eu fosse proprietário também não gostaria de acordar e ver a minha parede rabiscada.

Qual o lugar ideal para pintar?
São lugares sem vida, muito deteriorados, com essa capa cinza que a cidade coloca. Não me apetece um muro branco ou recém-pintado que eu percebo que o dono tem um zelo. Se o lugar está pintadinho lógico que o dono tem cuidado e vai ficar chateado.

Deveria haver uma curadoria da prefeitura para os grafites?
Quem vai dizer o que é ruim, o que é feio, o que é certo ou o que é errado? Com uma curadoria ia ter meia dúzia de grafiteiros que iriam poder pintar na cidade, porque são muito famosos.

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