Comédia musical surpreende com visual impactante e humor nonsense

Anos atrás, nos Estados Unidos, uma mulher levou um tiro de um ex-namorado ciumento e mesmo assim quis reatar com ele. Mara Carvalho leu sobre isso, ficou chocada e decidiu escrever "As Damas de Paus", em cartaz no Teatro Fernando Torres. O ser humano é esquisito e capaz de tudo, diz a peça.

A comédia musical chama a atenção logo de cara, com os créditos do elenco projetados no palco e um clima de cinema. O cenário, a maquiagem e os figurinos lúdicos dividem espaço com diálogos ácidos e divertidos sobre morte, culote, sexo e academia.

A história mostra três irmãs que aguardam a chegada da filha de uma delas para iniciar o tradicional jogo de cartas semanal. Enquanto esperam, elas falam sobre matar maridos, riem, discutem e surtam. Conversa de doido.

No time das mulheres, além de Mara, estão em cena Liane Maya, Andrezza Massei e Carol Costa. Já os atores Arthur Berges, Guilherme Delazzari, Murilo Armacollo e Pier Marchi interpretam as "sombras" das personagens.

Na direção está Kleber Di Lazzare.

A ideia de incluir música ao vivo surgiu no meio do processo, segundo a autora, para "reforçar as tintas da loucura". A banda faz um espetáculo pop misturando ritmos com samba e tango, e com toques de Stravinsky [compositor russo] —e conta com Thiago Gimenes (que fez as melodias), Marcelo Pizzotti, Eduardo Hopper, Ski Martins e Germano Morazza.

A montagem levou três anos para sair do papel. Para Carlos Martin, que estreia como produtor mas possui dez anos de experiência em musicais, o trabalho de produção não é tarefa fácil. "Ter um produto bom não significa nada, cada etapa é uma grande luta. Conseguir pauta em teatro está quase impossível, você acaba ficando anos na fila", diz o artista.

"E hoje o custo é tão alto, os ingressos tão baratos e a frequência do público tão baixa que fica impossível colocar uma peça em cartaz sem patrocínio." Para ele, o essencial é ter sempre ao lado profissionais comprometidos e fazer arte com amor. "Se não tivermos algo maior dentro de nós, a dificuldade pode, com certeza, nos tirar do caminho."

O Teatro Fernando Torres, na zona leste, levou quatro estrelas na avaliação da sãopaulo —para quem acha fora de mão, ele fica a cerca de 11 km no centro, enquanto outros tradicionais, como o Alfa, ficam a 20 km.

No próximo sábado (8/11) haverá uma sessão com tradução em libras.

Informe-se sobre o evento

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LEIA BATE-PAPO COM MARA CARVALHO

Depois de saber que uma mulher quis reatar com o ex-namorado que lhe deu um tiro, sua ideia foi mostrar a loucura que nos cerca?
Mara Carvalho - Sim, fiquei tão chocada com a reação daquela mulher! Hoje, infelizmente, vemos histórias como essas acontecerem muito próximo de nós e com muita frequência. Acabamos de ver um casal que matou o filho de 11 anos, temos aí o Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniela Perez, o goleiro que matou a mãe do próprio filho e jogou seu corpo aos cães! E tantos outros. Nem imaginamos que aquele que compartilha o dia a dia conosco, e com quem temos tanta intimidade, tem disposição pra tirar nossa vida! O ser humano é esquisito e capaz de tudo.

A intenção desde o começo já era fazer uma comédia musical ou só depois que foram surgindo as ideias das músicas ao vivo?
A ideia da musica veio depois, achei que, com a musica, o espetáculo ficaria mais palatável e permitiria reforçar as tintas da loucura, além de mais poético dentro do que se propõe.

Você acha que um pouco de loucura faz bem? Até que ponto?
Acho que aquilo que chamamos de "loucura" no sentido de se arriscar, de quebrar regras e paradigmas pode ser bem interessante. A peça vai para um outro patamar, que podemos chamar de esquizofrenia, onde toda a capacidade emocional fica reduzida e comprometida. Nos esquizofrênicos, a membrana entre a imaginação e a realidade é tão porosa que ter uma ideia não se distingue muito de ter uma experiência, e é ai que mora o perigo.

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