Cursos de marcenaria são opções para fazer o próprio móvel ou relaxar

Durante três meses, o músico Francisco Formiga, 54, alternou a leveza de seu fagote (instrumento de sopro parecido com uma flauta) com o peso de martelos e furadeiras.

A novidade veio quando ele recebeu a proposta de sua mulher para que fizessem juntos um curso de marcenaria. Uma vez por semana, o casal passava quatro horas na oficina da escola Labmob, na Barra Funda, zona oeste, desenhando projetos e pregando madeira.

O local é a mais recente escola de marcenaria da cidade. Ali e em ao menos outros quatro endereços na capital, reúnem-se pessoas que desejam trabalhar com madeira para aliviar o estresse, especializar-se na área, fazer um trabalho manual ou aprender o processo de construção de um móvel.

"No primeiro momento, você acha que não vai dar conta", diz Formiga. "Mas, depois, vira uma terapia, você fica quatro horas em pé e nem percebe."

O resultado da experiência foi uma estante e uma escrivaninha que fazem inveja aos amigos que visitam a residência do casal.

A proposta de que qualquer pessoa pode fazer seu próprio móvel é o principal chamariz da Labmob. A escola foi aberta em março do ano passado pelos amigos e arquitetos Bruno Lima, 33, e Daniel Sene, 33.

Os alunos, leigos ou profissionais de arquitetura ou design, usam máquinas e ferramentas leves e materiais pré-prontos para produzir. "A ideia surgiu porque não encontrávamos um curso de marcenaria que quiséssemos fazer", diz Daniel.

O diretor de arte Beto Grimaldi, 53, passou uma manhã de sábado terminando seu "rack" na escola. "Comprar um móvel desses é uma fortuna, você vai pagar R$ 3 ou R$ 4 mil", diz ele, que investiu R$ 1.560 no curso, fora as madeiras e ferragens.

Formado em arquitetura, Beto conta que procurou a escola também para lidar melhor com os marceneiros com quem trabalha diariamente.

Hoje, segundo os donos, circulam pela Labmob cerca de 90 alunos, em quatro turmas. "As únicas pessoas que vetamos são menores de idade e mulheres grávidas", conta Bruno. "E olha que já vieram várias aqui." Nos planos da escola estão programas para perfis específicos, como cursos de mobiliário infantil e para construção de barcos.

No andar térreo de uma das duas oficinas da Labmob, na rua Boracea, trabalha o designer de móveis Rodrigo Silveira, 32. Sem placa na porta ou divulgação na internet, seu curso tem fila de espera.

Rodrigo abre seu ateliê uma vez por semana para ensinar interessados em aprender a lidar com madeira maciça, em móveis sem nenhum tipo de ferragem. "Nunca divulguei as aulas, mas a procura tem aumentado desde o ano passado", conta Rodrigo. Entre os alunos atuais há decoradores, chefs de cozinha e artistas.

ANTI-ESTRESSE

Muitos dos entusiastas da marcenaria de hoje saíram de uma charmosa oficina instalada em Pinheiros, na zona oeste.

Desde 1990, a Cose di Legno realiza cursos livres de marcenaria ministrados pelo artista plástico Piero Calò, 55."As pessoas precisam enfiar algo debaixo do braço e dizer 'eu que fiz'", ri Piero.

Aluna da escola há dez anos, Marisa França, 70, já fez um armário de três metros de largura, mesas de centro e de xadrez. "Hoje, esse é o único local a que não tenho preguiça de ir", diz.

Para algumas pessoas, como o engenheiro Celso Yamamoto, 58, a descoberta da marcenaria levou a uma mudança de vida. Após uma crise de depressão, ele largou o emprego de anos no Metrô e abriu a escola Madeira Vida, atualmente localizada no Jabaquara, zona sul.

"Meu objetivo é ter um curso sem cobrança, para que o aluno não tenha ansiedade para terminar um projeto", diz Celso.

Com paciência e disciplina nipônicas, ele mantém regras em seu ateliê (organização, planejamento, limpeza e segurança) e preza por métodos tradicionais, como fazer com que os alunos aprendam a lixar a madeira manualmente.

"Fazendo o lixamento sem a máquina, a pessoa presta atenção no tato e na sua postura", ensina. "Só não se encaixa no curso quem quer ser marceneiro em três meses."

SERVIÇO
Cose di legno
Tem diversos cursos, como confecção de móveis, objetos, brinquedos, e restauração de peças em madeira. Preço: R$ 550 mensais por aula semanal de duas horas. Não inclui material.
R. Antônio Bicudo, 22, Pinheiros, zona oeste, São Paulo. Tel. 0/xx/11/3082-2387. cosedilegno.com.br

Labmob
Ensina desde a desenhar o projeto até a finalização. O curso Marcenaria Aplicada à Auto-Construção tem duração de três meses e custa R$1.560. Madeiras e ferragens são compradas à parte pelo aluno.

Atualizado em 27.abr.16 - A antiga Labmob virou duas escolas:
Lab74
R. Anhanguera, 74, Barra Funda, região central, São Paulo. Tel. 0/xx/11/2628-8678. lab74.com.br
Oficinalab
R. Ribeiro de Almeida, 166, Barra Funda, região central, São Paulo. Tel. 0/xx/11/3392-5962. oficinalab.com.br

Madeira Viva
Voltado para o trabalho com madeira como arte, hobby ou terapia. Tem aulas de confecção de móveis, entalhe e escultura. Preço: R$ 540 mensais por aula semanal de duas horas e meia. Não tem material incluso.
Av. Eng. George Corbisier, 943, Jabaquara, região sul, São Paulo. Tel. 0/xx/11/5575-3826. madeiraviva.com

Rodrigo Silveira
O designer de móveis abre seu ateliê uma vez por semana para ensinar técnicas de construção de móveis com madeira maciça. O preço é de R$ 600 pela aula de três horas. Material não incluso. Há lista de espera.
R. Boracea, 168, Barra Funda, região oeste, São Paulo. Tel. 0/xx/11/9 8277-7722. orodrigoquefez.com.br

Senai
As unidades do Brás e do Ipiranga têm o curso "Construtor de Móveis", de 160 horas de duração. Ligue para saber sobre a disponibilidade dos cursos. O preço é R$ 1.200, com material.
www.sp.senai.br
Unidade Brás: 0/xx/3322-5000
Unidade Ipiranga: 0/xx/2060-9000

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