Grupo gay da escola de engenharia da USP já tem mais de cem membros

Os futuros engenheiros que começaram a cursar a escola Politécnica da USP em 2014 encontraram um arco-íris no fim do vestibular.

Assim que os 820 novos alunos entraram nos prédios da escola, na Cidade Universitária, tiveram a opção de ouvir uma palestra do PoliPride, grupo de diversidade sexual que se criou entre os graduandos e agora sai do armário para a comunidade.

"Tudo começou em abril do ano passado, com um grupo secreto no Facebook", conta Lucas Fávero, 25, recém-formado e um dos seus fundadores.

A comunidade na internet servia para alunos LGBT se aproximarem. "Minha turma na engenharia naval tinha 40 alunos e eu era o único gay. Encontrei pessoas de outros cursos."

A relação entre esses polianos saiu do virtual, e eles começaram a agendar encontros mensais. "Alguns eram dentro da Cidade Universitária, outros no salão de festas do prédio de alguém. É legal para conversar, se conhecer melhor", diz Fávero.

E o grupo foi crescendo. Hoje são 119 pessoas, entre alunos e ex-alunos. Foi quando, no começo do ano, alguns dos membros decidiram abrir o primeiro grupo declaradamente LGBT da Escola Politécnica.

Divulgação
Logomarca do grupo gay da Poli, escola de engenharia da USP
Logomarca do grupo gay da Poli, escola de engenharia da USP

"A gente decidiu não abrir o grupo secreto, até por medo de pessoas que estão lá dentro só porque é secreto, que não são assumidas. Então criamos o PoliPride."

A aceitação, diz ele, ficou entre "muito boa" e "bem razoável". "Vários Centros Acadêmicos assinaram uma nota de criação para o grupo."

Além de publicarem artigo no jornal "O Politécnico" e receber os "bixos" com palestra, o PoliPride já fez eventos em outras escolas da universidade, como a de Comunicação e Artes.

Usaram uma camiseta com o símbolo do grupo, um Pégaso e um arco-íris, em alguns eventos da Poli. "Já teve beijo gay, mas não é comum. A gente vê olhares de desgosto. Às vezes eu percebia que não queria levar meu namorado lá para não olharem para mim."

Mas a situação pode melhorar com o reconhecimento, ele avalia. "Alguns 'bixos' vieram perguntar se tinha gay lá dentro. Eu disse 'É claro que tem!'."

Até porque gays não faltam na escola, garantem Lucas e seus colegas. "Na engenharia química, estipulamos que 40% sejam gays. Na Civil, uns 25%. Mulheres, por aí também. Na naval e na mecânica tem menos."

TODOS BEM-VINDOS

Mas não são só homossexuais que engrossam o quadro do grupo. Raquel Debczynski Fernandes, 28, está no último ano de engenharia elétrica e é bissexual.

Ainda assim, é das integrantes mais ativas na comunidade. "Eu sou militante, participo de coletivo de mulheres. Uma coisa está ligada à outra. A Poli tem um machismo muito aflorado."

Nos cinco meses que participa da agremiação, ela já ajudou a mudar essa lógica um pouquinho. Uma das brincadeiras de um evento de integração da escola consistia em colocar meninas de camiseta branca para lavar carros. Conseguiram mudar a brincadeira para tirar o que consideravam um verniz machista e, no fim, homens estavam brincando de animadora de torcida. "Não adianta se negar a fazer as coisas, precisamos nos integrar."

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