Dispara apreensão de drogas compradas em sites do exterior

A universitária Bruna, 24, utiliza a moeda virtual bitcoin em vez de dinheiro para comprar ecstasy e maconha. E não lida pessoalmente com traficantes. A encomenda, feita em um site no exterior, é despachada pelo correio e entregue pelo carteiro no prédio onde mora, em São Paulo.

"Não tenho coragem de entrar em favela, de lidar com gente armada. Se é para escolher entre os dois tipos de risco, prefiro o virtual", diz ela, que utiliza um nome falso para comprar substâncias ilícitas.

Divulgação/Receita Federal
Boneco do Hulk com maconha; encomenda foi apreendida em março do ano passado
Boneco do Hulk com maconha; encomenda foi apreendida em março do ano passado

Ela faz parte do crescente mercado on-line de drogas. No ano passado, a Receita Federal interceptou na capital paulista 2.523 encomendas vindas do exterior com drogas, mais que o triplo das 683 apreensões de 2012.

O chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em São Paulo, Ivo Roberto Costa da Silva, diz que o aumento foi considerável. "Hoje, essa modalidade de tráfico é, sim, um problema."

A importação tornou-se uma dor de cabeça para a polícia principalmente por causa do anonimato prometido pela internet. Os consumidores entrevistados pela sãopaulo, por exemplo, recusaram-se a revelar quais são os sites em que fazem suas compras.

Até o ano passado, o mais conhecido era o Silk Road, hoje fora do ar. Mantido na "deep web" (a internet profunda, com conteúdo não acessível por sites de busca), a página era acessada apenas por meio do Tor, um navegador que torna praticamente impossível localizar os computadores que hospedam ou acessam sites por meio dele.

Além disso, a compra on-line ocorre normalmente com bitcoins. A moeda não é emitida ou regulada por uma instituição, a exemplo do papel do Banco Central em relação ao real, tampouco permite a identificação de quem a mantém em circulação.

Concluído o processo de compra, a droga é remetida pelo correio. Segundo a Receita e a PF, chega escondida em roupas, CDs, latas de alimentos, estátuas, mochilas, livros, violão, cachimbo e brinquedos. Já encontraram até maconha como recheio de um boneco de pelúcia do Hulk.

CINCO PRESOS

A busca pelas drogas é realizada por agentes da Receita e da PF. Juntos, eles atuam na unidade dos Correios no Jaguaré, na zona oeste, que concentra o recebimento de encomendas vindas do exterior.

Os principais aliados são os scanners, que exibem um raio-X das encomendas. A partir daí, uma das formas de rastrear o destinatário é acompanhar, com autorização judicial, a entrega da mercadoria e, assim, localizar o comprador.

Desde 2011, a PF instaurou 2.612 inquéritos e prendeu cinco pessoas que compraram drogas assim. Elas respondem a processo por tráfico internacional de drogas, cuja pena vai de 5 a 15 anos de prisão.

De acordo com a polícia, entre os consumidores há traficantes e usuários —que às vezes compram um pouco mais para vender para amigos. Quem optou pelo mercado on-line dá diferentes justificativas.

Editoria de Arte

SEMENTES

A advogada Marta, 35, diz ser radicalmente contra o tráfico de drogas. "Não quero fumar uma coisa que está envolvida em mortes, exploração infantil." Desde o ano passado, ela compra sementes de maconha pela internet e cultiva no jardim de sua casa, no Morumbi, zona oeste.

"Morro de medo a cada compra e mando entregar em um endereço comercial com nome falso", conta a advogada, que diz recorrer à planta para combater a insônia. "Tudo isso poderia ser evitado se o país debatesse a legalização com seriedade."

O publicitário Gustavo, 32, afirma que na internet há mais informações "O tipo de droga que eu uso [mescalina e LSD, entre outras] não é facilmente encontrado por aí. E, nos sites, eles detalham a origem, a qualidade e os efeitos com uma precisão que te deixa muito mais seguro."

Agora, ele suspendeu temporariamente as aquisições por sentir que há mais vigilância da polícia.

Editoria de Arte

(COLABOROU ALEXANDRE ARAGÃO)

Publicidade
Publicidade