Conheça diversos projetos feitos para o controverso parque Augusta

Um dos maiores imbróglios paulistanos, o parque Augusta existe no papel desde que playboys subiam a rua a 120 por hora botando a turma do passeio para fora. É de 1970, três anos após a demolição do colégio de moças Des Oiseaux, o primeiro decreto que transforma a área verde em parque.

A proteção ao maciço de 308 árvores de mata atlântica, no entanto, nunca impediu propostas cheias de cimento para o terreno: seria o "maior complexo hoteleiro da América Latina" nos anos 1970, um hipermercado nos anos 1990 e, agora, construtoras querem torres de cem metros de altura com edifícios comerciais e residenciais. À parte, em 2008 o quadrilátero foi cotado para se tornar Museu da Música Popular Brasileira e, nos anos 1980, abrigou uma lona que fazia shows de rock e MPB do Projeto SP.

Nada foi adiante. Em grande parte porque, quando se sentem ameaçados —pelo cinza que engolirá as árvores ou pela barulheira dos shows—, moradores do entorno entram em ação com abaixo-assinados e manifestações.

O folhetim se arrasta há mais de 40 anos sem previsão de desenlace.

Em 2008, o então prefeito Gilberto Kassab (PSD) incluiu o parque em sua campanha à prefeitura. Eleito, decretou a utilidade pública da área, mas nunca chegou a desapropriá-la.

O decreto caducou nas mãos de seu sucessor, Fernando Haddad (PT). Em meio a uma escalada de manifestações, o prefeito sancionou lei criando o parque em dezembro de 2013.

O final feliz durou poucos dias. Em janeiro, a gestão Haddad declarou que não tem dinheiro para a desapropriação. Para o vereador Nabil Bonduki (PT), uma parceria com os donos do terreno —as construtoras Cyrela e Setin— viabilizaria o parque mais depressa.

As empresas construiriam suas torres onde hoje não há árvores, utilizando 20% do espaço. Em contrapartida, manteriam a área pública.

Mas as três entidades que representam moradores e frequentadores não querem saber de prédios. Há ainda temor de que, se o parque for gerido pelas construtoras, haverá limitações.

Se essa luta contra os prédios une as entidades, outras questões geram desentendimentos. Para o movimento Organismo Augusta, há que se brigar também pela reabertura imediata do terreno, fechado pelas construtoras em 29 de dezembro de 2013. Já os Aliados do Parque Augusta priorizam a criação do parque.

Editoria de Arte/Folhapress

Enquanto ambos fazem eventos e protestos, a terceira entidade age mais nos bastidores. Célia Marcondes, da Samorcc (associação dos moradores de Cerqueira César), conversa com secretários, liga para promotores e foi quem reuniu, em 2006, 3.000 assinaturas contra a construção de um hipermercado no lugar.

No ano seguinte, intercedeu junto ao órgão de preservação de patrimônio para evitar a aprovação de prédios altos no local. A área é tombada e possui uma restrição que impede construções com mais de 45 m. Até hoje as construtoras tentam alterá-la.

Parte dos urbanistas defende a parceria com empresas, desde que a área verde seja mantida. "Como a prefeitura tem pouca verba, acho equilibrada a proposta de usar apenas 20% da área e manter o parque", diz Regina Meyer, professora da FAU-USP. Hoje, estima-se que o terreno valha R$ 70 milhões.

Para erguer torres, as construtoras ainda precisam do aval de vários órgãos municipais, como a secretaria do Verde, já que as árvores que estão ali são consideradas VPP (Vegetação de Preservação Permanente).

Será que agora vai?

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