'Vendo exclusividade e não um corpo', diz prostituta Lola Benvenutti

"Elegância e inteligência, impetuosidade e audácia. Prazer desejado por muitos. Exclusividade para poucos. Permita-se". Assim anunciaria seus serviços Lola Benvenutti, 22. "Vendo exclusividade e não um corpo", justifica a garota de programa, famosa por seu blog em que conta experiências da profissão e dá dicas de sexo e comportamento. Graças ao seu trabalho na internet, ela não precisa de muita propaganda em sites de acompanhantes.

A jovem promove neste sábado, Dia do Sexo (6/9), uma noite de autógrafos de seu primeiro livro "O Prazer É Todo Nosso", lançado em agosto. O evento faz parte da programação da festa fetichista Projeto Luxúria, comandada por Heitor Werneck.

Lola é o codinome de Gabriela Natalia da Silva, inspirado na obra "Lolita", de Nabokov. "Quando eu li o livro eu tinha 12 anos. Estava na biblioteca da escola", diz ela, natural de Pirassununga (interior de São Paulo) e formada em letras na UFSCar.

Sem revelar preços dos programas, conta que já até conseguiu comprar seu próprio apartamento no centro de São Paulo, para onde se mudou há aproximadamente um ano.

A garota é uma defensora da liberdade sexual. "Quero que as pessoas se permitam viver. Seriam muito mais felizes e se importariam muito menos com a vida dos outros se gozassem a vida mesmo. Dou dicas para as pessoas se libertarem."

ABAIXO, LEIA BATE-PAPO COM LOLA BENVENUTTI:

sãopaulo - Como seria um anúncio de seus serviços?
Lola Benvenutti -Elegância e inteligência, impetuosidade e audácia. Prazer desejado por muitos. Exclusividade para poucos. Permita-se.

Não colocaria nenhum atributo físico?
Vendo exclusividade e não um corpo.

E por que o nome?
Lola foi com inspiração no "Lolita", do [russo Vladimir] Nabokov, essa coisa de gostar de homem mais velho, de sexualidade muito cedo... Quando eu li o livro eu tinha 12 anos. Estava na biblioteca da escola. "Benvenutti" significa bem-vindos em italiano.

Acompanhante, prostituta, garota de programa?
Eu prefiro, na verdade, puta. A Gabriela Leite [fundadora da Daspu] falava que preferia esse termo, porque parecia o maior xingamento da sociedade. Eu acho que é um choque necessário. Às vezes, alguém me pergunta e eu falo que sou "puta". Daí a pessoa se doi. Mas eu não me ofendo. Sempre digo que sou tão puta quanto quem está ali na praça da Luz, cobrando R$ 15, R$ 20 por programa. A diferença é só o ambiente, o público. É honestidade também. Não querer essa coisa de "acompanhante de luxo" para dar um nome mais bonito para enfeitar a coisa.

Você se formou em letras e agora quer fazer mestrado?
Eu queria fazer mestrado em estudos culturais na USP, pesquisando moda, pois meu TCC [em letras na UFSCar] foi com esse tema. Depois percebi que queria estudar sexualidade, com foco na prostituição, e meu orientador não dava conta do tema. Procurei uma professora da Unicamp. Agora vou ter de estudar uma nova bibliografia, vai demorar um tempo.

Por que decidiu entrar neste meio?
Comecei aos 17 anos as primeiras experiências em Pirassununga, fiz uns cinco programas e parei. Depois retomei no último ano da faculdade e logo criei o blog. A minha visão da profissão sempre fui muito romântica, tinha em mente a Audrey Hepburn em "Bonequinha de Luxo". Essa coisa de cobrar foi muito natural. Comecei muito nova com a sexualidade. Foi natural esse processo. Pensei um dia: "Meu, vou monetizar isso".

Lembra do primeiro programa?
Eu achei um cara de outra cidade na internet. Ele foi me encontrar. Eu estava com um frio na barriga e uma excitação. Foi legal, o cara foi muito delicado. Não lembro quanto cobrei, mas foi muito mais do que a minha mesada. Daí eu pensei: "transei e ainda ganhei uma grana".

