Carioca usa obra de arte no MAM para pedir noiva em casamento; veja vídeo

O proclame era alarmante, vigoroso:

"PROCURA-SE casal apaixonado que noivou dia 1º/10/2014 à tarde no MAM".

Publicado no perfil do Museu de Arte Moderna de São Paulo no Facebook, trazia uma imagem de bolinhas com letras coloridas formando a frase "quer casar comigo?". A elas se sucediam outras, dispostas de forma singela, quase infantil: "sim".

O chamado atraiu centenas de curtidas, comentários, compartilhamentos. Afinal, quem seria aquele casal?

Anderson Tinoco Nunes tinha a ideia há muito fechada: em férias na capital paulista vindos de Niterói, no Rio de Janeiro, ele e a namorada, Raísa Martins, visitariam a igreja de São José, no Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo.

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Sugestão dele; a bióloga de 26 anos, nascida em Magé, é devota do santo desde uma graça alcançada.

Lá, Anderson a presentearia com alianças e a pediria em casamento. Coroaria um ano e meio de um namoro que nasceu fulminante quando um primo, a fim de sair com uma amiga de Raísa, achou boa ideia unir mais um casal no encontro romântico.

O plano era perfeito, mas os caminhos do amor, sinuosos: a igreja estava fechada na hora da visita. A agenda do dia era corrida e, para piorar, o precavido contador de 32 anos já tinha gravado nas alianças aquela data: 1º de outubro.

"O plano A falhou. Ferrou tudo, estava tão perfeitinho!", lembra Anderson, hoje aos risos. Naquela hora de apuro, contudo, sobrou até pro santo: "Pensei: 'São José, ajuda aí, pô!'".

Por intervenção do divino ou puro instinto, ele manteve a programação e rumou com a (ainda) namorada ao parque Ibirapuera. "Para não dar na cara", diz, e também porque, afinal, "no hotel ou num restaurante não seria tão bonito".

Uma vez no parque, eles começaram o passeio pelo MAM. "Ao acaso", lembra Raísa. Ela não fazia ideia do que estava por vir.

O lugar apresenta até 14/12 a mostra "Mal Entendidos", da artista mineira Rivane Neuenschwander, expoente da arte contemporânea no Brasil.

Uma de suas instalações, "Palavras Cruzadas", é uma sala com recipientes rasos contendo bolinhas com letras que, à intervenção do público, formam vocábulos.

Foi o suficiente para Anderson. "Quando vi aquela exposição, pensei 'muito obrigado, São José, é aqui mesmo!'".

O momento foi registrado em vídeo -veja acima. Já no pleno desígnio da paixão, Anderson inventa uma desculpa para tirar da sala a mulher da sua vida. "A gente estava ali brincando e ele de repente falou que era pra eu ir ver o resto da exposição", diz Raísa.

Ela foi. Sozinho na sala expositiva com um funcionário do MAM que, ao acaso (sempre ele...), filmava a mostra naquele dia, ele levou o plano a cabo: uma bolinha aqui, outra ali, a cobiçada interrogação e...

Anderson sai da sala, busca Raísa e a traz de volta: "fiz uma coisa pra você, vem cá". Ao ver o pedido, ela se vira e vê nas mãos dele uma pequena caixa aveludada. Entreaberta, ela revelava, fulgurante, um par de alianças.

"Olha... Não sei descrever. Eu não esperava e achei lindo, lindo. Lindo", emociona-se Raísa. Ela lamenta não se lembrar de mais detalhes da exposição, porque "depois daquilo fiquei meio desnorteada".

Já Anderson achou a mostra e suas abstrações "muito bacanas". Mesmo em meio ao turbilhão mental que antecedeu o momento, ele se divertia em pensar que "a autora provavelmente nem imaginou que suas artes seriam tão frutíferas".

A mostra se chama "Mal Entendidos", mas os truques da arte conceitual e contemporânea aparentemente não são páreos para o amor.

*

Em tempo: ao pedido da reportagem por fotografias do casal, por e-mail, Raísa respondeu: "agradecemos muito por vocês registrarem nossa história, pois estamos guardando tudo para mostrar para nossos futuros filhos. Será lindo poder recordar tudo isso com eles".

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