'Artistas de hoje não convivem mais', diz dono de hotel que hospedou Piaf

Raphael Jafet, 85, já recebeu gente como a cantora Edith Piaf e Roberto e Erasmo Carlos, que escreveram em sua "casa" a canção "Detalhes". É que Jafet chama de casa o hotel San Raphael, no largo do Arouche, que toca desde os anos 1970, quando preteriu a engenharia pela hotelaria.

No quase meio século de ofício, fundou também o San Michel, no centro, e um hotel de campo em Itu, a 101 km de São Paulo. "Receber virou minha vida", diz o descendente de libaneses que fala cinco línguas. Leia trechos da conversa.

Gabriel Cabral/Folhapress
Raphael Jafet, dono do hotel San Raphael, que já foi o mais chique da cidade e hospedou Edith Piaf
Raphael Jafet, dono do hotel San Raphael, que já foi o mais chique da cidade e hospedou Edith Piaf

sãopaulo - Como você virou hoteleiro?
Raphal Jaffet - Minha família construiu o prédio, mas sem o intuito de explorar o hotel. Alugamos. Isso foi em 1950. Ficou alugado até 1970, daí retomamos o imóvel. Eu não tinha certeza se ia querer trabalhar com hotelaria. Ia reformar e alugar para outra rede. Depois de um tempo, me dei conta: estou gostando disso aqui.

O nome é uma auto-homenagem?
É coincidência [risos]. É um nome internacional, para qualquer língua.

Quem foram seus hóspedes inesquecíveis?
Edith Piaf e [o cantor e ator colombiano] Carlos Ramirez. A Hebe Camargo começou a carreira dela como "crooner" na boate Lord, que era no topo do hotel e comportava 190 pessoas. Ela tinha um brilho no olhar e um jeitão muito desinibido. Ela era mais graciosa do que afinada.

Fora do hotel hoje está o ônibus da dupla de sertanejo universitário Munhoz & Mariano. Mudou o tipo de artista que recebe?
Sim. Eu tinha muito contato com os artistas. Hoje é muito impessoal, não tem contato nenhum, é tudo pela internet. Os artistas de hoje em dia se fecham no hotel, não convivem mais.

A elite da cidade ainda é o grosso da sua clientela?
A cidade cresceu, o público é outro. A maioria é de viajantes de negócios, 60%. As pessoas precisam ver que aqui é uma das zonas mais seguras da cidade. A segurança do hotel nunca precisou ser reforçada. Você sai no largo do Arouche e parece que está num recanto do Jardim América. A cracolândia é o problema, mas seria facilmente resolvida.

Você hospedou no seu hotel de Itu a seleção da Rússia durante a última Copa. Como foi a estada deles?
Parecia um evento de padres. Ninguém falava, ninguém comentava, ninguém conversava. Os jogadores eram ótimos e simpáticos. Quando perderam da Bélgica, chegaram ao hotel chorando.

E os negócios da construtora da sua família, a Jafet, como vão?
Bem. Trabalho muito em Pirituba, perto da [avenida] Raimundo Pereira de Magalhães. Fazemos prédios residenciais em Zonas Especiais de Interesse Social [áreas destinadas a famílias mais pobres, com limite de preço de venda]. É um mercado muito estreito esse, é preciso ser esperto. Se bem que para tocar um hotel é preciso ser mais.

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