Mascote de bar em Perdizes, papagaio de 24 anos é denunciado e apreendido

O Alfredinho, o Tio, o Risadinha, o Alemão: a clientela do Zé Ladrão está desconsolada há duas semanas. É que levaram embora o papagaio-mascote do boteco.

Desde então, naquele número 478 da rua Apinajés, em Perdizes, região oeste, só se fala da ausência da ave, e no poleiro agora vazio balança o melancólico sulfite: "Onde está o Fred?". Era ali que o louro papagaiava, solto, nas tardes de seus últimos 24 anos. O bar tem 25.

Batizado em homenagem ao cantor Freddie Mercury (1946-1991), o animal foi apreendido pela Polícia Ambiental, que recebeu denúncia anônima, e encaminhado ao centro de recuperação de animais silvestres no Parque Ecológico do Tietê, divisa com Guarulhos -onde foi fichado e agora é o número 17.617. Ele não pode receber visitas.

"Quando o pegaram, falei: 'Vocês estão tirando metade do meu coração'", desabafa José Vicente Rodrigues, 74, o português cujo apelido batiza o bar. "Minha mulher chorou, passei mal três dias... É amor, fazer
o quê? A gente se apega!"

O baque também pegou o Walter, cliente antiquíssimo que leva a alcunha de Papagaio por ser um dos preferidos do Fred. Era ele quem cuidava da ave quando o luso saía em viagens. "O Fred reconhecia meu carro. Sempre tinha que agradá-lo, e eu era o único que o colocava no ombro sem ele sujar", lembra o habitué.

Thays Bittar/Folhapress
Jose Vicente Rodrigues sentado ao balcão de seu bar, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo
Jose Vicente Rodrigues sentado ao balcão de seu bar, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo

Ninguém ali sabe quem abriu o bico. Até chegou-se a desconfiar de um comerciante da área, mas o suspeito jurou não ter sido ele o delator.

A confraria de amigos logo se articulou. O Naná imprimiu os papéis de protesto; o Fernando, que cuida da página do Zé Ladrão no Facebook, colocou a cara do Fred no perfil e espalhou a notícia; até equipe de TV se pôs de prontidão. Na última semana, todos ajudavam na compilação de provas para munir uma advogada e tentar reaver a ave mais amada do quarteirão.

"O Fred era mais querido que o próprio dono", brinca a funcionária de uma farmácia dobrando a rua Caiubi.

Só que, ainda que bem tratado, o animal não tinha licença do Ibama, que não costuma regularizar animais silvestres sem comprovante de origem legal. "Foi presente do cunhado, chegou aqui filhotinho", afirma Zé –papagaios podem viver mais de 60 anos.

Fato é que a lei considera crime manter espécimes silvestres em cativeiro sem autorização, e a reintegração à natureza pode fazê-los procriar, "essencial para a existência da espécie", diz a Secretaria do Meio Ambiente.

De trás do balcão, quem conta do "caçula" tagarelando com crianças e assobiando para moças é o Zé Ladrão. Fechando a porta sob o toldo que anuncia "Bar do Zé L...", quem se despede é um homem reticente.

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