Diretoria do Masp quer tirar feira de antiguidades do vão-livre do museu

Há 35 anos no vão-livre do Masp, a feira de antiguidades da Paulista pode estar à beira do despejo. "De nossa parte, já temos o consenso necessário", disse à sãopaulo, na terça (14), Heitor Martins, 46. Empresário que já geriu a Fundação Bienal, ele é o novo diretor-presidente do Masp.

Aventada no passado, a ideia de remover o evento agora parece madura. Ela viria na esteira da renovação do museu, que neste ano ganhou novos diretores, mecenas e estatuto. O mote se materializa em medidas como a construção de um anexo no quarteirão ao lado e a retomada dos cavaletes de vidro, ambas ao encontro do projeto original de Lina Bo Bardi (1914-1992).

A parceria com o Itaú, novo "patrocinador master" do museu, fortalece o temor dos expositores de que o espaço seja usado para outros tipos de evento e de exposições. Procurado, o banco preferiu não se manifestar a respeito.

Na manhã do último domingo (12), a possível perda do teto dominava o papo de donos das 105 tendas da feira. "Fiquei sabendo pelo seu jornal", reclamou Luiz Henrique Andrade de Souza, 47, presidente da Aaesp (Associação de Antiquários do Estado de São Paulo), órgão responsável pela organização e infraestrutura da atração.

Ele cita notícia da Folha de 9/10, da qual distribuiu cópias destacando que "Está em curso negociação com a prefeitura para reaver o vão-livre".

Aos domingos, das 9h às 17h, o evento reúne antiquários, que buscam e avaliam obras raras, e vendedores de antiguidades. Ali, curiosos e colecionadores compram de gramofones a bustos, passando por joias, louças e arte popular, a valores entre R$ 10 e R$ 6.000. Da montagem à segurança, a feira é organizada com o rateio de despesas entre os associados –cerca de R$ 350 mensais, diz Souza.

"Tirar a feira é não conhecer sua história", diz o gestor da Aaesp, que tem como patrono Pietro Maria Bardi (1900-1999), marido de Lina e fundador do museu. Heitor Martins discorda: "A Lina concebeu o vão-livre como espaço de mediação entre o museu e a cidade. Lá eram realizados concertos, mostras, sessões de cinema, shows; a Daniela Mercury tocou no vão. Nosso desejo é o de retomar essa vocação".

A proposta do museu, ele diz, deve ser apresentada "nos próximos 20 ou 30 dias" ao poder público. Desde setembro, os secretários municipal e estadual de Cultura, além de empresários e acadêmicos, integram o Conselho Deliberativo do Masp.

Como o próprio Martins reconhece, a área do vão-livre não pertence ao Masp. Lei de 2013 concede à instituição o uso da área das escadas e elevadores -a Aaesp possui permissão municipal de uso dominical desde 1981.

A prefeitura afirmou que ainda não foi oficialmente procurada pelo Masp. Questionada, a Subprefeitura da Sé adiantou não ter interesse em "deslocar a tradicional feira" de lá.

A Secretaria Estadual de Cultura diz que "o secretário foi informado na última reunião, assim como os demais conselheiros, da intenção da diretoria". A proposta, segundo a nota, se insere na nova política cultural do museu, mas "demandará cuidadosa análise em função do impacto" neste "tradicional evento paulistano".

Sem ter para onde ir em caso de retirada, os feirantes se afligem. "A reunião tem valor turístico e sustenta muita gente", diz a israelense Rachel Mayo, 65, há 20 anos vendendo ali. Ela apela: "Temos que ser ouvidos".

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