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Noivas apressadas planejam casamento antes mesmo de encontrar um par

Uma imagem de santo Antônio passou anos no freezer da nutricionista Heidy Gasperini, 33, acompanhada de bifes e sorvetes. Ela congelou o divino casamenteiro, reproduzindo uma simpatia popular, para não congelar as esperanças de se ver vestida de noiva.

É que, aos 18 anos, ela ouviu de uma cartomante que jamais se casaria. Depois disso, ficou obcecada em contrariar o "destino".

Não tinha data marcada, muito menos namorado, quando começou a colecionar revistas e a frequentar os primeiros sites que tratavam dos preparativos para o enlace matrimonial dos sonhos.

"Eu tinha cerca de 3.000 fotos de inspiração e orçamentos de muitos fornecedores", diz Heidy, que levou mais de uma década para planejar o seu grande dia.

As apressadinhas, mulheres solteiras ou ainda sem aliança na mão direita, são mais numerosas do que se imagina. Por constrangimento e praticidade, escondem-se sob o anonimato da internet, onde pesquisam e estimulam a imaginação.

"É comum elas terem uma pasta lotada de referências", diz Constance Zahn, autora do blog de casamento que leva seu nome. "Já sabem como vão querer a decoração, o vestido, a mesa de doces... só não sabem quem será o noivo". Ela já ouviu falar de gente que reservou a igreja com dois anos de antecedência, ignorando o consentimento do companheiro —isso quando há um na jogada.

A sãopaulo entrevistou uma empresária que não quis se identificar, mas garantiu uma data na concorrida igreja Nossa Senhora do Brasil e no restaurante Leopolldo oito meses antes de ser pedida em casamento.

O namorado marcou uma viagem para surpreendê-la com o anel, mas acabou surpreendido com a seguinte notícia. "Sabe o que é, amor? Eu senti que estávamos caminhando para isso e me adiantei", disse, na ocasião.

Teve sorte: ele não só compreendeu a ansiedade como concordou com as escolhas da noiva. Muitos homens preferem mesmo adotar o papel de coadjuvantes em um evento tão trabalhoso, mas sequer consultar ou considerar as opiniões do futuro parceiro é uma manobra arriscada.

"O universo do casamento é glamouroso, vários sonhos acontecem ali. O problema é quando a mulher quer realizar esse sonho acima de qualquer coisa e não cuida da relação, que deveria ter mais importância", afirma a psicóloga e "coach" de noivas Claudia Puntel.

QUANDO UM CERTO ALGUÉM...

Oito anos atrás, Heidy encontrou o cara com quem queria compartilhar a vida. Só tinha um problema: ele achava essa coisa de festa de casamento uma grande bobagem.

Especialmente depois que os dois passaram a morar juntos e tiveram uma filha. Mas ela não desistia.

Chegou a fazer uma pré-reserva de um hotel inteiro para hospedar os convidados na praia e agendou com uma Fotógrafa. "Desisti quando pediram parte do pagamento adiantado", diz Heidy, que não conseguiu convencê-lo a tempo.

O santo estava se transformando num iceberg quando o companheiro cedeu à pressão e concordou em se casar no dia 12/12/12.

Em agradecimento à prece atendida, Heidy criou o blog Obrigado, Santo Antônio, que dá dicas sobre preparativos e fornecedores.

Apressadinhas são também perfeccionistas ao extremo. Como sabia o que e como queria cada detalhe da festa, ela conseguiu organizar tudo em dois meses —quando a maioria das noivas precisa de um ano de antecedência.

"A Heidy é determinada, tinha o casamento montado na cabeça", diz Juliana Monsó, sócia-proprietária da assessoria Hora do Buquê. A maior dificuldade, explica, é superar o alto nível de expectativas dessas noivas.

E elas não são exigentes apenas com as contratações. A administradora de empresas Ana Maria Beloto, 33, exigiu do namorado um posicionamento quanto à relação.

Os dois estavam prestes a embarcar para uma temporada na Espanha, onde fariam MBA por um ano e meio, quando Ana sugeriu que ficassem noivos. "Mesmo que por obrigação, eu queria a certeza do comprometimento dele", diz, aos risos.

Não teve aliança, nem almoço familiar para selar o noivado. Mas ele lhe deu a palavra e isso bastou para que sonhasse com a festa assim que voltassem ao Brasil. Sempre que frequentava cerimônias de casamento de familiares e amigos, ela sondava sobre os fornecedores.

Secretamente, já sabia de onde seriam os docinhos e quem ficaria responsável pela decoração.

"O desafio, nesses casos, é filtrar essa carga enorme de informações e direcionar as melhores opções para aquele determinado casal", diz Carla Righi, proprietária da assessoria Raro Carmim. Demorou um ano para o namorado oficializar a situação. "Logo que ele liberou, corri para concretizar os planos", diz Ana, que se casou em dezembro de 2012.

Durante algumas aulas do MBA, ela ficava absorta em seu computador atrás de empresas bacanas em São Paulo. Boa parte dos itens foi resolvida a distância. Por uma semana, Ana largou os estudos e viajou ao Brasil sozinha para acertar igreja e salão.

Não dava para esperar a volta definitiva? Não. De fato, quanto maior o prazo, mais fácil negociar valores com os profissionais. Há quem diga que tudo não passa de uma questão prática e financeira.

Por outro lado, o mercado casamenteiro lança tantas novidades e tendências que as apressadinhas podem ficar para trás.

"Minha dica é sempre tentar controlar a ansiedade para não se arrepender de uma decisão errada depois", diz a blogueira Fernanda Floret, do Vestida de Noiva. Ela recebe e-mails de noivas que compraram o vestido com mais de dois anos de antecedência e, próximo ao casamento, desejam outro modelo. "São tantas inspirações que a noiva fica com o olhar mais apurado e muda de ideia, no bom sentido." Sem dúvida, promover um evento que será inesquecível de qualquer forma mexe com os nervos e bom senso. E planejar uma festa perfeita é bem mais fácil do que encontrar o homem dos sonhos.

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