Hospital Matarazzo reabre depois de 20 anos com exposição

Há uma semana, o semblante sério esculpido em mármore do conde Francisco Matarazzo (1854-1937) observa o vaivém no antigo hospital Umberto Primo, conjunto de imóveis tombados na Bela Vista, a uma quadra da avenida Paulista.

O quarteirão de 27 mil m² —conhecido também como hospital Matarazzo, por ter recebido doações do industrial italiano—, abrigará, a partir do dia 9 de setembro, instalações e performances de mais de cem artistas brasileiros e estrangeiros.

Na mostra "Made By... Feito por Brasileiros", os visitantes poderão circular por projetos site-specific (feitos para o espaço) e outros trabalhos que lembram a história do local.

Logo na entrada, haverá duas ambulâncias que, anos atrás, prestaram serviço ali. Agora, com lâmpadas encontradas no imóvel, os veículos formam a obra de Daniel de Paula.

Na fachada, pessoas contarão suas memórias do hospital em projeções de vídeos. As lembranças do imóvel ainda serão vistas na forma de poeira prensada no chão ou em uma sala restaurada pela metade.

Os outros trabalhos interagem com o local, mas não têm homenagens como propósito. Aos pés de uma escada, onde está um busto de Ermelino Matarazzo (1883-1920), será montada uma espécie de piscina com um líquido que simula óleo.

O mexicano Héctor Zamora irá materializar sua arte lançando vasos com plantas do primeiro andar do edifício. "A ideia é que elas cresçam depois, isso é a obra", conta o curador Marc Pottier. "Mas talvez tenhamos que jogar tudo fora."

Segundo Alexandre Allard, francês dono do empreendimento que será construído ali —e se chamará Cidade Matarazzo—, as obras serão desfeitas após a mostra. "O que importa é o momento, a lembrança."

Para ele, o evento celebra a finalização de um projeto que já tem sete anos. O hospital, fundado por imigrantes italianos em 1904, estava fechado desde 1993.

A área pertencia à Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) e foi comprada em junho de 2011 pelo grupo Allard por R$ 117 milhões.

O plano é que a maternidade abrigue um hotel de luxo, ou "seis estrelas", e que os outros espaços tenham restaurante, galeria de arte, cinema e teatro.

Apesar da festa, a ideia ainda não foi aprovada pelo Condephaat (conselho estadual de patrimônio histórico). De acordo com o órgão, o projeto para o quarteirão na Bela Vista ainda "não tem data para ser analisado".

MAPA DA OCUPAÇÃO

Obras clássicas, inusitadas ou com memória que estarão em cartaz

  • No vídeo da performance "Baba Antropofágica", obra de Lygia Clark de 1973, diversas pessoas tiram linhas da boca para cobrir alguém que está deitado no chão
  • Filmes clássicos de terror do cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, serão exibidos
  • A artista Sofia Borges montará seu ateliê no local, onde vai conversar e interagir com os visitantes
  • Na obra de Daniel Senise, parte de uma sala é restaurada enquanto a outra mantém as características do prédio abandonado
  • Estátuas de santos que foram encontradas no imóvel, como são Paulo, são Pedro e são Francisco, serão usadas pelo artista Rodrigo Bueno em uma instalação com plantas medicinais
  • O norueguês Per Barclay irá montar uma espécie de piscina com óleo escuro que refletirá uma escada do edifício
  • Na fachada, serão projetados depoimentos em vídeo de pessoas que têm memórias do antigo hospital
  • A poeira acumulada durante cerca de 20 anos no prédio foi fixada no piso pela artista Cinthia Marcelle e irá contrastar com apenas uma faixa da sujeira no chão que foi limpa
  • Daniel de Paula irá encher duas ambulâncias antigas do hospital com lâmpadas e luminárias que também foram achadas ali
  • A artista Maria Thereza Alves nasceu no hospital e seu pai trabalhava nas empresas do grupo Matarazzo. Ela irá escrever um texto sobre a família industrial.
  • Dançarinos se apresentarão no andar térreo da maternidade em meio a cenografia de Beatriz Milhazes e coreografia de sua irmã Márcia
  • Um coração com os nome "Chico & Filó" será gravado em uma árvore morta e em paredes do hospital em homenagem ao casal Francisco e Filomena Matarazzo em obra de Ana Mazzei
  • Quatro estátuas em homenagem à família Matarazzo, como a da condessa Filomena (foto), estão no jardim ou dentro dos prédios do complexo na Bela Vista. As obras devem ser preservadas no futuro empreendimento

MADE BY... FEITO POR BRASILEIROS
ONDE: Cidade Matarazzo - al. Rio Claro, 190, Bela Vista, região central
QUANDO: de 9/9 a 12/10, ter. a dom., das 10h às 17h
QUANTO: grátis

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