Conheça os odores e aromas peculiares das cinco regiões de São Paulo

Todos os dias, quando sai de sua casa em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, rumo à faculdade em Pinheiros (zona oeste), a estudante Camila Domingues de Oliveira, 23, não deixa passar despercebido nenhum cheiro em seu caminho.

Desde que perdeu a visão devido a um descolamento de retina há dois anos, ela criou para si uma espécie de mapa olfativo. "Para chegar à escola, passo pelos cheiros de açougues e de mercados. Quando sinto a lanchonete, sei que tenho que atravessar a rua", conta. "Logo que perdi a visão, o que mais me chamou a atenção foi a fábrica da Pullman, no caminho para Cotia. O aroma de bolo me alertava para o fim da rodovia Raposo Tavares."

Para quem não precisa se locomover guiado pelo olfato ou não é especialista no assunto, pode ser difícil sentir alguns aromas da cidade. Além da falta de atenção, a poluição e o ar seco prejudicam esse sentido, segundo Fernando Veiga, professor da Faculdade de Medicina do ABC.

Ele afirma que a fumaça de carros compete com outras moléculas odoríferas. "Numa área poluída, fica difícil sentir o cheiro das árvores."

Apesar da sujeira no ar, São Paulo conta histórias e reaviva memórias por meio de seus cheiros. Locais como a fábrica de biscoitos Petybon, na Lapa (zona oeste), marcaram gerações. O cheiro dos produtos assando saía pelas chaminés e inundava o bairro com um aroma de baunilha e farinha tostada. "Era inebriante. Uma tia minha, quando grávida, tinha desejo de passar por lá só para sentir aquele perfume reconfortante", lembra Sonia Corazza, engenheira química especializada em cosmetologia (que trabalha com produtos de higiene e beleza).

Paulistana de 56 anos e moradora da zona oeste, ela tem muitas lembranças olfativas da capital de outros tempos. "Na Lapa, perto da rua Tito, ficava a fábrica Melhoramentos, com sua imensa gráfica. O odor era de tinta e anunciava os novos cadernos e livros para o ano letivo."

Na rua Padre Chico, na Pompeia, funcionava a fábrica de brinquedos Trol, onde o cheiro nos arredores era das substâncias químicas do plástico, que passou a ser associado por crianças da época a brinquedos novos. Ainda no bairro, na avenida Pompeia, ficava o depósito de bebidas da Antarctica. "Quando as garrafas de refrigerante quebravam, liberavam um odor adocicado e efervescente no ar", lembra Corazza.

Para ela, com o fechamento de alguns desses locais, a cidade perdeu parte de seus cheiros peculiares ao longo das últimas décadas.

Entre os motivos estariam a debandada de muitas fábricas para regiões periféricas e a regulamentação da emissão de odores. A Cetesb (companhia ambiental do Estado) é responsável por fiscalizar "a emissão de substâncias odoríferas na atmosfera, em quantidades que possam ser perceptíveis fora dos limites da área de propriedade da fonte emissora".

"Atualmente, a maioria das padarias e pizzarias funciona com fornos elétricos e muitos filtros. Há um lado bom, que é a melhora do ar, mas é uma perda da paleta olfativa tão rica que tínhamos", afirma Corazza.

A centenária Basilicata, no Bexiga, é um exemplo. Ali, os três fornos a lenha têm filtros que inibem a emissão de fumaça e de odores. "É melhor para quem mora perto e ainda dá para sentir o cheiro do pão da calçada", conta Antônio Laurenti Neto, 59, dono do local. Ele diz que é possível ser fisgado também pelo aroma dos restaurantes vizinhos, como o da preparação do molho de tomate da cantina Roperto ou da carne assando na churrascaria Templo da Carne.

O cheiro do ralo
Na região do Horto Florestal (zona norte), córregos alastram odor de esgoto pelas ruas. Apesar disso, José Carlos Marins, 58, não hesitou na hora de montar sua barraca de pastel. "Quem mora aqui não se incomoda mais", diz ele, que mantém o negócio há 17 anos em frente a um dos trechos onde corre a água suja.

Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, o problema é amenizado com a limpeza dos córregos, feita periodicamente.

Nas margens dos rios Pinheiros e Tietê, é impossível não se incomodar com o odor das águas. O mau cheiro é formado por todo tipo de lixo, desde o que é jogado pela população até o esgoto que não recebeu tratamento, vindo da capital paulista e de cidades da região metropolitana, como Mauá. Segundo o relatório "Qualidade das Águas Superficiais", divulgado pela Cetesb no ano passado, 40% do esgoto do Estado de São Paulo ainda não é tratado.

Acompanhada de especialistas, a sãopaulo circulou pelas regiões da capital para mapear alguns dos cheiros peculiares da cidade:

Região central tem concentração de odores de diversos tipos de lojas

Zona leste tem praça com aroma de cachorro-quente e shopping com cheiro de chá

Zona oeste tem parques com bichos e clima de cidade do interior

Zona norte tem frescor de árvores e cheiro de biscoito

Zona sul é mistura de cheiro de bichos, plantas, restaurantes e lojas

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