"Mais que brother, Plácido Domingo é father", diz tenor paulistano

Do coro de um tradicional colégio paulistano ao palco do mais tradicional dos teatros da cidade, Thiago Arancam, 32, acumulou papéis em óperas no mundo todo, três prêmios no concurso Operalia e uma amizade com seu organizador —ninguém menos que o tenor espanhol Plácido Domingo.

Atualmente vivendo em Mônaco com sua esposa e o filho de dois meses, o corintiano nascido na Santa Casa debuta no Theatro Municipal interpretando o personagem Don José em seis récitas de "Carmen", que estreia na quinta (29).

Leia abaixo uma entrevista com o cantor lírico.

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Marlene Bergamo/Folhapress
SAO PAULO - SP - COLUNA MONICA BERGAMO - Retrato do tenor Thiago Arancam, 32. Ele e paulista, mas mora na Europa desde 2004 e ira estrear em SP, fazendo a opera ÒCarmenÓ, que ficara em cartaz no Theatro Municipal.- 12.05..2014 - (Foto Marlene Bergamo/Folhapress) -
Tenor Thiago Arancam, 32, estreia em São Paulo na ópera "Carmen", que fica em cartaz no Municipal

sãopaulo - Quando você começou a cantar?
Thiago Arancam - Eu estudava no Liceu Coração de Jesus [Campos Elíseos, centro], e lá tinha um coro infantil, o Canarinhos. Com sete anos, fiz um teste em que tive que cantar "Parabéns pra Você" com o maestro ao piano. Fui selecionado e passei a frequentá-lo.

Como conheceu o Plácido?
Em 2008, mesmo ano em que fui premiado pelo concurso Operalia [organizado pelo veterano]. Ele já conhecia minha reputação na Itália e ficou curioso. Depois, ofereceu o papel numa montagem de "Carmen", em Washington —meu debute como Don José. Ali nascia nossa relação de trabalho e amizade, que dura até hoje.

Então, você pode dizer que é "brother" do Plácido Domingo?
[Risos] Na gíria seria um "brother", sim. Mas é uma relação muito familiar também, porque eu conheço os filhos dele, a esposa... Mas, mais que um "brother", ele é um "father". Ele é um tiozão já, mas me considera como um filho, um afilhado. Ele é fantástico. Não só comigo, mas no âmbito geral. É um cara que realmente incentiva a ópera. O que não falta são boas lições dele, como jamais perder a paciência em qualquer situação, jamais rebater um critico e sempre ser fiel à palavra.

Vocês saem para jantar, para tomar vinho?
Um fato engraçado: em 2010 estávamos cantando juntos na ópera de São Francisco. Ao termino da récita, o Plácido me convidou para assistir à corrida de Fórmula 1 no dia seguinte, às 7h da manhã, no apartamento dele. Cheguei por volta das 6h45 e comecei a tocar a campainha... Nada. Liguei no celular... Não respondia.

De repente, na entrada do prédio, apareceu secretário dele chamando para irmos comprar o café da manhã para tomarmos durante a corrida. Eu, curioso, perguntei onde estava o maestro. Ele me respondeu que desde as 5h ele estava se exercitando na academia. Ele tem uma energia inimaginável! E sempre quando nos encontramos saímos para jantar, muitas desses vezes em algum de seus restaurantes nos Estados Unidos. O Plácido possui uma rede de restaurantes no México, nos EUA e na Espanha.

Existe muita picuinha no mundo da ópera? É um mercado bastante competitivo?
Sem dúvidas. A competição é enorme e o mundo da ópera é altamente relacionado. Você tem que se superar a cada apresentação e continuar seu desenvolvimento para vencer todas as barreiras.

Você já se apresentou em São Paulo?
Nunca! Há dez anos vivo fora do Brasil, primeiro em Milão [onde entrou na academia do prestigiado Teatro alla Scala] e hoje em Monte Carlo [Mônaco]. Volto muito pouco ao país. A primeira ópera que fiz no Brasil foi "Tosca", no Rio, em 2011. É ótimo fazer tudo isso com mão de obra brasileira, que já tem qualidade internacional. Com coral, orquestra e alguns solistas do meu país. O que é raro: não encontro lá fora muitos companheiros brasileiros no palco. Aqui é como jogar em casa.

Por que mora em Mônaco?
Ao me diplomar na academia de canto do Teatro alla Scala fui residir no principado por ser um ponto estratégico, de fácil acesso e onde o fator climático não atrapalha o trafego aéreo. Além disso, Mônaco é perto de Milão, onde reside o meu maestro de canto, e também é um lugar seguro.

Vê encanto lírico no Brasil?
Todo mundo acha que o brasileiro não é o fã número um de ópera, embora seja do futebol, do samba... Mas isso eu já vivencio. Nas minhas apresentações pelo mundo, encontro grupos de brasileiros. Na Suécia, no Japão, na China. O brasileiro tem essa carência, ele quer assistir a coisas boas, e compra isso. Tanto é que os ingressos para essa montagem já estão praticamente esgotados.

Isso é bom para a ópera no geral?
Isso é ótimo porque mostra uma arte nova e dá oportunidades para quem quer se destacar no meio. E eleva o nível cultural das pessoas, mostra uma arte diferente e dá oportunidades para quem quer se destacar nesse mundo. Não só no samba e no futebol —nada contra, claro. Eu amo meu país e minha cultura, sei que o Brasil é um país diversificado. Podemos fazer de tudo.

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