Saiba como se prevenir de questões antes invisíveis na hora da reforma

Por trás de paredes e pisos inocentes mora um emaranhado de fios, canos e estruturas que sustentam e dão vida a casas e apartamentos. Mas é aí que está a principal causa das reformas que se estendem em prazo e orçamento muito além da imaginação.

Até um desejo simples —como ter um ar-condicionado— pode esconder surpresas. Se o imóvel for antigo, há grandes chances de se precisar de uma instalação elétrica nova, para dar conta da energia necessária. Aí vem o quebra-quebra de paredes e uma nova descoberta: o encanamento, antigo, é de ferro e está enferrujado, e não vale a pena refazer o piso sem trocá-lo. Eis a receita do pesadelo.

Ilustrações Deborah Faleiros/Revista sãopaulo

A advogada Gabriela Doubek, 38, acaba de passar por uma reforma-novela dessas na casa dela no Butantã, zona oeste. "Cada coisa que eu fazia, descobria que tinha de fazer outra." E dá exemplos. "Queríamos colocar portas amplas na edícula, mas, quando quebramos a parede, soubemos que precisaríamos construir uma viga."

O pior foi descobrir que as fundações estavam ruins. A obra parou por três meses só para estudos do terreno e elaboração de um projeto de reconstrução de estruturas. A mão de obra já seria tanta que Gabriela decidiu trocar o sistema de fios e encanamentos.

Ilustração Deborah Faleiros

No começo, a ideia era mexer só na edícula e colocar suítes nos quartos, numa reforma estimada em seis meses e R$ 250 mil. Demorou um ano a mais e custou três vezes o valor inicial. "Tudo o que podia dar errado deu."

O que fazer para evitar imprevistos? Nada garante 100% de tranquilidade quando o assunto é obra. Mas planejar com a ajuda de um engenheiro ou um arquiteto é um bom começo, e atende a uma nova norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

A NBR 16.280, que entra em vigor em 18 de abril, tem como missão botar ordem nas reformas, até nas mais simples. De acordo com a norma, todas devem ter um laudo desses profissionais e ser aprovadas pelo síndico.

Além disso, deve-se contratar empresa especializada para fazer o serviço. A opção de chamar um pedreiro ou eletricista diretamente fica excluída. Especialistas, no entanto, estão céticos de que a medida vá "pegar", já que ainda não há multas estipuladas para o descumprimento.

EMPREITEIRA

Pode ser mesmo uma boa, no entanto, contratar uma empresa para tocar todo o serviço. Mas ela tem que ser bem recomendada. "Muitos empreiteiros trabalham com equipes pequenas e pegam várias obras por vez. Eles podem sumir por uma semana e vão dar prioridade para quem ficar pressionando", adverte Edgar San Juan, 60, da Obra Clean, empresa especializada em reformas.

Entre outras armadilhas escondidas em uma obra, até a simples troca de um piso de vinil pode virar dor de cabeça. A servidora pública Mariana Borba, 28, só queria um porcelanato bonito no chão. Quando o revestimento antigo foi removido, apareceu um contrapiso todo irregular. Para deixá-lo em ordem, gastou R$ 2.000 a mais que o previsto no seu
apartamento em Perdizes, zona oeste.

Sonhando com novas tomadas, internet e televisão a cabo em todos os cômodos? A arquiteta Alessandra Matteo, 43, que possui um escritório especializado em reforma de interiores, dá uma dica importante sobre a quantidade de fiação necessária para modernizar um apartamento —até mesmo um imóvel dos anos 1980.

"Até uns 30 anos atrás, só havia praticamente fios elétricos e de telefone. Hoje tem cabo de TV, cabo HDMI, um monte de coisas que não existiam", diz ela. Assim, são enormes as chances de os conduítes (tubos condutores que ficam dentro das paredes) serem muito estreitos para dar conta de todo esse mundo novo de cabos. Ou seja, mais um item para a sua lista de reforma.

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