Página sobre São Paulo na Wikipédia é vigiada por 162 editores

Ele ficou muito incomodado quando leu um "encomodado" em uma discussão da Wikipédia. Heitor Carvalho Jorge, 23, estudante de jornalismo da Unesp, é um dos 162 editores que vigiam o conteúdo colaborativo publicado no verbete da cidade de São Paulo.

Com até 70 mil acessos mensais, a página on-line pode ser editada a qualquer momento, por qualquer pessoa —não é preciso ter identificação.

Embora a edição seja liberada, isso não significa que as mudanças serão acatadas. Ao contrário, as informações são checadas constantemente e as modificações, relevantes ou não, normalmente são debatidas.

É como se a Wikipédia fosse um disco de vinil. No lado A estão as informações que acessamos ao clicar no verbete procurando por dados; no lado B fica o histórico de todas as alterações do texto, acompanhado das respectivas discussões.

Foi no lado B que Heitor indignou-se com um editor "encomodado". Ele supostamente infringia direitos autorais de uma foto inserida na página.

As discussões sobre o verbete da capital paulista, todas disponíveis para leitura na aba "histórico", abordam questões como clima (qual a capital mais fria: São Paulo, Porto Alegre ou Curitiba?), espaço urbano (um editor teria censurado informações sobre favelas, o que foi revertido) e religião (um usuário argumentava que Testemunhas de Jeová não poderiam ser considerados evangélicos).

Heitor contabiliza ter feito 70 mil edições na Wikipédia, sendo mil somente no verbete de São Paulo. Não raro ele precisa reverter atos de vandalismo. "São modificações claramente destrutivas: adição de xingamentos, inclusão de dados sem sentido ou sem referências e eliminação de conteúdo válido sem justificativa", conta.

Mas Heitor já não é tão ativo como antes. "A burocracia e a hostilidade dos editores mais velhos em relação aos novatos é uma das causas da recente diminuição de usuários que participam [da manutenção do verbete] com frequência", analisa.

Como qualquer um pode mexer na Wikipédia, há uma luta constante pelo poder desse espaço virtual. Segundo Marcelo Träsel, professor de comunicação digital na Famecos/PUCRS, ganha a disputa "quem grita mais alto ou quem tem mais talento para fazer alianças com outros editores e sobrepujar os adversários pelo consenso, não pela validade dos argumentos".

Dez anos atrás, Träsel criou o verbete em inglês para cachaça, que segue no ar. "Sempre que dou uma olhada, reforço minha crença na capacidade dos seres humanos para colaborarem uns com os outros."

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