E como foi a reação de seus pais e como ficou a relação?
Contei uns três meses depois que eu comecei. Sou de uma família tradicional, conservadora. Vivi em sítio até os 17 anos. Eles ficaram indignados. Foi péssimo. Tive uma conversa franca om meu pai. Disse que gostava, que me sentia bem. Ele chorou. Uma das primeira vezes que eu o vi chorando. Mas eles não me abandonaram. Fiquei um ano sem falar com minha mãe, distante do meu pai. A gente superou, nos reaproximamos. Hoje, quando vou visitá-los só não toco no assunto, não falo sobre o livro

Suas primeiras experiências sexuais foram bem precoces, certo?
Sempre tive uma relação com meu corpo muito precoce. Perdi a virgindade aos 11 anos. Não foi traumático, não me senti estuprada, não vejo o cara como um predador, nada disso. Aconteceu naturalmente. Eu sentia que aquele era o momento. Não defendo isso, mas foi o que houve. Conheci o cara pela internet. Ele não sabia que eu tinha 11 anos, mas enfim Ele tinha estudado para ser padre por muitos anos. Ele não conseguia nem abrir minha blusa (risos).

Você namora?
Agora estou solteira. Eu acho que tem gente que vive o modelo de monogamia. Somos criados para isso. Existe uma pressão para que as coisas sejam monogâmicas. Eu não acredito, pois eu não vejo isso acontecer. Eu lido todos os dias com a traição. Isso mostra que a nossa natureza não é monogâmica. Mas com isso não quero dizer não é possível amar uma pessoa. Amor e sexo são coisas diferentes, mas isso tem de ser trabalhado...

Como lida com as comparações com a Bruna Surfistinha?
Como é o mesmo segmento de trabalho, há o blog, eu entendo a pessoas compararem. Mas, modéstia à parte, eu me acho muito mais sofisticada do que ela. Escrevo coisas muito mais psicológicas, o que eu tiro de reflexão de cada evento. Não enumero simplesmente meus programas. E eu escolhi a prostituição porque gosto. Eu já estava quase formada, já morava sozinha, era esclarecida, de uma família boa, não me revoltei com nada, não usava drogas...

Como resumiria seu livro?
A minha briga não é pela prostituição, é pela liberdade sexual. Quero que as pessoas se permitam viver. Seriam muito mais felizes e se importariam muito menos com a vida dos outros se gozassem a vida mesmo. Trago umas histórias da minha vida como garota de programa e sempre trago uma reflexão do que aconteceu ali, dou dicas para as pessoas se libertarem. É uma análise mais profunda sobre a sexualidade. Não trato de uma forma bizarra nem vitimizada. Acho que a diferença é abismal entre minha história e a da Bruna.

O Prazer É Todo Nosso
Lola Benvenutti
Lola Benvenutti
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Pensa em fazer um filme com sua história também?
Estou conversando com algumas produtoras, mas acho que ainda é cedo. Tenho vontade... Uma série, uma peça, um filme.... Quero pensar bem....já gravei um piloto... mas está tudo sob analise...

Tem vontade de parar?
Falo que se fosse bonita para sempre, faria isso para sempre. Eu me divirto muito, eu gosto. Mesmo! Mas daqui a um tempo... Minha beleza não vai durar para sempre. Já estou diversificando. Mas enquanto eu achar alguém que queira, acho que vou continuar (rs).

Quais outros projetos tem em mente?
Estou desenvolvendo com uma amiga maquiadora workshops e palestras de sexo e comportamento para mulheres e homens. Ninguém dá muita atenção para os homens. Já tenho alunos indiretamente. Tem gente que chega me dizendo "quero que me ensine como conquistar mulheres". Ensino a teoria e prática. Vamos pra balada, vejo como ele se comporta na abordagem. Tem tudo a ver com as questões de relação humanas, sexo pago. Por isso que mudei minha pesquisa. Eu sei muito na prática, mas sinto falta da teoria e o título de mestre, de doutor. A sociedade exige isso.

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