Cem jovens usam rede social para combinar roubos na Virada Cultural

Enquanto o paulistano planeja a que shows assistir na Virada Cultural, neste fim de semana, um grupo de jovens usa uma rede social para combinar os roubos e furtos a serem cometidos no evento.

A comunidade Virada Cultural Vila Curuçá foi criada há três dias no Facebook e é ilustrada pela foto de um revólver e cinco balas. Até o meio-dia de hoje, havia 210 membros na comunidade. Desse total, ao menos cem se manifestaram dizendo ter a intenção de praticar roubo ou furto.

Vila Curuçá, no caso, é um bairro no extremo leste da cidade, vizinho ao Itaim Paulista. Os membros do grupo dizem serem moradores da região. Marcam o encontro para uma praça dos arredores, e de lá a ida de metrô para o centro da cidade, onde fica a maioria dos eventos da Virada.

"Já vamu xega pegando o que quisé [Vamos chegar pegando o que quisermos]. É pisante [tênis] e telefone pro ano todo", escreve um dos criadores do grupo, de 19 anos. "Tô precisando de um Adidas verdão 40 ou 41. Dá um salvi ["dar um salve" é avisar, dar um oi] kem conseguir um kkkkkk", pede uma das participantes. A o que outro responde: "Já é. Na segunda de manhã to vendendo por 300 [reais] no metrô Sé".

"É dia de alegria. Passô, levô", escreveu um adolescente de 16 anos, usando "emoticons" (ou desenhos) de arma junto à frase.

Em outra postagem, comentam como não vale mais a pena roubar iPhone. "Blokeia, tio. Sansung dá pra usa suave depois." É que o telefone da Apple pode ser bloqueado a distância, o que impediria os ladrões de o usarem depois.

Reprodução
Comunidade na rede social em que mais de cem jovens disseram querer cometer furtos e roubos no evento
Comunidade na rede social em que mais de cem jovens disseram querer cometer furtos e roubos no evento

"É só xega no Eletrônico [palco de música eletrônica, na rua Direita] que os boy vão tá tudo loko, e é só cola e leva tudo", escreve outro, com a intenção de dizer que as pessoas ricas estarão bêbadas ou drogadas, facilitando os furtos e roubos.

OUTRO LADO

Os dois criadores do grupo não responderam a repetidos pedidos de entrevista da sãopaulo.

Já uma das integrantes disse por telefone que não passa de brincadeira. "É pressão só. A gente vai pra Virada, mas curtir", afirmou a estudante de 17 anos, que pediu para não ser identificada. "Tem gente que rouba ali, mas não é todo mundo. Tem muita gente zoando."

Os perfis que se manifestaram no grupo têm todos mais de um ano de existência, álbuns repletos de fotos e interagem com frequência diária na rede. "São indicações de que são pessoas de verdade, e não perfis falsos", diz o analista de mídias sociais Vagner Tidi.

Reprodução
Enquete no Facebook sobre como ficarão os estrangeiros, um dos alvos do grupo na Virada
Enquete no Facebook sobre como ficarão os estrangeiros, um dos alvos do grupo na Virada

ENQUETES

Há também no grupo uma enquete com a questão "Os Gringo Vai Fica Como?". Todos os 16 votantes escolheram "Tão tudo fudido kkkk". As outras opções, como "Suavão" e "Vai perde a carteira" não tiveram nenhum voto.

Um dos internautas diz "O centro tá cheio de gringo. É hora de passa[r] no fri shopi [Free Shop]!". Outro responde à enquete com a frase: "Se reagir eu arranco logo a alma rs".

A Prefeitura de SP afirma que o policiamento no centro é reforçado durante o evento. O prefeito Fernando Haddad afirmou em entrevista coletiva que 3.700 policiais militares e 1.800 guardas civis metropolitanos circularão durante a Virada.

A edição do ano passado teve duas mortes, arrastões e roubos.

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