De Sergio Leone, 'Era Uma Vez no Oeste' é um monumento do cinema

Em 1966, o cineasta italiano Sergio Leone decidiu se aposentar dos faroestes. Havia dirigido três "westerns" em três anos -"Por um Punhado de Dólares" (1964), "Por uns Dólares a Mais" (1965) e "Três Homens em Conflito" (1966), conhecidos como a "Trilogia dos Dólares", ou "Trilogia do Homem Sem Nome" -e sentia que não tinha mais nada a explorar no gênero.

Divulgação
Henry Fonda e Charles Bronson (ao fundo) em cena de "Era Uma Vez no Oeste"
Henry Fonda e Charles Bronson (ao fundo) em cena de "Era Uma Vez no Oeste"

Mas o sucesso da trilogia lhe rendeu inúmeros convites de estúdios hollywoodianos. A United Artists queria que ele dirigisse um faroeste com Charlton Heston. Leone recusou. Mas quando a Paramount lhe prometeu Henry Fonda no papel principal, o italiano cedeu. Leone idolatrava Fonda e alguns dos faroestes que protagonizara desde a década de 1930, como "Jesse James" (Henry King, 1939), "Consciências Mortas" (William Wellman, 1943), "Paixão dos Fortes" (John Ford, 1946) e "Forte Apache" (John Ford, 1948), e não poderia perder a chance de trabalhar com seu herói.

Leone queria fazer um faroeste diferente, que levasse a extremos a visão que havia criado na "Trilogia dos Dólares". Nesses filmes, ele havia subvertido o maniqueísmo do gênero faroeste, criando cenários onde mocinhos e bandidos não eram tão diferentes e o "bem" e "mal" se confundiam. "Era Uma Vez no Oeste" refletiria o "zeitgeist" do fim dos anos 60, época de guerras, conflitos sociais e atentados. O filme seria lançado em dezembro de 1968, meses após os assassinatos de Martin Luther King e Bobby Kennedy.

Leone procurou dois jovens cineastas e roteiristas, Bernardo Bertolucci e Dario Argento, para ajudá-lo na criação da história. Queria um "western" existencialista e misterioso, em que os personagens escondessem segredos terríveis e surpreendessem o espectador. Não seria um "bangue-bangue" repleto de ação, mas um filme lento e contemplativo, que usaria a desolação dos cenários do sul da Espanha e de Utah, nos Estados Unidos, como metáfora da melancolia e desesperança dos personagens.

A escolha do elenco foi perfeita. Henry Fonda, para desespero de seus antigos fãs, acostumados a vê-lo como herói, interpreta um bandido sanguinário, Frank, que mata mulheres e crianças; Jason Robards faz outro meliante, Cheyenne; a lindíssima Claudia Cardinale interpreta uma ex-prostituta que se diz dona de um pedaço de terra que interessa a Frank; e Charles Bronson faz o "Homem Sem Nome", conhecido apenas por "Harmonica", que tem por hábito tocar uma gaita antes de matar seus rivais.

"Era Uma Vez no Oeste" é um monumento do cinema. Um dos filmes mais importantes e representativos, junto a "Bonnie and Clyde" (Arthur Penn, 1967), "Meu Ódio Será Sua Herança" (Sam Peckinpah, 1969) e "O Poderoso Chefão" (Francis Ford Coppola, 1972), daquela época cinzenta. Assisti-lo em blu-ray e em sua versão de 165 minutos é uma experiência marcante.

ERA UMA VEZ NO OESTE * * * *
DIRETOR: Sergio Leone
Distribuidora: Paramount Filmes (DVD: R$ 39,99)

*

CONEXÕES

FILMES

TRILOGIA DO HOMEM SEM NOME * * *
Box que reúne os três filmes da "Trilogia dos Dólares", estrelados por Clint Eastwood.
DIRETOR: Sergio Leone
ESTÚDIO: Fox Filmes (R$ 79,90)

*

MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA * * * *
Se quiser fazer uma sessão dupla longa e inesquecível, reunindo dois dos melhores faroestes do cinema, uma boa pedida é comprar também este clássico de Sam Peckinpah.
DIRETOR: Sam Peckinpah
ESTÚDIO: Warner Home Video (R$ 24,90)

-

LIVRO

VIVIAN MAIER - UMA FOTÓGRAFA DE RUA * * * *
Vivian Maier (Autêntica, R$ 108)
Quando morreu, em 2009, aos 83 anos, Vivian Maier era desconhecida. Os amigos sabiam que ela trabalhara como babá e tinha o hábito de fotografar pessoas na rua. Um dia, John Maloof comprou, num leilão, uma mala com negativos de Maier. Impressionado com a beleza das imagens, começou a divulgar a fotógrafa, hoje comparada a Robert Frank e Helen Levitt. Este livro reúne suas fotos mais marcantes.

-

DISCOS

EL PINTOR * * *
Interpol (Lab 344, R$ 29,90)
Quinto álbum da banda norte-americana liderada pelo cantor Paul Banks. O Interpol surgiu no fim dos anos 1990, influenciado por grupos darks e sombrios do pós-punk, como Joy Division e Siouxsie and the Banshees. "El Pintor" mantém o estilo gótico-chique do Interpol.

*

POPULAR PROBLEMS * * * *
Leonard Cohen (Sony Music, R$ 24,90)
Aos 80 anos, o cantor e compositor canadense Leonard Cohen está na fase mais prolífica da carreira. Este é o segundo disco de estúdio em dois anos e a qualidade das letras e melodias continua imbatível. Baladas lúgubres e de humor negro sobre sexo, morte e romances.

Publicidade
Publicidade