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Conheça três jovens dramaturgos que estão com peças em cartaz em SP

Uma geração de jovens dramaturgos vem despontando na cena teatral paulistana. Na casa dos 30, eles investem em diferentes linguagens e experimentações cênicas.

São autores que escrevem peças não apenas para seus grupos, mas também sob encomenda, numa espécie de retorno à figura do dramaturgo de gabinete —um pouco apagada a partir dos anos 1990 com o boom dos processos colaborativos.

Conheça o trabalho de três destes jovens autores cujas peças estão em cartaz na capital neste mês e no próximo.

Rafael Gomes

Apesar de se considerar um "expectador profissional", pois assiste à peças desde a adolescência, Rafael Gomes, 31 anos, demorou para começar a escrever dramaturgia. "Achava que já tinham textos incríveis para o teatro e que ele não precisava da minha contribuição", diz. "Só depois fui vendo que, apesar de peças brilhantes terem sido produzidas, eu poderia escrever sobre coisas que correspondem ao meu tempo."

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Rafael Gomes, que fundou a companhia Empório de Teatro Sortido com Calderoni, em 2010
Rafael Gomes, que fundou a companhia Empório de Teatro Sortido com Vinícius Calderoni, em 2010

A primeira peça que escreveu, e também dirigiu, foi "Música para Cortar os Pulsos", em 2010, ano em que fundou, ao lado do compositor e também dramaturgo Vinícius Calderoni, a companhia Empório de Teatro Sortido.

A peça, que inicialmente seria um filme, rendeu a Gomes o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte na categoria de melhor espetáculo jovem.

A companhia não tem atores fixos. "Não queria essa algema, ter que encaixar uma peça dentro de uma determinada trupe", conta. Além disso, Rafael não se dedica apenas ao teatro. Formado em cinema, ele escreveu episódios para séries como "3 Teresas", da GNT, e "Louco por Elas", da Rede Globo.

Este ano, três peças da companhia estrearam: "O Convidado Surpresa", "Gotas D'água Sobre Pedras Escaldantes" (ambas são textos de romances adaptados e dirigidos por Rafael) e "Não Nem Nada", peça escrita por Calderoni e dirigida por ele.

Além de experimentar formatos de dramaturgia, Rafael quer, por meio de suas montagens, "responder à contemporaneidade". "Responder ao que se transforme no mundo e na vida. Por exemplo, a lógica da memória hoje. Eu não tenho quase nada da minha avó além de fotos em preto e branco, um diário, relatos de seus filhos e minha própria convivência com ela. Já meus netos vão poder saber tudo de mim, pois terão acesso ao meu Facebook, Instagram, etc. São linhas do tempo vivas", diz.

Gotas D'Água Sobre Pedras Escaldantes
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Não Nem Nada
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Dione Carlos

Carioca, Dione Carlos, 36 anos, veio para São Paulo aos 19 anos depois de se apaixonar por um paulistano. Aqui, tentou psicologia, jornalismo e até veterinária antes de entrar para o teatro. "Venho de uma família simples, do subúrbio do Rio de Janeiro. O artista era uma figura distante: o mais próximo que tinha chegado da arte foi por meio da literatura", conta.

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Dione Carlos trabalha com grupos teatrais de forma autônoma
Dione Carlos trabalha com grupos teatrais de forma autônoma; no próximo mês, ela estreia "Sereias"

Em 2011, integrou a primeira turma de dramaturgia de SP Escola de Teatro e escreveu "Sete", peça dirigida por Juliana Galdino. Desde então, vem trabalhando com grupos teatrais de forma autônoma. "Não tenho um grupo, mas estou sempre em boa companhia. Brinco que é um processo colaborativo diferente, porque eles me dão um estímulo de algo que eles querem concretizar e eu trago a concretude por meio da palavra, sempre seguindo a minha poética", diz.

A morte e a força feminina são temas recorrentes em sua dramaturgia, focada na palavra. "Uso a palavra como construtora de imagens", explica. Em maio, por exemplo, escreveu para a Cia do Pássaro a peça "Oriki", uma adaptação de Hamlet em que os personagens de Shakespeare são baseados nos arquétipos dos orixás. "Propus que hibridizássemos esses arquétipos de modo a trabalhar as energias e a natureza desses orixás em vez de trazer algo mais folclórico".

No próximo mês, a Cia. Caminho Velho apresenta "Sereias". Escrita por Dione e dirigida por Alex Araújo, a peça traz, a partir do conto "O Silêncio das Sereias", do autor tcheco Franz Kafka, o mito de Ulisses, em que o herói tampa os ouvidos para não escutar o canto das criaturas e acaba surpreendido pelo silêncio delas.

Sereias - Teatro Adamastor - Av. Monteiro Lobato, 734, Guarulhos. 40 lugares. Dom. (12 e 19/10): às 18h e às 20h. Grátis (retirar os ingressos na bilheteria uma hora antes do espetáculo)

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Alexandre Dal Farra

Desde 2005, Alexandre Dal Farra, 33 anos, é dramaturgo do grupo Tablado de Arruar. Mas não só. Também desenvolve projetos paralelos, como "Conversas com Meu Pai", monólogo documental encenado por sua mulher, a atriz do Grupo XIX Janaina Leite, no qual ela conta a relação estabelecida com seu pai: durante cinco anos, os dois se comunicaram por meio de bilhetes, já que ele não podia falar devido a um câncer na garganta —e ela estava perdendo a audição.

Rodrigo Dionisio/Folhapress
Alexandre Dal Farra, que é do grupo Tablado de Arruar desde 2005 mas faz projetos paralelos
Alexandre Dal Farra, que é do grupo Tablado de Arruar desde 2005 mas também faz projetos paralelos

Na escrita de Dal Farra, há o registro do violento, do desconfortável. "Acho o teatro algo meio tosco, meio mal acabado. Não muito delicado. Sei que existe um teatro que tem essa delicadeza, mas ele nunca fez parte do meu imaginário", diz o dramaturgo, que é formado em música e tomou contato com o teatro por meio de seu pai, o encenador e músico Zebba Dal Farra.

Em 2012, Alexandre recebeu o Prêmio Shell-SP de melhor autor por "Mateus, 10". Partindo de referências de "Bartleby, o Escriturário", de Hermann Melville, e "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski, a montagem traz a história do pastor Otávio que, obcecado com o texto bíblico "Mateus, 10", decide formar uma nova doutrina.

Em "Mateus, 10", Alexandre iniciou um estudo de linguagem teatral em que as cenas partem de um pressuposto concreto, mas têm sua concretude expandida por personagens que se colocam em cena de maneira imprevisível. "Não há um aspecto rigorosamente absurdo ou fantástico, como alguém se transformar em uma barata ou um cara começar a vomitar coelhinhos, mas a partir dessa liberdade explodem coisas de dentro das personagens", explica.

"Abnegação", em cartaz na Oficina Oswald de Andrade, no Bom Retiro, segue por esta linha. A peça esmiúça as relações estabelecidas no meandro de um partido político. "Parti de alguns pensamentos meus relacionados ao PT, mas não fiquei só nisso. Me importa muito mais a forma como se dá a reunião deste partido e as relações entre as figuras, que dizem respeito à nossa maneira brasileira de lidar com as coisas", comenta.

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