'Rolezinho não pode ser considerado crime', diz secretário de Segurança Pública

O que é um rolezinho? A sãopaulo fez essa pergunta a rolezeiros e não-rolezeiros variados. Veja as respostas abaixo:

Rafael Oliveira, 18, rolezeiro
"Rolezinho é diversão, mano, a gente faz no shopping por que lá é um lugar luxuoso e um lugar onde nós nos sentimos bem. Tipo assim, nossa intenção é namorar, dar uns beijos e tal. Só que tem uns "lixo" que não têm dinheiro pra comprar um Mizuno e "vai" roubar. Daí a polícia chega metendo a porrada. Poxa, até gente que não tinha nada a ver, uns rockeiros que estavam no shopping, apanhou lá em Itaquera.

Eduardo, 17, organizador dos rolê do shopping Aricanduva
"O primeiro que a gente fez em Itaquera foi só para amigos, teve menos de 500 pessoas. Shopping é um local aberto de fácil acesso para várias pessoas de fora participar. Nosso objetivo é de jovem: pegar mulher. Até ai tudo bem, tivemos um bom resultado nisso. Falamos: 'vamos fazer o Parte 2'. Aí convidamos geral, em torno de 20 mil jovens, 10 mil confirmados. Não esperávamos tanto retorno assim. Isso antes da baderna. Como o shopping tava muito lotado, todo mundo foi pro estacionamento. De repente chegaram umas pessoas que com certeza não sabem curtir carro de som. Foi aí que começou o baile funk no estacionamento e os seguranças foram pedir para tirar o som. Educadamente. Até aí, tudo certo. Aí esses caras agrediram os seguranças. Eles tavam consumindo droga antes de o baile começar. Aí os seguranças chamaram a polícia, certo? As viaturas chegaram fazendo zigue-zague, atacando bomba de efeito moral. Todo mundo com medo foi pra dentro do shopping. O que o pessoal falou que foi arrastão não foi. O verdadeiro arrastão foi dessa galera que anarquizou o estacionamento. Esses mesmos caras entraram no shopping e começaram a roubar os próprios jovens, nós mesmos. Não invadimos loja, não teve 'saqueamentos', nada disso. As lojas estavam fechadas. Aí a polícia fez o quê? Começou a atacar spray de pimenta na nossa cara, pra poder dispersar a multidão. E deu nisso. Não vou mais porque os marginais se envolvem. Só queria pegar mulher. Eu sou estagiário em orgão público, cara, pra que eu vou roubar? Então, se for pra proteger a segurança e as pessoas de bem, está mais que certo, polícia tem que vir mesmo."

Marcelo Mattos Araujo, secretário de Estado da Cultura
"Estar juntos, criar laços e relações, é uma necessidade humana, ainda mais forte entre os jovens. Os rolezinhos refletem essa necessidade, no contexto de uma sociedade de consumo, midiática e recentemente marcada por manifestações coletivas de grande repercussão. Como fenômeno cultural, social e político, os rolezinhos colocam para a sociedade brasileira o desafio de construir processos de inclusão e convivência, que potencializem de forma positiva toda a energia criativa que neles existe. "

Fernando Grella Vieira, secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo
O rolezinho não pode ser considerado crime, mas um fenômeno cultural, motivo pelo qual não deve ser tratado como caso de polícia. Uma coisa precisa ficar muito clara: a segurança dos shoppings é privada. A PM somente deve agir se houver quebra da ordem.

José Luiz Datena, jornalista e apresentador de TV
"Não dá pra definir [o que é um rolezinho]. É preciso preservar o direito do cidadão de ir e vir; isso é constitucional. Mas, duas mil pessoas indo e vindo dentro de um shopping, de uma só vez, pode provocar constrangimento e até situações de calamidade pública. Por exemplo, e se alguém grita "Fogo!", com essa quantidade de gente em um local fechado?"

