'Aerotrem não é a única bandeira', diz candidato do partido de Levy Fidelix

Na sede do PRTB, em Moema, a imagem de um trem verde e amarelo decora a fachada. No entanto, o candidato Walter Ciglioni, 45, que disputa o governo do Estado de São Paulo, tenta se desvencilhar do aerotrem, promessa martelada há anos nas propagandas de Levy Fidelix, líder do partido.

"O aerotrem não é a única bandeira. Inclusive o presidente [Fidelix] tem ampliado o conceito. Temos outras coisas para discutir", defende Ciglioni, que não atingiu 1% das intenções de voto na pesquisa Datafolha mais recente, divulgada em 17/7.

O candidato, que fez carreira no jornalismo e no meio jurídico e trabalhou na Sabesp e na Fepasa (estatal ferroviária paulista fechada na década de 1990), conversou com a sãopaulo em uma sala decorada com imagens de Jânio Quadros [1917-1992].

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sãopaulo - Com qual bairro da capital ou cidade paulista o sr. se identifica?
Walter Ciglioni - Com o Tatuapé. Ali tem uma facilidade grande para circular pelas ruas.

O que mais o agrada no Estado?
A disciplina e a condição de poder fazer tudo no mesmo lugar, desde atrações culturais até atendimentos médicos. No Estado todo não tem isso, mas na capital sim.

O que mais o irrita?
A mobilidade urbana. Ir até o serviço demanda muito tempo nas grandes cidades.

Por que quer ser governador?
É a oportunidade para que um cidadão comum, que sou eu, possa esboçar ideias para melhorar o que está sendo feito. É uma situação concreta de deixar um Estado melhor para os meus filhos, a Beatriz e o Miguel.

Os protestos de junho de 2013 mudaram sua forma de ver a política?
As manifestações são claras: o povo quer mudança. Não dá mais para lidar com o que tem acontecido com o trânsito, a segurança pública, a educação. Mas precisa saber o que e como pedir. É função do Estado instruir isso e dar nortes para a população poder cobrar.

É a favor do uso de bala de borracha contra manifestante?
Não acho adequado. Na manifestação, tem que ter um comando único com um pelotão bem instruído. O policial tem que estar bem pago e ter qualificação.

A polícia deve reprimir os black blocs ou deixá-los protestar do jeito deles?
O protesto tem que ser organizado para não atrapalhar a vida dos outros. Os black blocs e policiais, por falta de preparo, podem se machucar ou machucar o próximo. Quem queima ônibus pode afetar a própria mãe que vai trabalhar no dia seguinte.

Como pretende combater o PCC?
Com inteligência e polícia. Segurança publica é um conceito que não se resume ao policiamento. O PCC é reflexo da falta de estratégia do Estado para entender a população. A polícia tem que investigar e combater as drogas. É inviável um sujeito dentro do presídio se comunicar com as facções.

Como se prepara para enfrentar uma eventual escassez de água?
Tem que ter economia, trabalho e manutenção básica. Sou ex-funcionário da Sabesp: trabalhei no serviço de manutenção há 20 anos. Se naquela época tinha vazamento, imagine agora. Se vaza água em todas as etapas, desde a
Sabesp até a casa das pessoas, claro que vai dar problema. Faltou o Estado pensar numa politica de manutenção. E tem taxa dobrada, de água e esgoto, que gera verba para isso.

O sr. acha a qualidade da água boa? Bebe água da torneira?
O tratamento da Sabesp é um das melhores do mundo. Tomo água da torneira sim, mas depende da torneira, que não pode estar enferrujada.

A tarifa do transporte pode ser zero?
Não. Um quilômetro de metrô custa R$ 1 bilhão para fazer. Como vai ter investimento sem cobrar nada? E não acho que a cobrança seja excessiva.

O metrô é a única salvação para o trânsito da cidade? Quantos quilômetros pretende construir?
O metrô custa caríssimo. Um caminho é adaptar o orçamento do Estado, que tem margem para isso. Outro são as parcerias público-privadas. Transportes alternativos, como o monotrilho, ou aerotrem, ajudam bastante. Mas além do aerotrem, temos outras coisas a discutir, como a segurança. Falta ônibus de qualidade. Os trens são bons, mas a rede poderia ser ampliada, como na época das ferrovias, rumo ao interior.

Qual o seu principal projeto para a rede pública de saúde?
Falta um sistema de informação integrada. Na rede pública, não há uma triagem adequada. O médico manda o paciente para outro hospital e, quando chega lá, começa tudo de novo. E o agendamento pode levar sete meses.

Utiliza algum serviço público?
Meu filho nasceu ano passado em um hospital público, na Cachoeirinha (zona norte). Tive um problema com o plano de saúde pouco antes de ele nascer e precisei ir lá. Fui bem atendido, mas enfrentei problemas. Ele teve bronqueolite e tive de ir a outro hospital, no Mandaqui (zona norte), onde esperei por seis horas. Na triagem, havia vítimas ensanguentadas. Ele ficou sete dias internado e não havia lugar adequado para minha esposa ficar.

Quem foi o melhor governador de São Paulo?
Não identifico nenhum bom.

E o pior?
Parto do princípio de não ficar falando quem é ruim ou bom.

Em que político o senhor se inspira?
Em Nelson Mandela [1918-2013] e em John Kennedy [1917-1963], que trabalhou muito para os EUA irem pra frente. No Brasil, um grande avanço foi feito pelo JK [Juscelino Kubitschek, presidente de 1956 a 1961].

Se for eleito, qual será a sua marca do seu governo?
A boa administração pública e a humanização. Não gosto de me sentir um número no IPVA, no CPF. Sou gente.

O que não faltará no seu gabinete?
Trabalho e gente especializada.

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