Feiras de troca garantem brinquedos novos e ensinam a praticar o desapego

As crianças crescem, e seus brinquedos vão ficando menos legais. Para liberar espaço nas prateleiras ou renovar o estoque, muitos pais têm recorrido a feiras de trocas, eventos em que os pequenos negociam entre si carrinhos, bonecas e outros itens.

A proposta das feiras é estimular pais e filhos a repensarem o consumo, dar destino a brinquedos que só ocupam espaço em casa e dar a chance para as crianças treinarem o desapego e a capacidade de negociar.

Esse tipo de evento registrou um "boom" em 2013. Mais de dez foram realizados na capital às vésperas do Dia das Crianças. O Instituto Alana, que ajuda a organizar feiras do tipo em várias cidades, registrou mais de cem encontros no ano passado no Brasil. Em 2012, foram 50.

"Minha filha é um pouco tímida, e as trocas são boas para treinar a conversa", avalia o militar Fábio Vasconcelos, 40, pai de Beatriz, 8. Em uma tarde na Casa das Rosas, na avenida Paulista, a garota conseguiu um bambolê, um par de brincos, uma pulseira e uma boneca da Rapunzel. Na troca, abriu mão de gibis da Turma da Mônica. "Não gosto de ler histórias repetidas", argumenta a menina.

O educador Leonardo Akio, 24, anima as conversas. "O seu papagaio vale um monte de batatas fritas de plástico?", propõe para Eduarda, 6, como se estivessem em uma gincana. A menina olha para a mãe e balança negativamente a cabeça.

"Tudo bem, não era tão legal mesmo. Que tal um livro da Emília?", prossegue Akio. "Só se forem dois", intervém a mãe, Aline Almeida, 30, analista de crédito. Negócio fechado, e mal ouvimos a voz de Duda.

AUTONOMIA

"É importante que os pais deixem os filhos exercitarem a autonomia", recomenda Renata Franco, do Alana. "As crianças têm outra visão sobre o valor das coisas. É comum trocarem um brinquedo pequeno por algo mais caro e elaborado. Já outras levam só para mostrar e não trocam, ou se arrependem na hora de negociar."

Outro que conseguiu novos brinquedos foi Arthur, 4. Vindo de Itanhaém, no litoral de São Paulo, trouxe seis livros e voltou com um leão e um rinoceronte de borracha, que iriam se juntar ao seu dinossauro. "Hoje em dia tudo é muito descartável. A troca mostra que um brinquedo usado pode ter valor", afirma sua mãe, a professora Denise Rossmann, 40.

A atriz Carol Guedes, 31, ficou tão empolgada após ir com sua filha Maria Beatriz, 3, a uma feira que resolveu levar a ideia para a internet. O site Quintal de Trocas, criado por ela em fevereiro, teve 20 mil acessos no primeiro mês e reúne hoje 60 brinquedos em seu catálogo, separados por idade e categoria, mas não por gênero.

Natália, 6, trocou seu laptop da Xuxa por meio do site. A menina ganhou um tablet no Natal e não via mais graça no pequeno computador, que lhe rendeu uma boneca My Dolly Sucette, enviada pelo correio por uma menina de Brasília.

"É preciso dedicar algum tempo para procurar os brinquedos, e gastamos R$ 20 com a postagem, mas valeu a pena. A boneca veio na caixa e parecia nova", conta a mãe, a professora Laiz Mazzola, 38.

Em outra ocasião, mãe e filha, que moram em Diadema (SP), marcaram um encontro em um hipermercado para entregar pessoalmente um forte apache e buscar um gira-trança.

Para brinquedos inscritos no site, os encontros para trocas podem ocorrer em endereços como Casa do Brincar e Mamusca. Em todos os casos, a única regra para participar é levar itens em boas condições de uso -não vale carrinho sem roda.

"Brincar é mais legal do que comprar, e as crianças querem brincar e não consumir", defende Carol.

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PRÓXIMOS EVENTOS

Slowkids
O evento, agendado para 18/5 no jardim do Museu da Casa Brasileira, terá uma feira de troca organizado pelo Instituto Alana.

Casa das Rosas
Realiza a feira mensal "Troca Tudo sem Dinheiro", com brinquedos, livros e gibis. Ocorre geralmente no último sábado de cada mês. A próxima será em 31/5.

Sesc Itaquera
Promove feiras de troca a cada dois meses. Houve uma em 20/4 e a próxima está prevista para 29/6.

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NA INTERNET

Quintal de Trocas
Os brinquedos são cadastrados gratuitamente. Quem se interessar oferece outro item para a troca. Se ambos toparem, o envio é feito pelo correio. Outra opção é marcar um encontro em um ponto de troca. São seis endereços em São Paulo, como a Casa do Brincar e o Mamusca.

OLX
Em São Paulo, tem cerca de dez mil anúncios de brinquedos usados, como bonecas, piscinas de bolinhas e bicicletas, mas poucos deles aceitam trocas. A negociação é feita diretamente com o vendedor, por telefone ou e-mail. Os anúncios são gratuitos.

BomNegócio.com
Reúne mais de cinco mil brinquedos usados, separados por região da cidade. A negociação é feita diretamente com o vendedor e não há taxa para anunciar.

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COMO ORGANIZAR UMA FEIRA DE TROCAS

- A área comum do prédio, uma praça, clube, igreja ou escola são opções de lugares. É interessante que parte do local seja coberta, para o caso de chover, e que haja espaço para as crianças testarem os brinquedos.

- Divulgue o encontro, por meio de cartazes, e-mails e redes sociais.

- Na entrada, uma equipe deve orientar os pais sobre as regras da feira e oferecer canetas e etiquetas para que cada criança identifique os brinquedos que lhe pertencem.

- Há dois tipos de feira: um que todos os itens ficam em uma mesa só e outro em que cada criança expõe seus brinquedos em uma toalha colocada no chão ou em pequenas mesas. No segundo caso, a ideia é que elas "visitem" umas às outras para negociar.

- Os objetos precisam estar em boas condições de uso. Não vale levar carrinho faltando roda, boneca quebrada, etc.

- Antes de sair de casa, deixe claro que, uma vez trocado, o item não poderá ser recuperado.

- Algumas crianças podem se arrepender da troca na última hora. Esteja preparado para mediar a situação.

- Crianças de até seis anos precisam de mais ajuda dos pais para negociar. Contudo, os adultos não devem decidir tudo.

- Por serem feitas em locais públicos, é comum que crianças que não trouxeram nada queiram participar. Os organizadores podem levar alguns itens de reserva para que elas possam entrar na brincadeira também.

- Como a feira pode durar várias horas, fazer um piquenique junto é uma boa opção para aplacar a fome.

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