"A atitude deles é natural, de acordo com os tempos em que vivemos. O jovem quer liberdade de expressão e acaba indo pras ruas para se expressar. Agora, eles vão aos shopping centers também."

"Como os internautas disseram hoje no meu programa, rolêzinho pra doar sangue, órgãos ou fazer serviços sociais, ninguém quer fazer."

Maria Rita Kehl, psicanalista
"Toda inclusão econômica exige, em um segundo momento, o reconhecimento da pertença a uma nova classe social. Claro que os jovens da periferia não pertencem a essa classe que compra nos shoppings, mas chegaram mais perto dela. E muitos deles hoje podem comprar algumas mercadorias que estão ali. A performance dos rolezinhos funciona como denuncia da discriminação, mas não sei se eles fazem isso conscientemente ou apenas movidos pelo mal estar de saber que não são bem vindos nos templos do consumo de uma sociedade que, ate o momento, só promoveu inclusão via consumo -e não via cultura, acesso a serviços públicos de qualidade, etc."

Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, a associação dos lojistas de shopping centers
"Eles alegam que querem se relacionar, se divertir, fazer festa de funk. Mas shopping center não é lugar de fazer festa funk. Se quiserem se divertir, vão procurar a prefeitura, pedir outros lugares para fazer festa funk, tem o sambódromo por exemplo. No shopping eles não foram convidados. Os shoppings vão reforçar a segurança para garantir a segurança dos clientes. Não vamos barrar cliente, vamos impedir só a garotada menor se estiverem em grupo, se estiverem sozinhos, não tem problema."

Martim de Almeida Sampaio, presidente da comissão de direitos humanos da OAB
"Não é uma manifestação política tradicional, [os jovens] vão lá para se divertir, para correr no shopping, sem nenhuma bandeira política. A leitura que eu faço é que é uma postura política embora eles nem tenham consciência de que isso se dá desta forma. É um pessoal que nasce com a frustração de querer participar da sociedade, portanto é um movimento de afirmação da identidade em um lugar que tem um simbolismo muito forte

Wellington Oliveira dos Santos, 19, morador do Jardim Helena, na zona leste de São Paulo
"Rolezinho é uma diversão que junta a turminha. Eu acho rolezinho da hora. Faço rolezinho de bicicleta no Parque Ecológico do Tietê no fim de semana. Mas, pro shopping mesmo, só saio com a namorada, no Tatuapé. Mas esses rolêzinhos que vai um monte de gente no shopping, acho que os moleques só vão mesmo para comprar, para assistir filme. Vão lá se divertir. É festa. Eu acho que, se tem correria, é porque alguém rouba e as pessoas saem correndo."

Ana Guimarães, 16, estudante, mora em São Mateus, na zona leste; frequenta o shopping Boulevard Tatuapé e o Aricanduva, e havia sido convidada para o rolezinho neste último
"Não tive vontade de ir. Mas não vejo nenhum problema. No shopping Itaquera eu acho que a intenção foi só fazer um rolezinho. O que eu sei é que iam fazer um clipe de funk lá, e queriam juntar o maior número de pessoas. Depois veio esse do Aricanduva. Aí acho que já tava descaracterizado. Infelizmente tem quem vá para fazer coisa errada, e isso acaba descaracterizando. Tem famílias que vão no final de semana e não estão esperando isso."

Maria Fonseca Guimarães de Jesus, 53, é mãe da Ana (acima)
"Rolezinho é um passeio que eles fazem no shopping, pra se divertir. Mas no meio dessa diversão, uns inventam de fazer vandalismo, quebrarem loja, fazer essas coisas. Não deixaria minha filha [de 16 anos] ir. Acho que esses rolês dão problema. Digamos que ela vai no rolê, está na turminha. Dois ou três querem praticar vandalismo e ela não quer. Mas quem estiver junto, vai ser autuado, porque tava com eles. Até conseguir provar o contrário..."

Publicidade
Publicidade