Casa & Decoração

Objetos 'descartados' se transformam em peças de decoração

Quando passeia pelas ruas do bairro onde mora, em Tamboré, na Grande São Paulo, a empresária Lúcia De Lorenzi, 60, presta atenção nos objetos que são deixados pelo caminho, geralmente em terrenos vazios. Foi assim, por exemplo, que há um ano encontrou um carretel de madeira de fios deixado pela Eletropaulo e transformou-o em um pé de mesa de centro para sua casa. Depois de lixar e passar verniz marítimo na peça, um vidro redondo com um centímetro de espessura completou o móvel.

"Há uma mudança no olhar e passo a enxergar além do objeto", explica. A atividade e o interesse por decoração não são novos. Há dez anos, passeando por Embu das Artes, reduto de artesãos, ela encontrou troncos de árvore que poderiam se transformar em um pé de mesa para seu escritório. "Na época paguei R$ 100 pelo tronco, porque estava jogado no quintal de uma das lojas e o dono não queria cobrar. Há três anos fui comprar um novo para a sala da minha casa e paguei R$ 1.500", compara.

No mesmo escritório, pallets de madeira, como as ripas usadas para fazer casinhas de cachorro, serão transformadas em um painel na parede com lugar para vasos de flores, formando um jardim vertical. Ainda na sala do seu apartamento -que possui muitas plantas, iluminação indireta e fonte de água-, há vaso deitado para servir de apoio a outra mesa de centro e madeira de demolição para revestir a parede e formar um painel na cozinha, camuflando a porta que dá acesso à área de serviço. O braço de uma bonequinha de cerâmica serve de toalheiro no lavabo.

TRANSFORMAÇÕES

Além de troncos de árvore e carretel de fios que se tornam mesas, há produtos simples que podem ser transformados em objetos de decoração. O arquiteto Maurício Arruda criou, em 2010, a Linha José, cuja inspiração foi a observação em feiras, principalmente. O móvel é feito com as cestas plásticas que os feirantes usam para carregar frutas, legumes e verduras. "Usamos madeira certificada e o plástico é reciclado das próprias caixas, como algumas que foram quebradas e danificadas", explica o arquiteto. O desenho dos pés fabricados com barras de ferro maciças é o mesmo dos carrinhos dos carregadores de papéis, lixo reciclado e dos próprios feirantes.

Seu estúdio também ensina a fazer, em sua página na internet, uma luminária com embalagens plásticas de produtos de limpeza, apelidada de René Descartes. "Recebemos o convite de um hotel no Rio de Janeiro e fizemos as luminárias. De tão simples, ensinamos a fazer", diz Arruda.

Caixotes de madeira, também comum nas feiras e na Ceagesp, podem ser transformados em porta-revistas. A rede Tok&Stok vende o modelo pronto, em dois tamanhos (de 46cm, R$ 109,90; e de 30cm, R$ 74,90), confeccionados artesanalmente com madeira maciça reaproveitada de pallets (eucalipto ou Pinus elliotti) e com acabamento encerado. A produção é dos artesãos da Cooperativa Unindo Forças, localizada em Barueri, na Grande São Paulo, que há 14 anos vende produtos feitos a partir de pallets. Embora tenha a rede como único cliente, a cooperativa aceita encomendas de consumidores.

O mesmo caixote de madeira, nas mãos da artista plástica Eliana Barreto, do ateliê Art Feita, pode virar prateleiras e mesa de canto. Para fazer a transformação, é possível usar tecidos e tinta látex (de parede) de diversas cores.

Uma das dicas é usar três caixotes empilhados. Depois parafusados, pintados e com rodinhas na base, eles se transformam em prateleiras. "No meu ateliê uso na cozinha para guardar pratos, copos e potes com bolachas", conta. Outra dica é o banco rústico de construção transformado em uma banqueta graciosa e colorida.

A De Cabrón, fabricante de molhos de pimenta, confecciona os vidros com design e ilustração de caveira que acabam virando peça de decoração. A jornalista Daniela Saragiotto, 37, é uma das adeptas. "Meu marido gosta de cozinhar e a minha cozinha é aberta, tipo americana, mostrando o interior. Compramos as pimentas atraídos pela embalagem", admite. Por enquanto, ela expõe os vidros no display feito de madeira que combina com os móveis de sua cozinha.

A garrafa de vinho também pode ser transformada em um vaso de flor. Foi o que fez a artesã Jaqueline Reche, do Ateliê Josephina. "Fiz um desenho e colei retalhos de cetim colorido cortados bem pequenininhos", diz. Ela explica que podem ser usados outros tipos de tecido, desde que sejam finos. E, para colar, foi usada uma entretela autocolante. "Só não aconselho colocar água dentro da garrafa, porque pode molhar e estragar o trabalho", diz, preferindo flor artificial. Há no mercado tecidos adesivos que facilitam o trabalho. Outra dica dela é usar latas de molho de tomate, por exemplo, como porta-lápis. "A técnica é mesma: colar o tecido em volta."

Para quarto de bebê, ela usou bastidores de ponto cruz para enfeitar a parede. "Encaixei o tecido de algodão nos bastidores de madeira e pendurei na parede com pregos", explica.

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