Melhores Teatros de SP

Especial da sãopaulo avalia os 60 maiores teatros da capital paulista; confira qual a situação do seu palco predileto na cidade

Viciados em musicais assistem até 22 vezes à mesma peça; conheça quatro

Não é à toa que brasileiros são maioria entre os turistas que lotam as plateias das montagens da Broadway, em Nova York, correspondendo a 22% da audiência. Em solo paulistano, é possível encontrar quem tenha assistido ao mesmo musical 22 vezes.

É o caso vendedor de shopping Leonardo Soares, 25, com o espetáculo "A Madrinha Embriagada", em cartaz de agosto de 2013 a junho deste ano.

Trata-se de um interesse que não se prende a um único título: em sua coleção ainda estão 15 ingressos de "Avenida Q", 14 de "O Despertar da Primavera" e 11 do musical "Gypsy".

"Sempre penso que depois vai sair de cartaz e eu não vou mais poder assistir", conta Soares, que intercala o trabalho com as idas ao teatro nos finais de semana.

As mais de duas dezenas de vezes em que assistiu à montagem dirigida por Miguel Falabella -que, por sorte, era gratuita- foram espalhadas ao longo de um ano. "Teve uma semana que eu fui sexta, sábado e domingo."Quando tem de pagar, na maioria das vezes utiliza ingressos que ganha de amigos que trabalham com teatro. "Se não entro de graça, não repito tanto."

O analista de sistemas Luiz Gustavo Roos, 31, tem números um pouco mais modestos: assistiu a "Cats" quatro vezes, "O Rei Leão" em três ocasiões e, em duas, "Mamma Mia" -entre outros que ainda não repetiu. A admiração por peças, aliás, foi um dos fatores determinantes para a sua mudança a São Paulo.

O mineiro, de Uberlândia, veio à capital para uma apresentação de "Miss Saigon", em 2008 -era uma excursão da escola de inglês. "Nunca tinha assistido a um musical", conta. "Depois que vi, pensei: quero morar aqui!". Em 2009, Roos estava de mudança.

Desde então, sempre que algum familiar ou amigo vem visitá-lo, o destino é certo: o teatro. "O Rei Leão", por exemplo, ele assistiu sozinho, depois com a mãe e com a tia e, por último, com a namorada. O investimento no hobby é alto, já que a sua preferência é por setores próximos ao palco, que custam em torno de R$ 200. "Só escolhi o balcão [R$ 50] quando levei sete pessoas junto. Ia dar mais de R$ 1.000, né?"

Olho técnico

A auxiliar administrativa Cleia Katiucya, 33, faz questão de assistir às montagens preferidas várias vezes. "Cabaret", por exemplo, ela viu sete. "Vingança", então, perdeu a conta. Sem falar na presença cativa em "Crazy for You", "A Família Addams" e "Priscilla - Rainha do Deserto".

E se não tem companhia para as reprises, vai assim mesmo. "Uma vez o taxista ficou indignado porque fui sozinha ao teatro. Mas não ligo". É claro que os passeios nem sempre são solitários. "Todos sabem que eu gosto e me chamam para ir junto."

A paixão surgiu quando Cleia ainda era criança. Ela conta que, nas noites de insônia, assistia a filmes em que as pessoas cantavam e dançavam. "Quando cresci e pude ver tudo aquilo no teatro, enlouqueci."

Para alguns, a escolha de ver um espetáculo repetidas vezes passa também pela parte técnica. A troca de atores, que se revezam para interpretar os personagens, por exemplo, conta. "Na semana em que assisti 'A Madrinha Embriagada' três dias seguidos foi porque havia substituição de elenco e eu queria ver a diferença", afirma Leonardo Soares.

Ben Ludmer, 29, é ator e outro viciado em peças musicadas. Em sua lista constam 18 idas a "O Despertar da Primavera", 15 sessões de "Miss Saigon" e outras dez de "Cats".

Acostumado a estar do outro lado dos palcos, fica de olho nas mudanças. "Se um ator sai do coro para assumir um papel de destaque, outro precisa entrar no coro. E cada um dá a sua leitura ao personagem."

Insistência

Apesar dos fãs fervorosos, a paixão pelos musicais pode não ocorrer à primeira vista. Quanto Luiz Gustavo viu "Cats" achou chato e monótono. Não convencido, resolveu estudar a montagem. "Quando comecei a entender melhor, voltei e assisti de novo."

Ben Ludmer também não caiu de amores por "Cats" instantaneamente. Chegou a comprar o livro em que o musical foi baseado, "Old Possum's Book of Practical Cats", de T. S. Eliot, para entender a história. "É tanta coisa rolando no palco que nem sempre prestamos atenção no ator que não está em foco. Mas ele também tem uma identidade importante na peça."

Entre os que são "cadeiras cativas" na plateia, sempre há uma justificativa para o vício. Para Cleia, é a chance de viver um mundo diferente. "Sempre lembro de uma peça do dramaturgo Naum Alvez de Souza que diz assim: 'eu adoro teatro. Não entendo nada, mas sonho'".

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