Artista que faz bancos com troncos inaugura brinquedo em parque de SP

Foi quase instantâneo. Bastou Hugo França remover a fita que cercava sua nova obra, no parque Burle Marx, na zona sul de São Paulo, para que crianças e adultos começassem a se aproximar e a interagir. Mas os curiosos logo eram avisados.

A peça não estava finalizada. O homem de 59 anos que escalava os galhos daquela árvore caída era o autor da instalação. O cerco só fora removido para uma sessão de fotos que ilustram esta reportagem, tiradas na segunda (14).

"A inauguração é no domingo [20]", avisava a assessora de França. Um menino vestido de Capitão América não ficou feliz.

Batizado de "Casulão", o trabalho, fixado ao lado do playground, consiste em 1.500 metros de corda trançados no entroncamento de um pau-ferro deitado –com 15 metros de comprimento, 4,5 metros de altura e 13 toneladas. "É uma instalação lúdica. A ideia é que funcione como um brinquedo", explica o artista e designer gaúcho.

Ele conta que a proposta para produzi-la partiu da direção do parque há cerca de três meses, assim que a árvore com "mais ou menos 80 anos" caiu à noite, com o parque já fechado.

"Ainda bem, né?", brincou França enquanto mostrava no celular fotos do dia em que foi levada a cabo a missão de movimentar o tronco. Foram utilizados um guindaste e um caminhão.

"A ideia é manter a árvore no local em que ela viveu, mas essa a gente teve que deslocar um pouco, uns cem metros", conta. "Era um sábado e o lugar estava cheio, então não podíamos incomodar os frequentadores. O caminhão inclinou com o peso do tronco, depois atolou... Foi um sufoco! A gente ficou aqui das 8h até as 22h."

Essa é a terceira obra no parque Burle Marx feita pelo porto-alegrense, conhecido por seu trabalho de produção de mobiliário com árvores condenadas ou naturalmente mortas.

Também são dele duas peças no largo do Arouche, 22 no cemitério Parque das Cerejeiras, 16 no parque Ibirapuera, 98 no Instituto Inhotim, em Minas, e uma no Central Park, em Nova York.

Recentemente ele também trabalhou com troncos de jaqueiras na floresta da Tijuca, no Rio, e produziu peças para a Bienal de Vancouver com espécies nativas do Canadá.

Quando encontrou a sãopaulo, o artista havia acabado de voltar de Trancoso, na Bahia, onde morou por 15 anos a partir de 1981 e ainda mantém um ateliê –para onde vai "pelo menos uma semana por mês". Lá ele trabalhava em peças para a exposição que será inaugurada no dia 16 de agosto no Museu da Casa Brasileira.

França vê conscientização em seu trabalho. "Quando tive essa ideia, o conceito do reaproveitamento foi a parte principal. Aos poucos as pessoas foram entendendo a importância disso", diz.

Atualmente, sua vontade é conseguir utilizar todo o "resíduo lenhoso", como ele se refere à sua matéria-prima, de São Paulo. "E não só de parques."

Segundo o próprio, já houve conversas com incorporadoras para o uso de vegetais removidos ("elas estão querendo dar uma fachada mais sustentável", afirma), além do projeto de criar, na capital paulista, uma escola para a formação de mão de obra para a manufatura dessas peças.

No dia da inauguração, o parque oferece atividades como tai chi (9h30), ioga e kung fu para crianças (11h). França estará presente por volta das 10h acompanhado de seu filho de seis anos.

Tomara que o míni Capitão América apareça para aproveitar.

Informe-se sobre o parque

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